Você já deve ter se deparado com editais de concursos exigindo conhecimentos sobre animais sinantrópicos, não é mesmo? Esse tema é muito comum nas provas para cargos em prefeituras, em que o controle desses animais é de extrema importância para a saúde pública. 

Então vamos estudar os detalhes exigidos pelas bancas de seleção?

Conhecer sobre as características de aranhas, roedores, morcegos, pombos, escorpiões entre outros, torna-se fundamental para a prevenção de doenças e agravos causados por esses animais. 

Animais Sinantrópicos

Animais sinantrópicos são aqueles que se adaptaram a viver junto ao humano, a despeito da vontade deste.

Destacamos, dentre os animais Sinantrópicos, aqueles que podem transmitir doenças ou causar agravos à saúde do ser humano, ou a outros animais como:

  • ratos;
  • pombos;
  • morcegos;
  • baratas;
  • escorpiões;
  • aranhas;
  • entre outros.

Precisamos nos lembrar também das arboviroses (embora este seja assunto para um outro texto), que são doenças causadas pelos vírus transmitidos por artrópodes como febre-amarela, o vírus da dengue, Zika vírus e Chikungunya. 

Roedores

Vamos falar um pouco sobre alguns roedores sinantrópicos comensais, isto é, aqueles que dependem unicamente do ambiente do ser humano.

Das espécies sinantrópicas comensais, a ratazana (Rattus norvegicus), o rato de telhado (Rattus rattus), e o camundongo (Mus musculus), são particularmente importantes por terem distribuição cosmopolita e por serem responsáveis pela maior parte dos prejuízos econômicos e sanitários causados ao homem. 

Animais sinantrópicos - Ratos

Agora vamos esquematizar as principais doenças transmitidas por roedores ao ser humano, estamos considerando as principais espécies comensais, mas outras espécies também podem ser hospedeiras de agentes patogênicos. Observe o quadro abaixo:

Animais sinantrópicos - Doença de Ratos

Morcegos

Os morcegos são os únicos mamíferos com capacidade de voar, devido à transformação de seus braços em asas.

Representam a segunda maior ordem dos mamíferos, com 1.198 espécies.

Apresentam uma gestação de 2 a 7 meses, dependendo da espécie, sendo que, geralmente, nasce um filhote por gestação.

Os morcegos possuem expectativa de vida alta, variando entre 10 e 30 anos, porém há registros de espécies insetívoras com 40 anos.

Os morcegos não costumam “atacar”, mas independente do seu hábito alimentar, mordem quando perturbados ou indevidamente manipulados. As principais doenças transmitidas pelos morcegos são:

Raiva

Transmitida principalmente pela mordida de morcegos infectados ou doentes;

Histoplasmose

Transmitida pela inalação dos esporos de fungos (Histoplasma capsulatum) presentes nas fezes de morcegos. O acúmulo de fezes de morcegos e aves em locais com condições adequadas, como, por exemplo, forro de edificações, pode propiciar o crescimento do fungo, causando àqueles que inalarem os esporos a doença respiratória.

Animais Sinantrópicos – morcegos: questão teste

Vamos treinar uma questão sobre morcegos da banca UEG/2019 para docente Médico Veterinário: 

A necessidade de se realizar o controle de morcegos hematófagos é devido principalmente a participação destas espécies na epidemiologia de algumas doenças. Em relação aos morcegos e a sua participação no ciclo de algumas doenças, julgue os itens abaixo e marque a alternativa correta:

I) Os morcegos hematófagos são importantes transmissores de doenças como a babesiose e a anaplasmose em bovinos, já que sugam o sangue de um animal e posteriormente inoculam em outro.
II) Os morcegos insetívoros e frugívoros não participam do ciclo da raiva em nenhuma hipótese, pois não se alimentam de sangue.
III) Os morcegos não adoecem pelo vírus da raiva, sendo extremamente resistentes a esta enfermidade.
IV) Os morcegos são importantes na transmissão da histoplasmose para os seres humanos

a) Todas são consideradas verdadeiras.
b) II, III e IV estão incorretas.
c) I, III e IV estão corretas.
d) I, II e III estão incorretas.
e) I e II estão corretas.

Se você marcou alternativa d, acertou!

Pombos

A infestação de áreas urbanas geralmente se dá pela espécie Columba livia (pombo-doméstico) pertencente à família Columbidae da ordem Columbiformes.

São aves de origem europeia, mas são encontradas no mundo todo, com exceção das regiões polares. Nos centros urbanos, podem viver aproximadamente de 3 a 5 anos e, em condições de vida silvestre, 15 anos.

Além da histoplasmose já descrita, os pombos podem ser transmissores de outras doenças, destacando-se:

Criptococose

Doença pulmonar ou disseminada causada pela inalação de fungos do gênero Cryptococcus presentes nas fezes dos pombos.

A variante C. neoformans, de caráter oportunista, representa a principal causa de meningoencefalite e morte em indivíduos com a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS).

Psitacose, Ornitose ou Clamidiose

Doença infecciosa causada pela bactéria Chlamydia psittaci.

A transmissão da C. psittaci ao homem ocorre por contato direto com secreção respiratória de aves infectadas e pela inalação durante o manuseio de penas, fezes secas e tecidos infectados.

Baratas

As baratas são consideradas vetores mecânicos de vários agentes patogênicos como fungos, bactérias, vírus, adquiridas quando percorrem esgotos e lixeiras ou outros lugares contaminados.

Nas questões de concursos a banca costuma explorar as espécies das baratas mais comuns nos ambientes domésticos e em indústrias processadoras de alimentos.

Animais sinantrópicos - Baratas

Aranhas

Em relação aos gêneros de importância em saúde pública no Brasil e, consequentemente, alvos das questões de concursos, deve-se ter conhecimentos das descritas no quadro abaixo:

Pragas urbanas - Aranhas

Serpentes

O envenenamento decorrente da picada de serpentes é chamado de acidente ofídico ou ofidismo. No Brasil, as serpentes de interesse em saúde pública pertencem às famílias Viperidae e Elapidae.

Pragas urbanas - Cobras

Escorpiões

Os escorpiões são da classe dos aracnídeos e, no Brasil, as seguintes espécies do gênero Tityus são de importância em saúde pública.

A maioria dos acidentes provocados por animais identificados foi atribuída ao escorpião-preto, Tityus bahiensis (27,7%), e ao amarelo (19,5%) (Batista, 2016).

Escorpiões

Animais Sinantrópicos – escorpiões: questão teste

Veja essa questão do concurso para Médico Veterinário da Prefeitura de Cabo de Santo Agostinho (2019) da banca IBFC: 

Há medidas de controle e manejo populacional de escorpiões. Quanto às formas de controlar a ocorrência desses aracnídeos, assinale a alternativa correta:

a) Na área externa do domicílio, recomenda-se a realização de queimadas em terrenos baldios, o que faz com que esses aracnídeos se mantenham alojados em suas tocas.
b) Na área interna do domicílio, devem-se manter todos os pontos de energia e telefone sem vedação.
c) Eliminar fontes de alimento para os escorpiões: baratas, aranhas, grilos e outros pequenos animais invertebrados nas áreas externas do domicílio.
d) Não se recomenda telar as aberturas dos ralos, pias ou tanques nas áreas internas do domicílio.

Se você respondeu alternativa c, acertou. Baratas são fontes de alimento para escorpiões.

Podemos aumentar a dificuldade com a questão abaixo, da mesma banca, mas para Médico Veterinário da SES-PR em 2016:

A importância dos acidentes por animais peçonhentos para a saúde pública pode ser expressa pelos mais de 100 mil acidentes e quase 200 óbitos registrados por ano, decorrentes dos diferentes tipos de envenenamento. Destes, o escorpionismo vem adquirindo magnitude crescente, correspondendo em 2007 a 30% das notificações, e superando em números absolutos os casos de ofidismo. Ainda sobre escorpiões, analise e classifique as afirmativas abaixo em falsas (F) ou verdadeiras (V) e a seguir assinale a alternativa que contenha a sequência de classificação correta, respectivamente.

( ) A espécie Tityus bahiensis reproduz-se por partenogênese. Assim, só existem fêmeas e todo indivíduo adulto pode parir sem a necessidade de acasalamento.

( ) Cada mãe da espécie T. serrulatus tem aproximadamente dois partos com, em média, 20 filhotes cada, por ano, chegando a 160 filhotes durante a vida.
( ) É necessário controlar as populações de escorpiões pelo risco que representam para a saúde humana, já que a erradicação dessas espécies não é possível e nem viável. No entanto, o controle pode diminuir o número de acidentes e, consequentemente, a morbimortalidade.
( ) A intervenção para o controle de escorpiões consiste na busca ativa em todo e qualquer imóvel (área interna e externa) visando a captura de exemplares, conhecimento e manejo dos ambientes propícios à ocorrência e proliferação desses animais e conscientização da população.

a) V,V,V,V
b) V,F,V,F
c) F,V,V,V
d) F,F,V,V

Mais complicada, não é? A alternativa correta é a c. Observe que é muito importante a leitura atenta do edital e a análise das funções do cargo em que você está concorrendo, assim poderá direcionar seus estudos, aprofundando ou não, nas características de cada espécie.

Se for necessário, o Ministério da Saúde disponibiliza o Manual de Controle de Escorpiões para consulta. 

Controle Integrado de Vetores e Pragas em Áreas Urbanas

Vamos descrever o que mais foi cobrado em provas anteriores.

Roedores

As particularidades do controle químico de roedores merece especial atenção, para tanto, é importante conhecer os conceitos:

  • Antiratização: medidas para evitar a proliferação dos ratos, isto é, eliminar os fatores básicos: água, alimento, abrigo e acesso;
  • Desratização: controle realizado através de substâncias químicas, naturais ou sintéticas, os chamados rodenticidas. 

Sobre os rodenticidas é importante saber que a ANVISA proíbe aqueles que contenham alfanaftiltiouréia (ANTU), arsênico e seus sais, estricnina, fosfetos metálicos, fósforo branco, monofluoroacetato de sódio, monofluoroacetamida, sais de bário e sais de tálio. Esse assunto já foi alvo de questões.

A Warfarina, também chamada no Brasil de cumafeno, é um composto com ação anticoagulante e foi o primeiro de uma série de substâncias correlatas que acabaram constituindo o grupo dos hidroxicumarínicos e têm sido amplamente utilizados como rodenticidas com enorme sucesso. Um pouco mais tarde, foi sintetizado um segundo grupo de anticoagulantes, os derivados da indandiona (ou indandiônicos). 

Os raticidas anticoagulantes agem por inibição da síntese de protrombina, um dos fatores essenciais no mecanismo da coagulação sanguínea; dessa forma o sangue do roedor não coagula mais e sua morte ocorre em decorrência de hemorragias internas (pulmonares e/ou mesenteriais). Além disso, esses compostos têm uma ação danosa sobre a parede dos vasos capilares, proporcionando o início das hemorragias. 

  • Os indandiônicos: pindona, isovaleril indandiona, difacinona e a clorofacinona;
  • Os hidroxicumarínicos: são divididos em dois subgrupos de acordo com sua forma de ação:
    • hidroxicumarínicos de dose múltipla (ou de primeira geração): cumafeno (warfarina) e rodenticidas à base de cumatetralil e cumacloro.
    • hidroxicumarínicos de dose única (ou de segunda geração): brodifacoum, bromadiolone, flocoumafen e o difetialone.

Pombas

Em relação às pombas, devemos ressaltar que é uma espécie sinantrópica passível de controle por órgãos de governo e, ainda, por pessoas físicas ou jurídicas, as quais devem solicitar autorização para o controle, junto ao órgão ambiental – segundo a Instrução Normativa do IBAMA nº 141/2006.

Este controle, por sua vez, deve enfatizar as ações de alteração dos recursos utilizados por estes animais, com a intenção de alterar sua estrutura e composição, ou seja, reduzir ou eliminar fontes de alimento e abrigo (um bom material para aprofundar o estudo é o Guia de Manejo e Controle de Pombas Domésticas do Governo do Rio Grande do Sul).

Leia também: Concursos: tudo que você precisa saber sobre Leishmaniose

Muito bem, com todos os itens descritos no texto, agora é treinar e treinar…resolver o máximo de questões e sempre retomar a teoria.

Mas lembre-se, sempre analise muito bem seu edital para direcionar seus estudos. Muitas vezes a prefeitura que abriu o concurso possui materiais sobre o controle de animais sinantrópicos disponíveis para consulta.

E caso ainda tenha dúvidas ou dificuldades, conte sempre com o IFOPE para te auxiliar nos estudos.

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Até a próxima.

Autoria da redatora do Ifope:
Tereza Abujamra

REFERÊNCIAS

Batista, Everton Lopes. Por que os escorpiões agora preocupam. Pesquisa FAPESP, edição 247, set. 2016. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/por-que-os-escorpioes-agora-preocupam/. Acesso em: 26/06/2020 
Brasil. Fundação Nacional de Saúde. Manual de controle de roedores. – Brasília: Ministério da Saúde, Fundação Nacional de Saúde, 2002. 132p. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_roedores1.pdf. Acesso em: 26/06/2020
Guidolin, Felipe Raimondi; Ferrete, Bruno Lopes da Silva; Nishida, Silvia Mitiko. Animais Sinantrópicos. Escorpiões: importância médica e biológica. Disponível em: https://www2.ibb.unesp.br/Museu_Escola/2_qualidade_vida_humana/Animais_domesticos_sinatropicos/escorpiao/interesse_medico_biologia.htm. Acesso em: 26/06/2020
Machado, Claudio. Acidentes ofídicos no Brasil: da assistência no município do Rio de Janeiro ao controle da saúde animal em instituto produtor de soro antiofídico. Tese (Doutorado) – Instituto Oswaldo Cruz, Pós-Graduação em Medicina Tropical, Rio de Janeiro, 2018. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/27452. Acesso em 26/06/2020
Ministério da Saúde. Acidentes por animais peçonhentos. Disponível em: http://saude.gov.br/saude-de-a-z/acidentes-por-animais-peconhentos Acesso em: 26/06/2020