Viroses representam um dos principais problemas fitossanitários no cultivo das hortaliças folhosas, especialmente porque, após a planta estar acometida pelo vírus, há carência de produtos curativos disponíveis no mercado que possam ser utilizados nas plantas. 

Muitos vírus são transmitidos por insetos e, na prática, em cultivos convencionais para evitar viroses em hortaliças, realizam-se aplicações regulares preventivas de inseticidas para combater vetores transmissores de muitos tipos de vírus. 

As aplicações de inseticidas, produtos curativos, nem sempre alcançam resultados satisfatórios e esperados pelos produtores em muitas culturas. O insucesso de tais medidas de controle estão, muitas das vezes, associadas à maneira como são feitas as aplicações desses produtos químicos, confrontando com a qualidade do produto, segurança alimentar e promovendo a resistência do inseto praga. Esses casos mal sucedidos, são minimizados quando há assistência técnica na propriedade produtiva e promoção da capacitação do produtor/aplicador. 

Diante disso, estratégias de controle de viroses em hortaliças são também alvo de pesquisas no desenvolvimento de produtos tecnológicos e que buscam, ao mesmo tempo, a acessibilidade para os horticultores no controle de viroses.

Considerando a importância econômica das hortaliças no Brasil, o agrônomo concurseiro precisa conhecer sobre a virologia vegetal e algumas das principais viroses que afetam as hortaliças folhosas em plantios brasileiros. 

Viroses em plantas e seus transmissores

O mecanismo de multiplicação dos vírus acontece apenas dentro de uma célula hospedeira viva, em plantas como nas hortaliças, já que estes organismos não possuem metabolismo próprio.

A nível molecular, acontece um processo de reconhecimento e interação. Como isso ocorre? Se a célula inoculada for suscetível ao vírus, ele se estabelecerá na célula hospedeira, se multiplicará, irá disseminar-se dentro da planta hospedeira e induzirá, portanto, alterações bioquímicas e fisiológicas na planta hospedeira ao longo do processo infeccioso.

Uma vez infectada a planta, após o período de incubação, as primeiras alterações são desencadeadas no metabolismo vegetal, resultando em desenvolvimento anormal da planta, com paralisação do crescimento (nanismo) e também de redução da taxa fotossintética e de sua capacidade de produção.

Os principais vírus que infectam as hortaliças pertencem aos grupos dos tospovírus, potyvírus e geminivírus que são transmitidos por tripes, afídeos (pulgões), e mosca branca, respectivamente. Os geminivírus tem expressividade maior em hortaliças não folhosas, como principalmente em tomate e batata-doce. 

Já os tobamovírus são disseminados entre plantas por meio dos tratos culturais, e também transmitidos por sementes, que constituem o principal meio de dispersão a longas distâncias. Este grupo de vírus infectam solanáceas, como pimentas e pimentões.

A presença desses vírus na horticultura, ocasionam perdas de produção e econômica na maioria das lavouras de hortas no Brasil.

Para conhecermos um pouco sobre esses vírus, abaixo veremos algumas hortaliças folhosas que são acometidas por esses grupos de vírus.

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Viroses em hortaliças folhosas

Tospovirus: vira-cabeça em alface

A doença vira-cabeça é uma das principais viroses em alface. Esta virose encontra-se amplamente disseminada na maioria das regiões produtoras de alface do país e é causada por um vírus pertencente ao grupo tospovirus (gênero Tospovirus; família Bunyaviridae) transmitidos por tripes.

 A doença vira-cabeça (espécies virais: TSWV, GRSV e TCSV), já foi descrita em vários estados brasileiros, com registro também nas culturas da batata, abóbora, chuchu, cebola, ervilha, grão-de-bico, lentilha, almeirão, pimenteira e coentro, além de tomate e pimentão, entre outras hortaliças. 

Os tospovirus são disseminados por espécies de tripes (Thysanoptera: Thripidae) de maneira circulativa – propagativa. O vírus é adquirido pelo vetor no segundo estádio larval, ao se alimentar de uma planta infectada (período de aquisição). Após 4 a 10 dias da aquisição, ocorre o período de latência, o inseto, então, torna-se apto a transmitir o vírus. O vírus é retido pelo vetor durante todo o seu ciclo de vida, entretanto, não é transmitido para a progênie e não são transmitidos por sementes. O inseto, ao atingir o estádio adulto, transmite o vírus para uma planta sadia durante a alimentação. Seu ciclo dura em torno de 12 dias e os adultos podem viver por mais 15 dias, dependendo da temperatura ambiente. Neste período, as fêmeas podem colocar de 100 a 200 ovos (Embrapa, 2014). 

A presença de tripes nas hortas e viveiros de mudas é sinônimo de ataque do vira-cabeça, que pode ocasionar perdas significativas e até dizimar lavouras inteiras. Muitos produtores substituem plantios de alface por outras hortaliças que não são alvo do inseto transmissor dessa doença. 

Na alface, os tripes são encontrados no interior das folhas em desenvolvimento, no ápice da planta e na face inferior das folhas já expandidas, ficando abrigados entre dobras e reentrâncias, muitas vezes em grupos (colônia). Os sintomas da doença são clorose e presença de anéis cloróticos, às vezes concêntricos, em folhas. Podem ser notadas algumas manchas necróticas em folhas, necrose de brotações terminais e paralisação no crescimento da planta.

Viroses: Sintomas de vira-cabeça em alface.
Sintomas de vira-cabeça em alface. (Fotos: Alessandra de Jesus Boari)

As medidas de controle dessa virose seria no sentido de aplicação de boas práticas agronômicas, como:

  • monitorar os adultos com armadilhas adesivas;
  • promover rotação de cultura;
  • eliminar plantas hospedeiras alternativas do vírus e/ou do vetor dentro e nas proximidades da área cultivada;
  • fazer uso de variedades resistentes, em plantios em sistema convencional;
  • proceder aplicação de inseticidas nas plantas na sementeira e após o transplantio das mudas para o campo.

É importante o produtor realizar policultivos, que seria mesclar plantios de alface com outras culturas não hospedeiras do tripes e evitar plantios sucessivos de alface.  

Potyvirus: Mosaico TuMV

Os vírus potyvirus (gênero Potyvirus, família Potyviridae), são capazes de infectar uma grande variedade de espécies de plantas. Neste grupo, o vírus Turnip mosaic virus (TuMV) causa uma doença conhecida por mosaico TuMV em plantas principalmente de agrião, chicória, couve e recentemente em rúcula. A transmissão desse vírus ocorre por meio de pulgões por picada de prova, ou seja, na forma não persistente. 

Os sintomas causados por esse vírus principalmente nas Brassicaceae, são diversificados. Nas folhas, notam-se presença de deformações, anéis, bolhas, mosaico acompanhando as nervuras, clareamento de nervuras e pontos cloróticos e necróticos. Em casos isolados severos do TuMV podem causar nanismo, má formação do meristema, causando, ocasionalmente, a morte da planta. Já nas raízes o TuMV pode causar descoloração e necrose levando a planta à morte.

Nas couves, por exemplo, as folhas mais velhas não exibem sintomas e as folhas mais novas apresentam clareamento, mosaico, mosqueado e distorções. Já em chicória, os sintomas são a presença do mosaico leve, leve deformação e bolhosidade foliar, folhagem pequena e nota –se também enfezamento da planta.

Viroses: Sintomas do TuMV em couve.
Sintomas do TuMV em couve. (Fotos: Alessandra de Jesus Boari)
Viroses: Sintomas do TuMV em chicória. (Foto: Alessandra de Jesus Boari)
Sintomas do TuMV em chicória. (Foto: Alessandra de Jesus Boari)

Como medida de manejo para as virologias causadas por potyvirus, proceder com a eliminação de plantas doentes e outras hospedeiras do vírus e do vetor dentro e próximo da área de plantio e; fazer barreiras em volta do plantio com milho, por exemplo, para dificultar a migração do inseto-vetor.

Para combater a infestação de pulgão, em cultivos agroecológicos, alguns métodos de controle como o uso da solução de fumo, sabão e álcool, da solução de urtiga e a solução de confrei têm demonstrado bons resultados.

Como vimos, para minimizar os danos causados por fitovírus, é necessário que sejam adotadas medidas preventivas, visando evitar ou reduzir a infecção e diminuir o seu efeito na produção e na qualidade das hortaliças. Além disso, utilizar sementes sadias, no caso dos vírus transmitidos por sementes, como os pertencentes ao grupo dos tobamovírus, e plantar variedades resistentes ou tolerantes. 

Preparatório para concursos Agrônomos
Saiba mais!

Agora, já compreendido o assunto sobre fitovírus, resolva as questões de provas abaixo para fixar o conhecimento e procure conhecer mais sobre as diferentes doenças em plantas provocadas por outros agentes, como por fungos e bactérias.

Bons estudos!

Questões de concursos

01) FUNCAB – 2013 – SC-CE – Analista de Desenvolvimento Urbano – Engenharia Agronômica, 2013

Em fitopatologia, a diagnose de uma doença de etiologia viral envolve uma série de testes até que realmente seja comprovado que o agente causal é um vírus. Esses testes, que visam à detecção do vírus numa planta doente, têm também como objetivo a caracterização ou identificação do vírus. Existe um teste que é empregado na diagnose de viroses e na caracterização de vírus, que é um procedimento por meio do qual se detecta a presença de vírus em plantas que, apesar de o abrigarem, não exibem sintomas. Nesse caso, a planta investigada fornece o suco celular, ou uma amostra de tecido, que será colocada em contato com a chamada planta teste ou indicadora, através de inoculação mecânica ou enxertia. Para algumas viroses, um vetor é usado para transferir o vírus, e, desta forma, a planta indicadora, quando infectada, mostrará um quadro sintomatológico característico, que permitirá a detecção do vírus em questão.

Esse teste de detecção é denominado:

a) Serologia.
b) Indexação.
c) Hibridação.
d) Efeito Citológico.
e) Gama de Hospedeiro

02) IFTO – 2018 – IFTO – Agropecuária – Agronomia com ênfase em Agricultura

A doença ‘vira-cabeça do tomateiro’, (causada por várias espécies de Tospovirus, entre eles o Tomato spotted wilt virus- TSWV), é uma das mais importantes do tomateiro. Com relação às medidas gerais de controle que podem ser utilizadas, assinale a resposta incorreta:

a) Cultivares resistentes.
b) Evasão.
c) ‘Roguing’.
d) Tratamento de sementes.
e) Controle do inseto vetor.

Gabarito

01) b
02) d

Referências bibliográficas

Embrapa. Manejo integrado de pragas do tomateiro para processamento industrial. Circular Técnica 129, Brasília, DF Fevereiro, 2014 2014. Disponível em: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/991795/1/1205CT129.pdf, acesso em: 04 abr. 2020.

MOREIRA, V. R. R. Controle do pulgão. Fichas Agroecológicas: Tecnologias Apropriadas para a Agricultura Orgânica.  Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/sustentabilidade/organicos/fichas-agroecologicas/arquivos-sanidade-vegetal/21-controle-de-pulgao.pdf/view, acesso em 04 abr. 2020.

Autoria da redatora do Ifope:
Janaina Canaan Rezende