Desenvolvimento de novos produtos alimentícios

A realidade do mercado consumidor no âmbito da alimentação, devido às novas tendências de consumo, exige o desenvolvimento de novos produtos em um curto prazo, convenientes e práticos, sem deixar a desejar em sabor e qualidade.

Com o objetivo de organizar o processo, é necessário haver uma divisão de fases com entregas definidas para cada etapa. A seguir abordaremos as diversas etapas e áreas envolvidas no processo de desenvolvimento de um novo produto alimentício.

O desenvolvimento de novos produtos – trabalhando pela competitividade

O desenvolvimento de novos produtos é considerado uma etapa importante para a criação e sustentação da competitividade entre as indústrias atualmente. Para muitas, o investimento no setor de Pesquisa e Desenvolvimento – P&D é um fator estratégico além de necessário para continuar atuando e se destacar no mercado.

Ser o pioneiro pode ser uma grande vantagem dentre os concorrentes, no entanto, há riscos com inovações que podem não se sair tão bem e causar até mesmo prejuízos.

Um produto inovador ao entrar em contato com o consumidor e ser bem aceito, criará uma barreira para os seus concorrentes, os quais necessitarão desenvolver produtos melhores e com mais atrativos com menor custo, para que conquistem o público alvo. O grande número de lançamentos de produtos faz com que consumidores aumentem as expectativas e diminuam fidelidade às marcas, obrigando as empresas a serem mais ágeis e eficientes nesse processo.

A indústria de alimentos tem passado por muitas transformações nos últimos anos devido principalmente às mudanças de comportamento dos consumidores.

Para desenvolver novos alimentos, muitas empresas estão atentas às tendências ditadas pelos consumidores, agregando valor aos produtos por meio de variedade, conveniência, qualidade e diferentes fontes nutricionais, já que estes estão cada vez mais atentos no discernimento quanto à qualidade, valor, benefícios e funcionalidades do que ingerem.

O processo de desenvolvimento de produtos é complexo já que envolve profissionais de diversos setores internos da empresa como marketing, logística, área técnica, dentre outras, além do ambiente externo à empresa: o mercado.

Tendências no processo de desenvolvimento de produtos alimentícios

O ponto de partida para o desenvolvimento de novos produtos deve ser a busca do entendimento das necessidades do consumidor.

Atualmente uma das fortes tendências na área de alimentos é o enfoque nos nichos de mercado, os quais são parcelas poucos ou nada atendidas de um grande grupo de consumidores com exigências específicas.

Essa circunstância gera oportunidade de desenvolver novos produtos com maior valor agregado como, por exemplo, sem ingredientes de origem animal.

Outras buscas dos consumidores são a praticidade, como comidas prontas para consumo ou pré-preparadas, como, os alimentos congelados, e aqueles com alegações de benefícios à saúde.

Duas das principais estratégias adotadas pelas empresas alimentícias são:

• a segmentação de mercado. Ex: produtos voltados para pessoas vegetarianas ou para idosos;
• e, a diferenciação dos produtos. Ex: através da valorização do sabor e da textura natural de matérias-primas dos alimentos ou  facilitação do preparo.

Etapas do processo de desenvolvimento de novos produtos

O desenvolvimento de um novo produto é tipicamente dividido em várias fases ou etapas visando o controle do processo, as principais são:

Geração de ideias

Através do estudo de mercado e análise de viabilidade técnica realizada pelos setores de marketing e P&D, se define o conceito do novo produto.

Elaboração de “Briefing”

Marketing cria um guia para a execução do projeto com todas as informações do produto que se deseja lançar.

Protótipo do produto

Etapa que envolve o setor de P&D o qual irá criar a fórmula e realizar testes de laboratório verificando o custo, informação nutricional, ingredientes requisitados e/ou rejeitados descritos no “briefing” enviado pelo marketing, além de adequar a composição e embalagem à legislação vigente para o produto.

Teste em planta piloto

Definição do processo produtivo, avaliação sensorial e de estabilidade.

Teste em planta industrial

Alinhamento com o setor de produção e qualidade do novo processo produtivo.

Validação

Validação com os setores envolvidos no desenvolvimento para verificar se o resultado obtido está adequado aos objetivos traçados.

Tipos de Projetos

Os projetos de uma empresa podem ser classificados em:

• extensão de linha;
• reformulação de produtos existentes;
• produto novo para a empresa;
• nova embalagem para produtos já existentes no portfólio;
• produtos inovadores;
• nova forma de produtos existentes (por exemplo, novo formato de embalagem).

As empresas normalmente conduzem todos os tipos de projetos simultaneamente, sendo que as reformulações e novas embalagens para produtos existentes podem ser por demanda de marketing, para um reposicionamento do produto, por exemplo, ou por necessidade regulatória devido à atualização de legislação.

O tempo médio de duração dos projetos pode variar de um a vários meses, dependendo do tipo de projeto e sua complexidade, além do número de funcionários envolvidos.

Você pode gostar de ler também: Contaminação cruzada: o que é e como prevenir na indústria de alimentos

Restrições e problemas no desenvolvimento de produtos alimentícios

Um dos problemas enfrentados no setor de alimentos para inovar é principalmente o elevado custo da pesquisa tecnológica.

De modo geral, como as gerências das empresas possuem uma visão de curto prazo e o sucesso não é garantido, preferem não fazer grandes investimentos em pesquisa científica e de mercado.

Dessa forma o produto é desenvolvido de acordo com a opinião da alta administração da empresa, podendo ser um dos fatores que mantêm a alta ocorrência de fracasso de novos produtos após um ano de lançamento.

Outra dificuldade é referente às regulamentações aplicáveis para à indústria de alimentos que são baseadas em dados científicos reconhecidos pelas autoridades regulatórias do setor.

Assim, para peticionar o registro de alimentos e/ou novos ingredientes, dentre outros documentos, é requerida a comprovação da segurança de uso. Já para alegação de propriedades funcionais ou de saúde, também conhecida como “claims”, são exigidos estudos científicos que comprovem a eficácia, sendo esses processos de alto custo para as empresas além de moroso, devido ao longo tempo que pode levar para ser avaliado pela ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

Além disso, para a comercialização de alimentos, há licenças e certificações necessárias, exigências que dificultam o desenvolvimento de fórmulas inovadoras pelas empresas.

Perspectivas para o futuro

O desenvolvimento de novos produtos é condição essencial àquelas empresas que pretendam destacar-se e sobreviver em um mercado alimentício cada vez mais competitivo e exigente, passando a ser uma estratégia empregada não apenas como uma questão de aprimoramento do negócio, mas como uma necessidade fundamental para manterem-se neste novo contexto.

Mesmo com dificuldades regulatórias exigidas pelos órgãos sanitários e a necessidade de alto investimento em tecnologia, empresas brasileiras devem buscar inovar conceitos e ouvir o consumidor para agregar valor aos seus produtos.

Autoria da redatora do Ifope:
Ana Luiza M. Santos