Os solos brasileiros são um grande desafio para os profissionais da área agronômica, sejam técnicos em campo ou agrônomos concurseiros. Isso acontece pois as suas peculiaridades são muitas, além de serem fundamentais para o sucesso da agricultura. Justamente por isso, esse tema tornou-se um dos tópicos mais explorados pelas principais bancas que realizam concursos da área.

Pensando nessa grande importância que é saber mais sobre os solos brasileiros, elaboramos um artigo contendo alguns dos conhecimentos mais exigidos nos certames: os grupos de solos, suas características, especificidades e distribuição. Confira!

Solos brasileiros como regra

O Brasil, conhecido pela sua biodiversidade, possui, também, grande variedade pedoambiental – resultado das combinações entre diferentes materiais de origem e condições climáticas plurais. 

As nossas condições tropicais, porém, levam à formação de tipos de solo no Brasil que são muito específicos, principalmente na Amazônia e no Cerrado, onde os fatores de formação se combinam com os níveis de precipitação muito superiores à evapotranspiração. Essas condições favorecem o surgimento do LATOSSOLO e do ARGISSOLO que correspondem, respectivamente, à 39 e a 24% de nossa superfície.

Dentre suas principais características está a baixa fertilidade natural, o que torna seu manejo dentro da agricultura muito mais difícil do que o realizado em solos ricos em nutrientes. 

O latossolo e o argissolo apresentam indicadores preocupantes em termos de composição. São eles:

  • Fósforo indisponível (alta fixação por oxi-hidróxidos de ferro e alumínio);
  • pH abaixo de 5 (ácidos);
  • Alta saturação por alumínio (elemento tóxico);
  • Argilas de baixa atividade (caulinita e oxi-hidróxidos);
  • Baixa capacidade de troca de cátions;
  • Baixa saturação por bases (solos distróficos);
  • Baixos níveis de matéria orgânica;
  • Pobreza em macro e micronutrientes;
  • Possíveis níveis tóxicos de ferro e manganês;
  • Suscetibilidade à compactação e à erosão (especialmente os ARGISSOLOS, caracterizados por um horizonte B textural, isto é, com incremento de argila). 

Fertilidade dos solos brasileiros: mito ou verdade?

De fato, os solos tipicamente tropicais têm algumas vantagens, dentre elas:

  • Texturas menos pegajosas, plásticas e coesivas, apresentando melhor condicionamento físico;
  • Topografias mais uniformes, favorecendo a mecanização;
  • A ausência de outono e inverno demasiadamente rigorosos, permitindo múltiplas safras anuais.

Porém, a crença generalizada de que os solos brasileiros são naturalmente muito férteis não condiz com a realidade. A verdade é que o agricultor brasileiro precisa lidar com limitações químicas importantes nas áreas agricultáveis, limitações tão expressivas que são capazes de inviabilizar completamente o crescimento de nossas culturas.

Seja devido ao tão falado ditado popular “em se plantando, tudo dá” ou pelos índices assombrosos de nosso agronegócio pujante (diariamente propagados nas mídias), o senso comum desconhece as dificuldades para se plantar no solo nacional. 

Porém, é fato que produtores e técnicos somam esforços diariamente para construírem fertilidade em áreas naturalmente avessas aos cultivos agrícolas. Os nossos índices de produtividade tornaram-se possíveis por conta dos esforços de muitos técnicos, pesquisadores, universidades e centros de pesquisa [como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e o Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA)]. Esses grandes centros começaram a surgir a partir dos anos 1970 e, dentre outras coisas, desenvolveram e adaptaram técnicas de manejo capazes de construir uma fertilidade tropical que hoje servem de modelo para outros países com condições edafoclimáticas similares às nossas. 

Técnicas fundamentais

As técnicas desenvolvidas para melhorar a qualidade dos solos brasileiros têm um objetivo em comum: transformar a fertilidade potencial em fertilidade real. Para isso, na maioria de nossas propriedades são utilizadas algumas técnicas fundamentais, como:

1) Calagem – a aplicação de calcários eleva o pH, fornece cálcio e magnésio e aumenta a atividade da microbiota;

2) Gessagem – a aplicação de gesso eleva os níveis de cálcio em subsuperfície e neutraliza parcialmente o alumínio ativo entre 20 e 40 cm, o que favorece a enraizabilidade;

3) Sistemas baseados na matéria orgânica (MOS) – o plantio direto, o cultivo mínimo e o cultivo de coberturas antecessoras, dentre outros, têm por base a acumulação de MOS e o não revolvimento (ou o revolvimento mínimo) da camada arável, como estratégia para:

  • Reter umidade;
  • Evitar variações bruscas de temperatura ao longo dos ciclos dia-noite;
  • Proteger a superfície contra o efeito “splash” das gotas das chuvas;
  • Diminuir o adensamento;
  • Aumentar a infiltrabilidade e o armazenamento hídrico (o que desfavorece o processo erosivo);
  • Disponibilizar nutrientes;
  • Aumentar a capacidade de troca de cátions;
  • Tamponar o pH;
  • Armazenar carbono;
  • Aumentar a agregação e a estruturação da camada arável (formação de “estrutura efêmera”);
  • Reconstruir a continuidade dos solos, dentre diversos outros benefícios.

4) Outras – Silicatagem, posicionamento correto de fertilizantes fosfatados, parcelamento das fontes de nitrogênio e potássio, melhores tecnologias de produtos, inoculação de sementes com micro-organismos fixadores de nitrogênio, condicionamento de solo etc.

Solos brasileiros como exceção

Não é em todo território tupiniquim que a baixa qualidade química é uma realidade. Na verdade, possuímos muitas áreas com solos de média e alta fertilidade. Eles foram forjados em locais caracterizados pelo baixo grau de intemperismo, ou seja, em que o processo de transformação das rochas por desagregação (física) ou decomposição (química) de suas estruturas é menos intenso.

Geralmente, a taxa de evapotranspiração desses locais costuma ser superior à taxa de precipitação, o que diminui a importância dos intemperismos hídrico e químico e, consequentemente, dá destaque ao papel do material de origem e leva a uma melhor qualidade do solo. 

Como resultado de todas essas características, esses solos se tornam pouco profundos, menos evoluídos e com presença significativa de minerais alteráveis. Não raro, esses outros solos brasileiros têm indicadores químicos de fertilidade em faixas ótimas, como pH entre 6 e 6,5 e caráter eutrófico, característicos de CAMBISSOLOS do sertão baiano.

Essas outras variantes de solo distribuem-se principalmente nas regiões Nordeste e Sul, onde há uma maior variedade de solos. São os mais importantes os CHERNOSSOLOS, LUVISSOLO e PLANOSSOLOS, que ficam na região Nordeste, e os CHERNOSSOLOS, NITOSSOLOS e PLANOSSOLOS, que ficam na região Sul. 

Outros tipos de solos que apresentam grande fertilidade são os CAMBISSOLOS e NEOSSOLOS que, diferente dos demais, apresentam uma ocorrência pulverizada ao longo de todo o território nacional.

Todos esses tipos de solo brasileiro compõem, quando considerados em conjunto, cerca de 25,51% de nossas áreas. Quando analisados separadamente, por sua vez, ocupam, em ordem decrescente, as seguintes porções do país:

1) NEOSSOLOS: 15%;

2) LUVISSOLOS: 3%;

3) CAMBISSOLOS: 2,5%;

4) PLANOSSOLOS: 2%;

5) NITOSSOLOS: 1,5%;

5) CHERNOSSOLOS: 0,5%.

Vale ressaltar, também, algumas informações importantes sobre esses solos brasileiros, que têm características específicas e são mais ou menos adequados para alguns tipos de plantio. São elas:

1) Os LUVISSOLOS são especialmente importantes para o Semiárido;

2) Os CAMBISSOLOS são especialmente importantes na parte oriental dos planaltos dos estados Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná (com altos teores de matéria orgânica e alumínio). Além disso, têm importância também na Bahia (com alta fertilidade natural) e no Acre (onde ocupam parte significativa do território);

3) PLANOSSOLOS são importantes para os produtores de arroz irrigado no Rio Grande do Sul e para as pastagens nordestinas e pantaneiras;

4) NITOSSOLOS estendem-se de São Paulo até o Rio Grande do Sul e compreendem a subordem Vermelho (Terra Roxa Estruturada), considerados por muitos como os solos brasileiros mais férteis.

Limitações da exceção

Acima, citamos apenas alguns tipos de solos no Brasil. Mas existem diversos outros. Há alguns que são menos corriqueiros, mas que condicionam desafios particulares, podendo apresentar algumas das seguintes limitações:

1) Maior resistência à mecanização, pois o afloramento rochoso e a pouca profundidade do perfil, por exemplo, podem inviabilizar o uso de certos equipamentos;

2) Tendência à salinização devido à alta capacidade de retenção de íons, à pouca profundidade e à alta taxa evapotranspirativa. Em algumas meso e microrregiões, essas características favorecem a ascensão de sais por capilaridade, muitas vezes havendo a formação de eflorescência salina típica;

3) Solos rasos e pegajosos, que podem acumular água demasiadamente, impossibilitando o cultivo durante algumas épocas ou aumentando as chances de perdas por chuvas. 

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Solos Brasileiros – Teste Rápido

Agora que finalizamos a leitura sobre os solos brasileiros, chegou a hora de testar se você realmente aprendeu alguns conceitos e informações discutidos no artigo. Além disso, é o momento de se atentar para o fato de que talvez essas informações sejam, de fato, um diferencial para a aprovação do “agrônomo concurseiro”. Confira duas questões que caíram em provas anteriores:

1) (IBGE: FGV, 2017)

O sistema convencional de preparo do solo consiste na utilização de técnicas como a aração e gradagem para destorroamento e nivelamento da área agrícola. O emprego desse mesmo manejo, ao longo de vários anos sucessivos, poderá ocasionar a degradação das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo.

Nesse sentido, a adoção de técnicas mais conservacionistas do solo proporcionará ao longo do tempo:

A) quebra dos agregados e, consequentemente, maior conservação da matéria orgânica do solo;

B) aumento da desestruturação do solo e, consequentemente, redução da susceptibilidade a processos erosivos;

C) aumento da agregação do solo, maior proteção da matéria orgânica e atenuação do efeito nocivo do Al3+ ;

D) aumento da compactação do solo em profundidade em função do uso de subsolador;

E) aumento das emissões de CO2 em função do baixo acúmulo de carbono no solo.

2 (IBGE: FGV, 2017)

A paisagem brasileira possui diferentes biomas, porém os solos em que estão assentados são predominantemente Argissolos e Latossolos. Da mesma forma, as áreas exploradas com produção agro-silvo-pastoril realizam-se basicamente nessas mesmas classes de solos. Sobre os Argissolos e Latossolos, analise os itens a seguir:

I. Os Argissolos são mais sensíveis aos processos erosivos por apresentarem horizonte B textural.

II. O mineral predominante na fração argila dos Latossolos é a montmorilonita.

III. Nos Argissolos são encontrados, na fração argila, de forma predominante, caolinita e óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio.

IV. Todos os Latossolos apresentam alto teor de matéria orgânica no seu horizonte superficial.

V. A infiltração e percolação da água é, em geral, de maior intensidade nos Argissolos do que nos Latossolos.

Está correto somente o que se afirma em:

A) I e II;

B) I e III;

C) II e V;

D) III e IV;

E) IV e V.

Preparatório para Concursos Agronomia
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Gabarito:

1. C

2. B

Autoria do redator do Ifope:
Elialdo Alves de Souza