Atualmente muitas pessoas entendem que os produtos de origem animal, que foram fundamentais para a sobrevivência e evolução da espécie humana, já não se fazem mais necessários.

As novas tendências de consumo de produtos sem ingredientes de origem animal, além de empatia com a causa dos animais, vêm sendo consideradas opções melhores para a saúde e para o meio ambiente, fazendo com que algumas pessoas adquiram novos hábitos de consumo como o vegetarianismo.

Entenda mais a seguir.

Vegetarianismo

A questão do respeito aos direitos dos animais, a fim de evitar dor e sofrimento a eles, é a principal motivação para aderir uma dieta vegetariana. Os vegetarianos entendem que consumir produtos de origem animal é um ato de exploração como qualquer outro.

Os adeptos desse regime compreendem que é uma questão ética preservar a liberdade e a dignidade dos animais. Os produtos que esse grupo de adeptos consomem não envolvem abate, tortura ou maus tratos aos animais.

Além dos motivos relacionados aos direitos aos animais, podem existir motivos religiosos (os hinduístas, por exemplo, consideram a vaca um ser sagrado) e de benefícios à saúde.

Classificações de vegetarianos

As dietas vegetarianas podem ser subdivididas em algumas categorias, como:

  • Vegetarianos restritos: pessoas que não consomem nenhum tipo de produto de origem animal em sua alimentação como carnes, mel e corantes à base de insetos (carmim de cochonilha), preocupam-se exclusivamente com os animais.
  • Ovolactovegetarianos: apesar de não consumirem carnes de nenhum animal, os adeptos a essa dieta consomem produtos lácteos e ovos, entendem que não estariam sacrificando os animais para fornecem essas duas categorias de alimentos.
  • Ovovegetarianos: são os consumidores de ovos e seus derivados, excluindo as categorias de alimentos de laticínios e os demais produtos de origem animal.
  • Lactovegetarianos: são um grupo de pessoas que consomem produtos lácteos e seus derivados, excluindo os ovos e os demais produtos de origem animal.

Veganismo

Já no estilo de vida denominado de veganismo, além de não ingerir nada de origem animal igualmente aos vegetarianos restritos, não se consome também produtos que contenham em suas composições ingredientes de origem animal ou ingredientes que sejam testados em animais, como os produtos de couro ou lã, cosméticos e produtos de higiene. Outro hábito é não frequentar locais como zoológicos, circos e rodeios, já que entendem que envolvem sofrimento animal.

Ser vegano vai além das restrições alimentares, é possuir um estilo de vida baseado também no entendimento de que as mudanças de hábitos podem contribuir para saúde e para a preservação do meio ambiente. 

Devido ao fato de normalmente os veganos consumirem mais frutas, vegetais e fibras, podem dessa forma ter uma menor probabilidade de desenvolverem doenças como diabete do tipo 2, obesidade e doenças cardiovasculares. Mesmo podendo ser considerada uma dieta saudável, os adeptos dessa dieta devem ficar atentos para que não desenvolvam alguma deficiência de macronutrientes e micronutrientes, como principalmente o ferro, cálcio, vitamina B12 e vitamina D.

Na questão ambiental, os veganos se preocupam com áreas de florestas que são devastadas para pastagens de animais, a pecuária que leva a perda de espaço e da biodiversidade, além emissões de gases do efeito estufa oriundos do setor pecuário.

Freeganismo

As pessoas que aderem ao chamado freeganismos são denominadas de “fregans”. Elas reconhecem em todos os produtos comercializados uma economia industrial de produção em massa movida pelo lucro, fixada na exploração animal, de humanos e na exploração do meio ambiente, considerando assim qualquer consumo prejudicial, pregando pelo retorno ao natural e o fim do industrialismo.

Esse movimento social implica em práticas de coleta além de reaproveitamento de alimentos e objetos descartados no meio urbano, prezam por um consumo sustentável e preservação da biodiversidade. As estratégias adotadas por adeptos são de não comprar ou comprar o mínimo possível, evitando cada vez mais produtos industrializados e dando preferência aos alimentos produzidos em pequenas hortas, isto como forma de uma “agricultura de subsistência” e também como forma de boicotar o sistema econômico em si.

O freeganismo ainda é pouco conhecido devido à falta de união dos seus adeptos, que o praticam às vezes no anonimato.

Produtos Veganos e Vegetarianos

A Sociedade Vegetariana Brasileira – SVB é uma organização sem fins lucrativos que tem dentre outros pontos a missão de ampliar e facilitar o acesso aos produtos e serviços veganos.

Através de um programa de certificação criado pela SVB representada por um selo vegano, é possível reconhecer produtos das áreas de alimentos, cosméticos, de limpeza e artigos de vestuários que são aprovados pela SVB como veganos.

Esse programa não possui qualquer relação com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, que dentre outras funções é a responsável por normatizar, controlar e fiscalizar produtos, substâncias e serviços de interesse para a saúde.

Apesar da demanda social existente no Brasil, o consumidor vegetariano e vegano ainda não possui a proteção necessária, pois não existe regulamentação específica no país para a fabricação, comercialização e nem rotulagem de alimentos bem como de outros produtos destinados a esses públicos.

Esses tipos de produtos, que são considerados saudáveis e de baixo impacto ambiental, tem tido crescente demanda e passaram a ser mais atrativos aos olhos do consumidor, por contemplarem as características e valores percebidos pelos mesmos.

Bem-estar Animal

Muitos praticantes destas dietas levaram em consideração o bem-estar dos animais ao virarem adeptos desses modos de vida. Contudo, é importante esclarecer que existem legislações que garantem o cumprimento das normas de abate humanitário e bem-estar animal no manejo pré-abate dos animais de produção.

A preocupação com o bem-estar animal no manejo pré-abate iniciou-se na Europa no século XVI. No Brasil, há décadas já existe lei que sustenta a obrigatoriedade de atenção ao bem-estar animal e a aplicação de penalidades a quem infringi-la, sendo a primeira legislação brasileira que tratou desse assunto foi no ano de 1934.

Atualmente existem no país legislações como:

  • Instrução Normativa Nº 3, de 17 de janeiro de 2000, que é um Regulamento Técnico de Métodos de Insensibilização para o Abate Humanitário de Animais de Açougue, sendo que é dos fiscais federais a responsabilidade são da verificação no local e ainda documental do bem-estar animal através de planilhas oficiais padronizadas;
  • Instrução Normativa N° 56, de 2008 que abrange os sistemas de produção e o transporte;
  • e a Instrução Normativa Nº 46 de 2011, que contempla requisitos de bem-estar animal dentro das normas técnicas para instalações, manejo, nutrição, aspectos sanitários e ambiente de criação nos sistemas orgânicos de produção animal.

As diretrizes brasileiras de bem-estar animal são elaboradas com base nas recomendações da Organização Mundial de Saúde Animal, essas recomendações abordam a necessidade de que os animais de produção não sofram durante o período de pré-abate e abate.

Os riscos de uma dieta sem produtos de origem animal

Apesar de muitos defensores e adeptos da dieta sem produtos de origem animal afirmarem que esta traz uma série de benefícios para a saúde, especialistas em nutrição alertam para a falta de proteínas, vitaminas e outros nutrientes importantes que podem deixar de ser consumidos.

A vitamina B12, por exemplo, só é encontrada em produtos de origem animal e em alguns poucos tipos de algas, assim recomenda-se que os adeptos dessas dietas consumam suplementos dessa vitamina.

A proteína é um elemento chave na dieta humana e. segundo uma pesquisadora do Instituto de Tecnologia de Alimentos – ITAL, mesmo que alguns dos produtos, que são compostos por ingredientes apenas vegetais, tenham teores de proteínas similares aos produtos cárneos, a qualidade da proteína vegetal é inferior à proteína da carne por diversos fatores, como digestibilidade e composição de aminoácidos.

Assim, a mesma afirma a necessidade que os adeptos dessas dietas restritivas comam diferentes proteínas de origem vegetal para se manterem adequadamente nutridos e submeteram-se a exames de sangue regularmente para determinar se há carência de algum nutriente em especial.

Conclusão sobre as Dietas sem produtos de origem animal

Apesar de existir um público interessado e com crescente interesse em dietas vegetarianas e o modo de vida vegano, o mercado ainda sofre com os preços elevados desses produtos principalmente devido a vários ingredientes serem importados e as tecnologias utilizadas ainda serem muito recentes.

Assim, pode-se considerar que esse mercado apresenta um alto potencial de crescimento em nosso país.

Além disso, a rotulagem dos produtos vegetarianos e veganos ainda é precária em quase todos os lugares do mundo assim como no Brasil. Mesmo existindo muitas organizações que realizam a rotulagem, em quase nenhum país existem leis que protegem esses consumidores especificamente através da rotulagem.

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É fundamental, portanto, a discussão sobre o assunto para que os órgãos legisladores escutem a demanda crescente, uma vez que atender as necessidades dos consumidores, melhorar a qualidade de vida e a transparência nas relações de consumo, é uma política do Estado brasileiro.

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Autoria da redatora do Ifope:
Ana Luiza M. Santos