Atualmente, há uma grande quantidade de alimentos desperdiçados e as novas tecnologias de embalagens, como as embalagens ativas  podem contribuir para essa diminuição, já que essas podem interagir com o produto como forma de preservar por mais tempo a qualidade e a segurança do alimento. Exemplos das principais ações preconizadas  das embalagens ativas dizem respeito à absorção de gases, controlador de umidade, antimicrobianas e aquelas que liberam saborizantes.

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura – FAO,  um terço de toda a produção de alimentos do mundo é desperdiçada todos os dias, sendo que 6%  ocorrem na América Latina e no Caribe.

Essas perdas também impactam o meio ambiente através da emissão de gases de dióxido de carbono, metano e ácido nitroso gerados pela degradação dos alimentos. As perdas representam ainda maiores gastos para os consumidores, que acabam pagando mais pelos produtos devido ao custo do desperdício que é embutido no preço final.

Nesse contexto, as embalagens dos alimentos além de possuírem como funções básicas a transmissão de informação ao consumidor sobre o produto, proteção de danos mecânicos e contaminações, são protagonistas para a diminuição do desperdício dos alimentos em todo o mundo, sendo as chamadas embalagens ativas grandes contribuintes para o aumento da vida de prateleira e melhora  das propriedades organolépticas dos produtos alimentícios.

O que são as embalagens ativas?

As embalagens ativas são definidas como aquelas que através da adição de agentes aditivos no material ou no espaço-livre entre embalagem e alimento, podem melhorar seu desempenho liberando componentes no alimento ou no ambiente que cerca o produto.

Com a função de proteção potencializada, preserva a máxima qualidade do produto, criando condições para que sejam minimizadas as alterações bioquímicas, microbiológicas e químicas que podem levar o alimento á degradação. 

O sistema de embalagens ativas pode se dar através da:

  • adição de absorvedor de gases como oxigênio, etileno e dióxido de carbono;
  • adição de absorvedor de umidade;
  • adição de absorvedor de odores/aromas;
  • adição de emissores de agentes conservantes;
  • embalagens que controlam a temperatura. 

Podem ser utilizadas em diversas categorias de alimentos como em pães, bolos, cereais, snacks, cafés, frutas e hortaliças frescas, carnes, dentre outras.

Qualquer produto pode receber embalagens ativas?

Deve-se seguir alguns requisitos para a utilização de embalagens ativas

  • não favorecer a ocorrência de reações químicas indesejáveis entre o alimento e a embalagem;
  • absorver/emitir o gás de interesse na velocidade desejada;
  • assegurar que o produto seja apto para consumo em termos de saúde pública com o uso dessa tecnologia.

Antigamente as embalagens ativas eram incorporadas por meio da concentração do agente ativo em sachês. Atualmente, o enfoque tem sido a incorporação do agente ativo no próprio material da embalagem como em tampas, rolhas para vinho, liner ou vedante de tampas, rótulos e etiquetas. Esta é uma forma de maximizar a eficiência da embalagem ativa, reduzindo custos e minimizando problemas decorrentes da inclusão de um “agente estranho” ao produto do ponto de vista do consumidor, o que pode levar a uma interpretação errônea. 

De onde vêm?

Os principais fabricantes das embalagens ativas são americanos e japoneses, sendo que no Japão essa tecnologia já é muito bem aceita pelos consumidores e no Estados Unidos o FDA – Food and Drug Admistration, órgão do governo dos Estados Unidos, que tem a função de controlar os alimentos e medicamentos, através de diversos testes e pesquisas, tem autorizado a utilização deste tipo de embalagem em suas diversas formas de apresentação.

Legislação no Brasil

No Brasil ainda são pouco conhecidas, pelo fato de não haver legislação específica sobre o uso de embalagens ativas.

Contudo, sua produção/utilização deve ser considerada contemplando somente os aditivos aprovados pela ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária,  para os materiais destinados à elaboração de embalagens e equipamentos em contato com alimentos.

Componentes ativos precisam ser registrados em listas positivas e os limites de migração total e específica devem ser respeitados. 

Leia também: BRC para segurança de alimentos

Alguns exemplos de aplicação de embalagens ativas

A seguir listamos  alguns exemplos e suas aplicações de embalagens ativas que podem contribuir para uma maior vida de prateleira dos alimentos.

Absorvedor de Etileno

O etileno é um hormônio no estado gasoso resultante do metabolismo vegetal para gerar energia. Dependendo da concentração deste gás no interior da embalagem e a sensibilidade do alimento, a interação pode promover o crescimento, maturação, envelhecimento ou degradação do tecido vegetal.

Para as frutas e hortaliças in natura, a principal função deste tipo de embalagem ativa é a remoção ou supressão do gás etileno através de sachês, ou pads/blankets, introduzidos nas linhas de acondicionamento, ou da adição dos ativos incorporados em polímeros termoplásticos, ou materiais celulósicos.

Exemplo de composto ativo adsorvedor é um sachê de permanganato de potássio, que através do controle da taxa de respiração e do etileno presente no espaço livre da embalagem ao redor do produto, contribui tanto para a redução da atividade fisiológica como no desenvolvimento microbiológico, fazendo com que haja um aumento na vida de prateleira do produto.

Absorvedor de Oxigênio

A presença de altas concentrações de oxigênio em contato com os alimentos podem contribuir para que ocorram as seguintes reações de deterioração: 

  • crescimento microbiano que desenvolve sabores e odores indesejáveis;
  • perda de nutrientes;
  • alteração de cor;
  • oxidações de gorduras;
  • degradação de vitaminas e pigmentos.

Comercialmente disponível em sachês, adesivos, rótulos, misturas de embalagens monocamadas, dentre outros, os absorvedores de oxigênio são normalmente de base metálica e de natureza antioxidante, cujo mecanismo pode manter os níveis de oxigênio no interior da embalagem inferiores a 0,01% durante toda a estocagem, prolongando a vida de prateleira do produto.

Os absorvedores de oxigênio possuem sua característica finita, por isso deve-se controlar para que sua atuação seja iniciada quando a embalagem estiver fechada ou próximo de fechá-la.

Nessa tecnologia de embalagem ativa se utiliza um ou mais dos seguintes conceitos:

  • compostos ferrosos pó;
  • sistemas enzimáticos, 
  • microrganismos imobilizadores em substrato sólido (absorvedor de oxigênio biológico), 
  • sulfitos e seus análogos.

Um exemplo de aplicação dessa tecnologia é para o acondicionamento de café torrado que possui perda de qualidade 5 a 10 vezes mais rápida em comparação ao café em grão devido à retenção de gás carbônico no processo de torrefação. Embalagens ativas com absorvedores de oxigênio associadas ou não à tecnologia de atmosfera inerte, permitem ao café torrado maior vida de prateleira e minimizam o estufamento da embalagem.

Absorvedores e controladores de umidade

Para controlar a umidade há duas linhas distintas de embalagens ativas:

  • uma que busca reduzir a umidade relativa entre embalagem e produto através do uso de absorvedores de umidade;
  • e outra que serve para controlar o nível de umidade relativa através de reguladores de umidade ou absorvedores líquidos da exsudação dos produtos.

Um exemplo de utilização para controle de umidade relativa são os absorvedores líquidos (pads) em carnes refrigeradas, os quais são constituídos por fibras de celulose ou grânulos de polímero superadsorventes, capazes de absorver 100 a 500 vezes seu próprio peso de água, aumentando a vida útil do produto e melhorando sua apresentação no ponto de venda.

Embalagens antimicrobianas

O último exemplo de embalagem ativa são as embalagens antimicrobianas  que possuem como objetivo potencializar a função das embalagens tradicionais, assim contribuindo para maior segurança e vida útil do produto.

Podem ser classificadas em dois tipos, aquela em que o agente ativo migra para a superfície do alimento ou a que é efetiva, mas sem a necessidade de migração de componentes ativos.

Uma aplicabilidade dessa embalagem é a que utiliza o emissor de dióxido de cloro, o qual controla o crescimento de fungos e bactérias, além de contribuir para a eliminação de odores indesejáveis e aumentar a vida de prateleira. Outro ativo é o dióxido de enxofre que inibe reações enzimáticas e não enzimáticas, controla o desenvolvimento de microrganismos e age como antioxidante. 

A preferência pelos antimicrobianos naturais atende às exigências dos consumidores que buscam uma alimentação mais saudável e produtos naturais, além de terem maiores possibilidades para a aprovação pela Anvisa. 

O futuro das embalagens ativas no Brasil

Assim, pode-se concluir que apesar de ainda ser uma novidade no Brasil devido às exigências legais para aprovação, as embalagens ativas poderão ser muito utilizadas futuramente no país. 

Além de agregar valor à embalagem e contribuir para a diminuição de perdas de alimentos, essa novidade poderá ser percebidas pelos consumidores pela melhora de qualidade e/ou segurança aos alimentos.

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Autoria da redatora do Ifope:
Ana Luiza M. Santos