A pasteurização do leite é um importante processo que, apesar de ter sido descoberto há algum tempo, é muito utilizado nos dias de hoje. Pensando em tirar todas as dúvidas, preparamos este texto para você.
Se você quer saber um pouco mais sobre pasteurização, o que é leite pasteurizado e como é feita a pasteurização do leite, não deixe de ler este conteúdo. Confira!
O que é pasteurização?
A pasteurização é um processo no qual o alimento é aquecido a uma determinada temperatura, durante um determinado período de tempo e, logo em seguida, resfriado a uma temperatura muito inferior à anterior. Com o aquecimento e o resfriamento, os micro-organismos presentes no alimento são eliminados.
Levando isso em conta, podemos entender que a pasteurização é um tratamento térmico, com o objetivo de aumentar a conservação dos alimentos. Por isso, pode ser utilizada em uma série de produtos, embora seja mais comum em leite e derivados. Seu foco principal é a eliminação de micro-organismos patogênicos, ou seja, aqueles que podem transmitir doenças.
Muitos não sabem, mas o nome pasteurização foi dado em homenagem ao criador do método, o químico francês Louis Pasteur. O avanço científico descoberto por Pasteur possibilitou uma melhora na qualidade de vida dos seres humanos, permitindo que uma série de produtos pudessem ser mantidos por mais tempo e transportados sem se decomporem.
História da pasteurização
Até o século XIX, muitas infecções assolavam a humanidade e havia pouco avanço da ciência para que fosse possível combatê-las. Quando surgiu a pasteurização, este processo representou o primeiro grande passo do homem rumo ao combate às infecções naquele século.
A técnica surgiu em 1862, quando Louis Pasteur tentava descobrir porque o vinho e a cerveja ficavam com um gosto ruim ao longo do tempo. Enquanto pesquisava, Pasteur descobriu que a decomposição e fermentação eram provocadas por micro-organismos, e que era possível eliminá-los modificando a temperatura do alimento.
A partir de sua descoberta, a fervura de materiais cirúrgicos e de outros objetos com o objetivo de eliminar agentes infecciosos passou a ser obrigatória. Além disso, a técnica é utilizada para assepsia e conservação de alimentos.
Muitos pesquisadores, depois de Pasteur, começaram a aplicar a pasteurização ao leite para destruir micro-organismos. Alguns a reconheciam como uma forma de prevenir doenças transmitidas pelo leite, e outros como uma maneira de aumentar sua vida útil. Dessa forma, essas doenças foram praticamente eliminadas com a pasteurização comercial, em combinação com as práticas de manejo melhoradas em fazendas leiteiras.
No entanto, era difícil estabelecer os requisitos da pasteurização a partir da literatura existente na época. Por isso, as combinações de tempo-temperatura para a pasteurização foram estabelecidas inicialmente em 1911, para a Mycobacterium tuberculosis (62,8°C por 30 minutos), e novamente em 1957, para a Coxiella burnetii (72°C por 15 s), micro-organismo esse que sobreviveu ao leite pasteurizado, a 61,7°C por 30 min, se tornando o organismo-alvo de pasteurização até os dias de hoje.
Leia mais: Saiba tudo sobre classificação e legislação do leite.
O que é leite pasteurizado?
Como vimos anteriormente, a pasteurização do leite é empregada para garantir ao consumidor um leite seguro e isento de micro-organismos que podem causar doenças no ser humano.
Mas, como é feita a pasteurização do leite? Atualmente, existem dois processos de pasteurização do leite que são mais utilizados: a pasteurização lenta e a pasteurização rápida. Veja:
Pasteurização lenta
A pasteurização lenta é realizada durante um longo período de tempo, no qual a temperatura empregada depende da finalidade. Ela é comumente realizada entre 62°C e 65°C, durante o período de 30 minutos.
Ao longo do procedimento, ocorre o aquecimento, empregando um ou mais tanques de parede dupla com invólucro externo isotérmico. No interior dele (ou deles), circula água industrial, água gelada ou água aquecida por vapor. Dentro do tanque, o leite é aquecido, mantendo a temperatura por algum tempo. Depois, o calor é substituído por um agente refrigerante, e o leite é resfriado. Este tipo de pasteurização, normalmente, é utilizado por pequenas indústrias, pois se trata de um processo mais demorado.
Pasteurização rápida
Neste processo de pasteurização do leite, uma alta temperatura é utilizada por um curto período de tempo, no qual o leite é aquecido em circuito fechado. É comum que se utilize o sistema de placas, sendo a temperatura do leite elevada entre 72 e 75ºC, por 15 a 20 segundos. Durante o processo, há uma troca de calor entre o leite que entra e o leite que sai. Dessa maneira, é possível aproveitar de 80 a 90% do calor gasto durante o aquecimento.
Toda a operação deve ser automatizada, e o equipamento deve possuir um gráfico para fazer o registro da temperatura utilizada. Caso o leite não seja aquecido corretamente, o equipamento precisará ter uma válvula de derivação para desviar o leite ao tanque alimentador, fazendo com que ele retorne à entrada do pasteurizador e possa alcançar a temperatura e o tempo necessários.
Esse tipo de pasteurização é muito empregado em leites usados para fabricação de iogurtes, queijos e outros derivados lácteos.
Os dois métodos de pasteurização têm um único objetivo: eliminar todos os micro-organismos patogênicos do leite. E, após serem realizados, o leite deve ser resfriado imediatamente, sendo levado a uma temperatura de 2°C a 4°C, em menos de 10 segundos. Isso é importante para evitar a proliferação dos micro-organismos que restaram após a pasteurização.
Em seguida, o leite pasteurizado deve ser envasado em embalagens que podem ser sacos plásticos (mais comuns), embalagem cartonada ou garrafa plástica (Figura 1).
De acordo com a IN 76, é proibida a pasteurização de leite já envasado.
Conservação do leite pasteurizado
Após o processo de pasteurização do leite, este deve ser mantido resfriado, sendo que, no comércio para consumo, a temperatura deve atingir o limite máximo de 7°C.
É importante ressaltar que o leite em embalagem cartonada (caixinha de leite pasteurizado) não pode ser confundido com o leite longa vida (UHT), que, diferente do leite pasteurizado, pode ser mantido fora da geladeira.
Tipos de leite pasteurizado
Segundo a IN 76, de novembro de 2018, quanto ao seu processamento, o leite pasteurizado pode ser classificado como leite pasteurizado e leite pasteurizado tipo A.
Mas o que é o leite pasteurizado tipo A? É o leite fluido, produzido, beneficiado e envasado exclusivamente em granjas leiteiras (diferentemente do leite pasteurizado, que é envasado nas indústrias), submetido a um dos processos de pasteurização previstos na legislação vigente e diretamente destinado ao consumo humano.
Em resumo, temos o leite pasteurizado, que é produzido em granjas leiteiras, beneficiado e envasado nas indústrias de laticínios, e o leite pasteurizado tipo A, que é totalmente processado dentro das granjas leiteiras.
Ambos devem:
- ser envasados em circuitos fechados;
- atender aos critérios microbiológicos estabelecidos na IN 76;
- não apresentar substâncias estranhas à sua composição, tais como agentes inibidores do crescimento microbiano, neutralizantes da acidez e reconstituintes da densidade ou do índice crioscópico;
- não apresentar resíduos de produtos de uso veterinário e contaminantes acima dos limites máximos previstos em normas complementares;
- e não conter aditivos e coadjuvantes de tecnologia.
Já quanto ao conteúdo de matéria gorda, os leites têm as seguintes classificações:
- Leite pasteurizado integral, teor de gordura mínimo de 3,0g/100g;
- Leite pasteurizado semidesnatado, teor de gordura mínimo de 0,6 a 2,9g/100g;
- Leite pasteurizado desnatado, teor de gordura máximo de 0,5g/100g.
A legislação ainda prevê que, sempre que houver padronização, o teor de gordura do leite pasteurizado deve ser indicado no painel principal do rótulo, próximo à denominação de venda, em caracteres destacados, independentemente da classificação quanto ao teor de gordura.
Qual a diferença entre leite pasteurizado e leite UHT?
Existem alguns tipos de micro-organismos que podem sobreviver ao processo de pasteurização. Os principais são os termodúricos, como as bactérias esporuladas, termófilas não esporuladas e mesófilos com grande termorresistência. Porém, no leite pasteurizado, por exemplo, a parte desses micro-organismos não compromete a sua validade comercial, uma vez que não se multiplicam quando o leite está refrigerado.
Mas, para aumentar o prazo de validade e poder ser armazenado em temperatura ambiente, o leite deve ser submetido a um processo de UHT – Ultra High Temperature para a eliminação de todas as formas vegetativas (deteriorantes e patogênicas) e de quase a totalidade dos esporos bacterianos. A embalagem também é aliada aos benefícios desse processo térmico.
O processo de UHT consiste em elevar a temperatura do leite entre 130ºC e 150°C durante 3 a 5 segundos. Mas, diferentemente da pasteurização, o leite UHT, antes desse processo térmico, deve passar por um pré-beneficiamento, por uma etapa de estabilização e, depois, por um pré-aquecimento (80°C por 2 minutos), para então ocorrer o aquecimento propriamente dito.
Isso precisa ser feito, porque, como o leite será submetido a temperaturas muito altas, o processo pode afetar a sua composição. O leite UHT precisa receber estabilizantes da caseína, evitando que o leite coagule e sedimente durante o processamento. Além disso, precisa ser pré-aquecido, para diminuir a desnaturação proteica e, também, a sua sedimentação.
Após o aquecimento, o leite vai para uma câmara de vácuo, onde há um resfriamento instantâneo e a remoção de todo o vapor de água previamente injetado. Essa etapa, por meio da remoção dos compostos formados durante o aquecimento, também é necessária para diminuir os defeitos tecnológicos, evitando o escurecimento e melhorando o sabor e o aroma do produto.
O leite passa pela etapa de homogeneização asséptica e é armazenado em tanques assépticos. Por fim, o leite é embalado em embalagem asséptica.
E aí? Deu para entender um pouco mais sobre a pasteurização e sobre como é feita a pasteurização do leite?
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Quais as perdas na qualidade do leite HUT, as propriedades artificiais colocadas para a duração por meses, realmente fazem mal as crianças? Qual a diferença do leite em pó para as crianças e idosos. Qual o melhor e mais seguro para a saúde? Obrigada.
Olá, Neuza! Esta é uma pergunta muito frequente! Na produção do leite UHT, o leite cru resfriado sai da propriedade rural resfriado e tem até 48 horas para ser processado termicamente. O leite é submetido a tratamento térmico a 140ºC /3 segundos e é envasado em ambiente estéril, podendo então ser consumido em até 6 meses. O processamento térmico, por ser intenso, causa alteração em nutrientes sensíveis ao calor (como por exemplo vitaminas C e B6), nas propriedades químicas e funcionais do leite. O que não significa que o leite UHT se torne um alimento não nutritivo.
Com relação às substâncias adicionadas, os famosos aditivos, no caso do leite UHT temos os estabilizantes que tem como função simplesmente evitar que ocorra a separação de fases no leite, ou seja, no leite UHT não há adição de conservantes, e o seu longo prazo de validade se deve unicamente ao tratamento térmico. Ou seja, não há nenhuma substância que faça mal às crianças (considerando que a criança não seja intolerante à lactose nem alérgica a proteína do leite e tenha idade maior que 2 anos).
E sobre o leite em pó para crianças e idosos, vamos lá! Nessa linha de desidratados temos o leite em pó propriamente dito, as fórmulas infantis e os compostos lácteos. O leite em pó propriamente dito se trata apenas do leite fluido que passou por um processo de desidratação (remoção de água). As fórmulas infantis são um “substituto do leite materno especialmente fabricado para satisfazer, por si só, os requisitos nutricionais dos lactentes durante os primeiros meses de vida até a introdução de alimentação complementar adequada”. A sua composição vai variar de acordo com a fase para a qual esse produto é destinado, sendo que são utilizados como ingredientes leite de vaca, concentrado proteico de soro, soro de leite desmineralizado, carboidratos e óleos vegetais, podendo ou não ser acrescido de minerais como o ferro (Ex.: Fórmula Infantil NAN). O composto lácteo é o produto em pó resultante da mistura do leite e produtos alimentícios lácteos ou não-lácteos. Os ingredientes lácteos devem representar no mínimo 51% do total de ingredientes do produto. Pode-se adicionar açúcar, corantes, preparados de frutas, entre outros (Ex.: Nutren sênior, Milnutri).
Todos eles são seguros para o consumo, e a melhor escolha será aquela que atenderá às suas necessidades! Leia sempre os rótulos para conhecer exatamente o produto que está consumindo e não levar gato por lebre!
Muito interessante. Parabéns pelo conteúdo.
Ygor Magri, CEO do http://www.insightgrupo.com.br