Você já ouviu falar em conservantes alimentares? Conhece os principais aditivos utilizados na indústria alimentícia? Sabe por que são utilizados e em quais alimentos? Leia o texto abaixo e fique por dentro do assunto!

O que são conservantes alimentares?

Os conservantes alimentares são substâncias químicas, naturais ou sintéticas, adicionados a determinados alimentos com a finalidade de preservar ou de melhorar as características organolépticas e aumentar seu tempo de vida útil

As características organolépticas são aquelas percebidas e avaliadas pelos sentidos humanos: cor, odor, textura, maciez, sabor. Elas impactam diretamente no aspecto do produto final, causando atração ou repulsa ao consumidor. 

O aumento do tempo de conservação, por sua vez, ocorre por meio da diminuição da ação de microrganismos deteriorantes e patogênicos. 

Tipos de microorganismosDefinição
Microorganismos deteriorantesCausam alterações químicas prejudiciais, ocasionando a “deterioração microbiana”. A deterioração resulta em alterações de cor, odor, sabor, textura e aspecto do alimento.
Microorganismos patogênicosRepresenta risco à saúde do consumidor, seja ele humano ou animal, uma vez que são causadores de doenças. As características das doenças ocasionadas por eles dependem de uma série de fatores inerentes ao alimento, ao microorganismo em questão e ao indivíduo afetado.
Fonte: USP

Tipos de conservantes alimentares

Antimicrobianos

Atuam inibindo o crescimento e destruindo microrganismos que possam alterar a qualidade de um produto. Exemplo: sal.

Antioxidantes

Impedem a oxidação do alimento. Um dos antioxidantes mais utilizados na indústria alimentícia é o ácido ascórbico (vitamina C).

Inibidores enzimáticos

Atuam em enzimas, impedindo que elas acelerem reações que alteram o estado físico e químico de produtos.

Principais conservantes e seus métodos de conservação

Naturais

Adição de açúcar

Método bastante utilizado para a fabricação de geleias e doces caseiros.

Consiste na adição da substância a fim de reduzir a atividade de água (Aw) do alimento, deixando o meio menos propício para o crescimento e multiplicação dos microrganismos.

Desidratação

Também consiste na diminuição da atividade da água (Aw).

Método simples utilizado para a conservação de frutas, legumes e para alguns tipos de carne, charque e carne de sol, por exemplo.

Pode ser feita por meio da adição de sal, pela exposição ao sol ou mesmo por utensílios, como forno e microondas. 

Resfriamento

Método amplamente utilizado nas indústrias e em todas as etapas de fabricação dos alimentos, bem como nas residências.

Consiste na redução de reações químicas responsáveis por alterações nos alimentos e consequente deterioração que ocorre devido à multiplicação microbiana.

A temperatura ideal do resfriamento ocorre por volta dos 5oC e a eficácia do método ocorre pela redução drástica da temperatura favorável à multiplicação dos microrganismos patógenos/deteriorantes.

Congelamento

Princípio semelhante ao da refrigeração, porém o método é mais eficaz, pois praticamente anula a ocorrência das reações químicas. Pode levar a alterações sensoriais dos alimentos.

Atenção! Tanto o resfriamento quanto o congelamento são INCAPAZES de destruir os microrganismos deteriorantes/patogênicos presentes nos alimentos. Eles apenas impedem/dificultam a multiplicação deles!

Pasteurização

Técnica muito utilizada em laticínios, objetiva a destruição de microrganismos patogênicos.

O alimento passa por um tratamento térmico, atingindo temperatura superior a 100°C e posteriormente passa por uma diminuição drástica de temperatura.

O método é considerado muito eficaz, pois inativa enzimas e destrói bactérias patogênicas, bolores e leveduras sem modificar significativamente o valor nutritivo e as características sensoriais do alimento.

Além disso, é capaz de prolongar a vida de prateleira dos alimentos, em função da redução das taxas de alterações microbiológicas e enzimáticas. 

Sintéticos

Ácido sórbico e seus derivados

Bastante utilizado em alimentos de alto valor nutricional e de pH menor que 6,5, como em:

  • queijos;
  • carne;
  • produtos a base de peixe;
  • pães;
  • e produtos de confeitaria.

O ácido ascórbico age inibindo o desenvolvimento de bolores e de leveduras, possuindo pouca ou nenhuma atividade sobre as bactérias.

Dessa forma, seu uso é contra indicado para fabricação de alimentos fermentados, uma vez que a tecnologia desses alimentos requer leveduras para seu desenvolvimento.

O sorbato de potássio incorpora-se aos produtos diretamente ou por meio do tratamento das superfícies, como  pulverização ou submersão.

Usa-se geralmente um grama de sorbato de potássio por quilo de produto. A dosagem padrão é de 0,05% a 0,2%. 

Ácido benzóico e seus sais

Foram os primeiros conservantes permitidos pelo Food and Drug Administration (FDA).

Por apresentar baixo custo, o ácido benzóico e seus sais (Na e K) constituem os conservantes mais utilizados na indústria alimentícia.

São bactericidas e fungicidas e atuam nos alimentos com pH inferior a 4,2.

Embora o ácido benzóico não dissociado seja mais eficiente que seus sais, normalmente utiliza-se benzoato de sódio para conservação dos alimentos.

Uma vez que age sobre leveduras, não pode ser utilizado na produção de alimentos fermentados, como iogurtes.

É bastante utilizado em:

  • salada de frutas;
  • geleias;
  • doces;
  • margarinas;
  • balas;
  • tortas de fruta;
  • molhos, etc.

A dosagem habitual é de 0,05% a 0,1 %.

Ácido lático e seus sais

O ácido láctico e seus sais, os lactatos de sódio ou de potássio, atuam como agentes bacteriostáticos, aumentando o tempo de latência dos microrganismos e/ou diminuindo sua taxa de crescimento.

Reduzem também a atividade da água (Aw), fator que contribui para inibição do desenvolvimento bacteriano, aumentando assim o tempo de conservação dos alimentos.

Numerosos estudos mostram o efeito inibidor dos lactatos contra certo número de microorganismos patógenos (Salmonella, Listeria, Staphylococcus, Clostridium).

É bastante utilizado na indústria alimentícia com a finalidade de acentuar o sabor de determinados alimentos, como em iogurtes e em outros produtos fermentados.

A dosagem normalmente usada está na faixa de 0,05% a 2%. 

Nitritos e nitratos

Os sais de nitrito e de nitrato, especialmente de sódio e de potássio, são bastante utilizados na indústria cárnea, na confecção de embutidos, de pernis, de palhetas e de outros produtos cárneos.

Realçam cor, sabor e textura dos alimentos, além de atuarem como antioxidante

Na carne, reagem com a mioglobina, originando a nitromioglobina, responsável pela sua cor característica.

Apesar do perigo de toxidade pela formação da metahemoglobina e das nitrosaminas, nitratos e nitritos são muito importantes para o preparo de produtos curados, porque ajudam a evitar o crescimento do Clostridium botulinum

O nitrito não impede a germinação dos esporos (apenas em concentrações muito elevadas), mas evita o crescimento dos esporos germinados, inibindo a multiplicação das células vegetativas. É mais ativo em anaerobiose.

Nisina

Antibiótico obtido a partir de culturas de cepas de Streptococcus lactis.

É muito utilizada nos alimentos, principalmente em queijos processados.

Apresenta eficácia restritiva, uma vez que age apenas sobre bactérias Gram positivas, perde sua atividade em pH 4 e em temperatura abaixo de 20oC, além de ser imobilizada por gorduras e outros compostos alimentícios.

No entanto, associada ao ácido ascórbico e seus sais, apresenta amplo espectro antimicrobiano, quase sem falhas.

Sua  eficácia também é incrementada pela adição de agentes complexantes, tais como os EDTA, os citratos e os fosfatos. 

Glutamato monossódico (GMS)

Trata-se de um aminoácido não essencial amplamente encontrado na natureza, utilizado na indústria com objetivo de melhorar a palatabilidade de diversos produtos alimentícios, como carnes e vegetais industrializados.

Sua obtenção ocorre por meio da fermentação das bactérias Corynebacterium glutamicum, Brevibacterium lactofermentum e Brevibacterium flavium. 

O uso de aditivos alimentares na saúde do consumidor

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa é responsável por especificar o limite máximo dos aditivos em cada categoria alimentar.

Segundo a Anvisa, “embora sob o ponto de vista tecnológico haja benefícios alcançados com a utilização de aditivos alimentares, existe a preocupação constante quanto aos riscos toxicológicos potenciais decorrentes da ingestão diária dessas substâncias químicas”.

A grande preocupação e questionamento é se ocorre efeito cumulativo desses componentes no organismo, causando prejuízos à saúde ao longo dos anos. Alguns estudiosos apontam que o excesso de ingestão de alimentos com conservantes pode sim desencadear doenças como alergias e neoplasias. 

No entanto, ainda são inconclusivos os estudos acerca da toxidade dos conservantes alimentares.

Em crianças, esse alerta é ainda maior. Devido à imaturidade fisiológica do organismo infantil, os possíveis efeitos deletérios dos conservantes podem ser mais significativos. Segundo o Codex Alimentarius, não se deve adicionar conservantes em produtos destinados a crianças menores de um ano de idade. 

O uso de aditivos alimentares no dia a dia

É inegável que o uso de aditivos trouxe inúmeros benefícios à alimentação humana, uma vez que possibilitou melhorias nas características sensoriais e qualitativas dos alimentos.

A enorme variedade de conservantes alimentares disponíveis no mercado e as constantes pesquisas acerca de cada um permite que eles sejam utilizados com mais segurança.

Cabe a nós, enquanto consumidores, portanto, dosar a quantidade de conservantes ingerida na dieta, procurando equilibrá-la com alimentos naturais.

Uma dica é sempre se atentar ao rótulo do produto para que o consumidor não se sinta lesado ou prejudicado.

Já a nós, enquanto profissionais da indústria alimentícia, é importante estarmos sempre atualizados.

Acompanhar as pesquisas para ficar por dentro das novidades, dos novos métodos de conservação dos alimentos e das descobertas sobre os impactos na saúde humana é fundamental para o ingresso na área.

Pós POA
Saiba mais!

Treinando sobre Conservantes alimentares

QUESTÃO 01- (autoria própria) Qual dos métodos a seguir não corresponde a conservação natural?

  1. Pasteurização
  2. Adição de açúcar
  3. Ácido lático
  4. Resfriamento

QUESTÃO 02- (autoria própria) Assinale a alternativa CORRETA:

  1. É expressamente proibido adicionar conservantes em alimentos destinados a crianças
  2. O ácido lático e seus sais apresentam efeito bactericida
  3. A técnica de congelamento é mais eficiente que a de resfriamento, uma vez que é capaz de destruir todos os microrganismos deteriorantes/patogênicos presentes.
  4. O ácido benzóico e seus sais constituem os conservantes mais utilizados na indústria alimentícia.

QUESTÃO 03- (autoria própria) Assinale V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas:

  1. (  ) a pasteurização, método utilizado no tratamento do leite, elimina 100% dos microrganismos deteriorantes e patogênicos
  2. (  ) existem três tipos de conservantes: antimicrobianos, antioxidantes e ativadores enzimáticos 
  3. (  ) os microrganismos deteriorantes causam alterações de cor, odor, sabor, textura e aspecto do alimento
  4. (  ) o uso do ácido sórbico é contraindicado  para alimentos fermentados

GABARITO:

1– c

2– d  

3- F, F,V,V

Justificativas:

3- a) a pasteurização é um método que elimina 100% dos microrganismos patogênicos, mas é incapaz de eliminar 100% dos deteriorantes

3- b) existem três tipos de conservantes: antimicrobianos, antioxidantes e inibidores enzimáticos

Autoria da redatora do Ifope
Thais Figueiredo Pereira