Os problemas com insetos não acabam com a colheita. As pragas de grãos armazenados podem gerar danos severos mesmo após o imenso trabalho no campo ter sido concluído com sucesso.

Por isso, este é um assunto importante e recorrente em provas de concurso público nos mais diversos órgãos. Portanto, Agrônomo Concurseiro, prepare-se adequadamente e não seja surpreendido!

Introdução

Já é sabido que um dos grandes problemas das lavouras são os insetos-praga, mas eles continuam dando prejuízos inclusive após a colheita.

Da forma que os grãos saem do campo, com impurezas e umidade elevada, há o favorecimento do surgimento de pragas de grãos armazenados.

Por isso, antes de ser estocado, o produto passa por um processo de beneficiamento com o objetivo de melhorar sua qualidade e aumentar seu tempo de estocagem, retirando impurezas, como torrões de terra e pedaços de plantas, e uniformizando o teor de umidade para 13%, valor considerado ideal para não favorecer o desenvolvimento de pragas de grãos armazenados.

Como trata-se de seres vivos, mesmo tomando essas medidas preventivas, insetos podem se desenvolver na massa de grãos estocada. Isso acarreta em duas formas de perdas:

Quantitativa

Em que há redução de matéria seca.

Estima-se que a perda anual em grãos armazenados é de 15% da produção nacional. No entanto, esta perda seria causada por fatores
diversos , dentre eles os danos por pragas de grãos armazenados.

Qualitativa

Mais difícil de mensurar, esse tipo de perda faz com que o produto perca valor de mercado devido ao:

  • surgimento de fungos;
  • perda de valor nutritivo e/ou propriedades tecnológicas;
  • ou ainda diminuição no poder germinativo, no caso de sementes.
Principais tópicos para concurso agrônomo
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Pragas de grãos armazenados – categorizações

As pragas de grão armazenados podem ser divididas em dois grupos:

  • Besouros (Ordem: Coleoptera)
  • Traças (Ordem: Lepidoptera)

Essas pragas também podem ser classificadas de acordo com seu hábito alimentar em:

  • Pragas Primárias: danificam os grãos íntegros e sadios.
    1. Pragas Primárias Internas: completam o ciclo de vida no interior do grão, perfurando e alimentando-se do conteúdo interno.
    2. Pragas Primárias Externas: danificam a parte externa do grão, alimentam-se do conteúdo interno mas não completam o ciclo de vida nesse local.
  • Pragas Secundárias: aproveitam-se dos grãos já danificados para alimentar-se, ocorrendo também em rações.

Principais Pragas de Grãos Armazenados

1 – Besouros (Coleopteros)

1.1 Rhyzopertha dominica (Coleoptera: Bostrychidae)

É uma praga primária interna com elevado potencial de destruição em grãos de trigo.

Tem capacidade de destruir 5 a 6 vezes seu próprio peso em uma semana (POY, 1991). Essa agressividade faz com que seja difícil evitar prejuízo.

Essa praga de grão armazenado perfura os grãos, produzindo uma grande quantidade de resíduos na forma de farinha, decorrente do hábito alimentar.

Tanto adultos como larvas causam danos aos grãos.

Possui grande número de hospedeiros, como trigo, cevada, triticale, arroz e aveia.  O milho não é hospedeiro preferencial.

Sua capacidade de adaptar-se rapidamente às diversas condições climáticas e de sobreviver em extremos de temperatura faz com que seja de difícil controle.

Rhyzopertha dominica
Figura 1. Adulto de Rhyzopertha dominica causando danos em grãos de trigo. Foto: Clemson University – USDA.

1.2 Sitophilus oryzae e S. zeamais (Coleoptera: Curculionidae)

São duas espécies muito semelhantes morfologicamente e que podem ocorrer juntas na mesma massa de grãos.

São pragas primárias internas de grande importância, pois podem apresentar infestação cruzada (infestar grãos no campo e também no armazém) onde penetra na massa de grãos.

Tanto a fase jovem (larvas) como os adultos são prejudiciais aos grãos armazenados.

A postura é feita nos grãos e as larvas, após se desenvolverem, empupam e se transformam em adultos.

Apresentam elevado potencial de reprodução e possuem muitos hospedeiros, como trigo, milho, arroz, cevada e triticale.

Pragas de Grãos - Sitophilus zeamais
Figura 2. Adulto de Sitophilus zeamais causando danos em grãos de trigo. Foto: Clemson University – USDA.

1.3 Tribolium castaneum (Coleoptera: Tenebrionidae)

Alimenta-se de grãos quebrados em geral, como cerais moídos (arroz, milho e trigo), farinhas e rações causando prejuízos elevados pela sua presença.

É uma praga secundária tornando sua presença alarmante, visto que significa que os grãos armazenados já estão infestados com alguma praga primária.

Pragas de Grãos Armazenados - Tribolium castaneum
Figura 3. Adulto de Tribolium castaneum. Foto: Georg Goergen.

1.4 Oryzaephilus surinamensis (Coleoptera: Silvanidae)

É uma espécie cosmopolita que ocorre em praticamente todas as regiões do mundo, em produtos armazenados.

Infesta uma grande variedade de commodities, especialmente cereais (milho, trigo, arroz, cevada, aveia), frutos secos e oleaginosas (soja).

É praga secundária e ataca grãos quebrados, fendidos e restos de grãos.

Pode danificar a massa do grão, apresentando danos mais expressivos quando ocorrem em grande densidade populacional.

Também causa a deterioração dos grãos pela elevação da temperatura.

É uma espécie muito tolerante a inseticidas químicos, sendo uma das primeiras a colonizar a massa de grãos após aplicação desses produtos (LORINI, 2008; 2012).

Pragas - Oryzaephilus surinamensis
Figura 4. Adulto de Oryzaephilus surinamensis. Foto:ICAR-National Bureau of Agricultural Insect Resource.

1.5 Cryptolestes ferrugineus (Coleoptera: Cucujidae)

Esta é uma praga secundária de maior importância na armazenagem de soja, milho, trigo, arroz, cevada e aveia, além de infestar frutos secos e nozes (BOOTH et al., 1990)

A praga destrói grãos fendidos, rachados e quebrados, penetrando e atacando o germe.

Causa elevação na temperatura da massa de grãos e a consequente deterioração deles.

Da mesma forma que O. surinamensis, aparece em grande quantidade em armazéns, após o tratamento com inseticidas, pois é tolerante a esses tratamentos.

Possui facilidade de reprodução em grãos armazenados e resistência aos inseticidas usados no controle químico (LORINI, 2012).

Cryptolestes ferrugineus
Figura 5. Adulto de Cryptolestes ferrugineus. Foto:Grains Canada.

2 – Traças (Lepidópteros)

2.1 Sitotroga cerealella (Lepidoptera: Gelechiidae)

É praga primária e ataca grãos inteiros.

Inicialmente, não apresenta sintomas visíveis no grão.

Durante a fase de pupa, a larva constrói uma câmara rente ao revestimento da semente, formando uma área translúcida. O ataque da praga prejudica o peso e qualidade dos grãos, gerando perda de valor de mercado.

Afeta a parte superficial da massa de grãos. Ocorre principalmente em grãos de arroz, aveia, cevada, centeio, milho e trigo.

Pragas de Grãos - Sitotroga cerealella
Figura 6. Mariposa de Sitotroga cerealella. Foto: Clemson University – USDA.

2.2 Plodia interpunctella (Lepidoptera: Pyralidae)

Ocorre na superfície da massa de grãos e é classificada como primária externa.

Não causa muitos prejuízos aos grãos armazenados a granel, pois seus danos se limitam à superfície exposta da massa de grãos. Os prejuízos são mais elevados no armazenamento em sacaria, devido à maior superfície exposta.

Essa praga alimenta-se preferencialmente do embrião dos grãos, especialmente em arroz, aveia, cevada, girassol, trigo e milho.

Pragas de Grãos Armazenados - Plodia interpunctella
Figura 7. Mariposa de Plodia interpunctella. Foto: Pest and Diseases Image Library Bugwood.org

2.3 Ephestia kuehniella (Lepidoptera: Pyralidae)

Inseto relatado no cacau, no fumo, nos frutos secos, nos vegetais desidratados, nos cereais e nas oleaginosas. Grãos e sementes de soja, milho, sorgo, trigo, arroz, cevada e aveia são preferidos, além de produtos elaborados, como biscoitos, barras de cereais e chocolates (GALLO et al., 1988).

É praga secundária, pois as larvas se desenvolvem sobre resíduos de grãos e de farinhas deixados pela ação de outras pragas.

Seu ataque prejudica a qualidade dos grãos devido a formação de uma teia em sua superfície durante o armazenamento. É responsável pela grande quantidade de tratamentos em termonebulização nas unidades durante o período de armazenamento.

Ephestia kuehniella
Figura 8. Larva de Ephestia kuehniella com a presença das teias característica de seu ataque. Foto: Dave Chesmore

Pragas de Grãos Armazenados – Controle

A forma mais eficaz de controle de pragas de grãos armazenados é a prevenção, já que, uma vez presentes, esses insetos causam danos severos no produto. Além disso as medidas preventivas são mais fáceis de executar.

O primeiro passo consiste em realizar uma limpeza através da eliminação de todos os resíduos nas:

  • instalações;
  • no armazém ou silo que receberá o produto;
  • nos corredores;
  • nas passarelas;
  • nos túneis;
  • nos elevadores;
  • e nas moegas.

Todos os resíduos de grãos e o pó coletados devem ser eliminados por meio da queima desse material para evitar a proliferação de insetos e de fungos, que poderão reinfestar as unidades armazenadoras.

Após essa limpeza, recomenda-se o uso da termonebulização e/ou pulverização com inseticidas para eliminar os insetos presentes que não tenham sido eliminados com a higienização das instalações.

Conforme já citado, outra forma eficiente de evitar a entrada e proliferação de pragas de grãos armazenados é por meio do beneficiamento do produto antes de armazená-lo.

Retirar impurezas como torrões e pedaços de plantas que podem conter insetos e deixar a massa de grãos a uma umidade de 13% que não é favorável para a proliferação de insetos são determinantes para prevenir os danos em grãos armazenados.

No caso da infestação já estar instalada na massa de grãos temos duas formas preponderantemente usadas no controle das pragas de grãos armazenados: os métodos físicos e os métodos químicos.

1. Métodos Físicos

Envolvem a manipulação dos fatores físicos para reduzir a população da praga a um nível tolerável ou eliminá-la (BANKS; FIELDS, 1995).

1.1 Temperatura

A manipulação da temperatura da massa de grãos armazenados tem boa eficiência no controle.

A baixa temperatura, cerca de 13ºC, realiza o controle por meio da diminuição das taxas de alimentação, reprodução e desenvolvimento dos insetos.

Temperaturas elevadas, geralmente acima de 42ºC, se mantidas por certo período de tempo pode ter uma alta letalidade nos insetos, mas deve ser empregada com cuidado pois também tem a capacidade de danificar a qualidade dos grãos armazenados.

As alterações na temperatura também irão provocar mudanças na umidade relativa do ar na massa de grãos, o que também pode ser um fator que colabora no controle dos insetos.

1.2 Atmosfera Controlada

Este método baseia-se na modificação da atmosfera por meio da alteração na concentração dos gases CO2, O2 ou N2, tornando o ambiente letal a insetos.

Aplica-se esse método pela adição de CO2, sólido ou gasoso, ou de gases de baixa concentração de O2, ou ainda permitindo-se que os processos metabólicos dentro do armazém removam O2, geralmente com liberação de CO2 (BANKS; FIELDS, 1995).Para obter sucesso nesse manejo é necessário que a instalação de armazenagem seja hermética, impedindo o escape desses gases para a atmosfera.

1.3 Uso de Pós Inertes

O pó inerte à base de terra de diatomáceas é proveniente de fósseis de algas diatomáceas, que possuem naturalmente uma fina camada de sílica.

Esse material fóssil é processado industrialmente, originando um pó de granulometria fina. O pó inerte misturado na massa de grãos, adere à epicutícula dos insetos por carga eletrostática, levando à desidratação corporal e morte dos insetos.

Esse é um dos melhores métodos na atualidade porque o produto é seguro para o usuário e de efeito inseticida duradouro, pois não perde eficácia ao longo do tempo.

2. Métodos Químicos

Sem dúvida é um dos métodos de controle de pragas de grãos armazenados mais empregados atualmente.

Porém vem apresentando restrições de uso à medida que surgem problemas de resistência das pragas aos inseticidas.

2.1 Tratamento Preventivo

Consiste em, no momento de carregar o armazém, aplicar inseticidas líquidos sobre os grãos na correia transportadora e homogeneizar de forma que todo o grão receba inseticida.

Tem por finalidade proteger contra o ataque de pragas que tentarão se instalar na massa de grãos.

Um cuidado importante é não aplicar o inseticida sobre os grãos quentes, logo após eles terem saído do secador, pois o inseticida pode perder a eficiência.

2.2 Tratamento Curativo (Expurgo)

O expurgo ou fumigação é uma técnica empregada para eliminar pragas infestantes através do uso de gás.

O gás liberado ou introduzido no interior do lote de sementes deve ficar nesse ambiente em concentração letal para as pragas.

Por isso, qualquer saída ou entrada de ar deve ser vedada sempre com materiais apropriados, como lona de expurgo.

A fosfina (PH3, proveniente de fosfeto de alumínio ou de magnésio) é um biocida geral, um gás altamente tóxico, que é liberado na presença de umidade do ar, sendo eficaz no controle de todas as fases (ovo, larva, pupa e adultos) das pragas de grãos e sementes armazenadas (LORINI, 2012).

Para uma boa eficiência na operação, o gás deve ser liberado de forma uniforme em vários pontos da massa de grãos armazenados.

Por se tratar de um produto altamente tóxico, somente pessoas habilitadas e devidamente equipadas com EPI devem realizar essa operação.

Apanhado geral sobre as Pragas de Grãos Armazenados

As pragas de armazenamento são tão importantes quanto as que ocorrem durante o desenvolvimento da cultura e merecem o devido cuidado.

As mais importantes estão nas ordens dos coleópteros e dos lepidópteros e podem atacar diversas espécies de grãos armazenados.

Para manejar corretamente, é necessário entender que a prevenção é a melhor alternativa.

Você pode gostar de ler também: Controle Biológico: o que é, para que serve e quais os tipos

Devido a sua importância, comumente nos deparamos com questões sobre esse assunto em diversos concursos públicos para Engenheiro Agrônomo, portanto é muito importante estar por dentro!

Questões de Concurso

1) (MAPA/FJPF, 2006) No armazenamento de grãos de milho observou-se o início da infestação destes por pragas de grãos armazenados. Em uma análise mais acurada determinou-se que o inseto infestante era o Sitophilus zeamais. A espécie deste inseto pertence à ordem:

a) Hymenóptera

b) Lepdóptera

c) Hemíptera

d) Coleóptera

e) Díptera

2) (FUNAI, ESAF, 2016) Os insetos ocasionam perdas significativas durante o armazenamento de grãos. A extensão das perdas causadas por insetos nos grãos pode ser considerada de variadas formas: perda de peso, da qualidade e do valor nutricional. Com relação aos insetos de grãos armazenados, assinale a opção incorreta.

a) As espécies Sitophilus zeamais e Tribolium castaneum são capazes de infestar internamente os grãos.

b) Os insetos são capazes de ocasionar aumento da temperatura da massa de grãos durante o armazenamento.

c) O controle físico de insetos durante o armazenamento inclui fatores como umidade e temperatura.

d) O fumigante mais usado diariamente no controle de insetos de grãos armazenados é a fosfina (PH3).

e) O uso de atmosfera modificada é uma alternativa para o controle de insetos de grãos armazenados.

Respostas:

1) D

2) A

Referências

BANKS, H. J.; FIELDS, P. G. Physical methods for insect control in storedgrain ecosystems. In: JAYAS, D. S.; WHITE, N. D. G.; MUIR, W. E. Storedgrain ecosystems. New York: Marcell Dekker, 1995. p. 353-409.

BOOTH, R. G.; COX, M. L.; MADGE, R. B.  IIE guides to insects of importance to man 3. Coleoptera.  Wallingford: CAB International, 1990. 384p.

GALLO, D.; NAKANO, O.; SILVEIRA NETO, S.; CARVALHO, R. P. L.; BATISTA, G. C.; BERTI FILHO, E.; PARRA, J. R. P.; ZUCCHI, R. A.; ALVES, S. B.;VENDRAMIM, J. D.  Manual de entomologia agrícola. 2. ed. São Paulo: Agronômica Ceres, 1988. 649 p.

LORINI, I.  Insetos que atacam grãos de soja armazenados. In: HOFFMANN-CAMPO, C. B., CORRÊA-FERREIRA, B. S.; MOSCARDI, F. Soja: manejo integrado de insetos e outros artrópodes-praga. Brasília, DF: Embrapa, 2012. p. 421-444.

LORINI, I. Manejo integrado de pragas de grãos de cereais armazenados. Passo Fundo: Embrapa Trigo, 2008. 72 p.

LORINI, I.; KRZYZANOWSKI, F. C.; FRANÇA-NETO, J. B.; HENNING, A. A.; HENNING, F. A  Manejo Integrado de Pragas de Grãos e Sementes Armazenadas. Londrina: Embrapa Soja, 2015. 84 p.

POY, L. de A. Ciclo de vida de Rhizopertha dominica (Fabricius, 1972) (Col., Bostrychidae) em farinhas e grãos de diferentes cultivares de trigo. 1991. 135 f. Tese (Mestrado) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba.

https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/milho/arvore/CONTAG01_38_168200511158.html

Autoria do redator do Ifope:
Victor Gregório Rodrigues Nadal