Você já ouviu falar em abate humanitário? É provável que sim, principalmente se você estiver ligado ao assunto como profissional e estudante. A popularidade do assunto se deve ao fato de que a preocupação com o bem-estar animal é cada vez mais frequente para o setor de produção de carne, seja pela conscientização dos produtores ou por exigências do consumidor. 

Por esse motivo, hoje, muitas empresas do setor já investem no abate humanitário. Basicamente, essa forma de abate objetiva realizar todas as práticas de manejo com o animal de forma ética e respeitosa, incluindo desde o embarque dos animais na propriedade rural até a sangria no matadouro. Não à toa, o abate humanitário vem se tornando regra em abatedouros e frigoríficos, seja para abate de suínos, abate de bovinos, entre outros animais.

Se você deseja entender de forma mais aprofundada sobre o que é abate humanitário, sua relação com o bem-estar animal, sua importância e, ainda, suas principais diretrizes, continue acompanhando o texto! Aproveite o conteúdo para se manter informado e preparar-se para o trabalho e para provas de concursos da área!

O que é abate humanitário?

Podemos resumir o abate humanitário como uma forma que visa oferecer o mínimo possível de sofrimento ao animal. Para tanto, é estabelecido um padrão de ética e de muito respeito ao animal durante todas as fases pela qual ele passa até chegar à fase final de abate. Os animais são seres capazes de sentir sensações como felicidade, satisfação e dor. Por esse motivo, é importante garantir seu bem-estar, mesmo na hora do abate. 

No abate humanitário, adota-se um conjunto de técnicas e procedimentos com a finalidade de diminuir o sofrimento do animal. E, para garantir o cumprimento das normas de abate e bem-estar animal no pré-abate, existem diversas leis no Ministério da Agricultura, que, inclusive, priorizam o abate humanitário. Veja, a seguir, algumas regras que são observadas durante o processo.

Como o abate humanitário ocorre?

Em entrevista à Gaúcha Zero Hora, o veterinário e diretor executivo do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no RS (Sicadergs), Zilmar Moussalle. Confira um resumo do que foi detalhado pelo veterinário:

  • Transporte: os animais não devem ficar superlotados, mas também não deve haver espaço suficiente para que eles fiquem caindo. Também, é importante evitar qualquer coisa que possa machucá-los, como pregos, partes pungentes etc. Além disso, o motorista deve ser treinado para manter uma velocidade adequada, fazer algumas pausas, fazer verificações para identificar animais caídos ou sobrepostos e ter um instrumento para ajudar animais que porventura fiquem com a pata para fora;
  • Descarregamento:  os animais são descarregados em currais que devem ter, no mínimo, 2,5 metros quadrados de espaço por animal e, durante 24 horas, recebem uma dieta hídrica;
  • Box de atordoamento: depois do período de 24 horas, os animais são tocados com um chocalho até chegarem ao box. Estando no local, cada um deles é encerrado e atordoado com uma pistola pneumática e, depois, ficam inconscientes. 
  • Calha de sangria: usam-se correntes para pendurar os animais que são encaminhados para a calha de sangria. Com o animal ainda inconsciente, cortam-se os grandes vasos para que saia o máximo de sangue. Por fim, ocorre o abate.

Além de garantir o bem-estar animal e o mínimo de sofrimento possível, o abate humanitário prevê que os animais devem estar desestressados e inconscientes durante a sangria. Desse modo, a insensibilização é considerada a etapa mais crítica dentre todos os processos e deve durar até o final da sangria.

Lembrando que, para que o abate humanitário aconteça com sucesso, é necessário que todas as pessoas envolvidas no processo de pré-abate e abate estejam devidamente treinadas. O treinamento vai depender da indústria, onde deve haver profissionais capacitados para resolver problemas, identificar falhas e realizar treinamentos internos; e do serviço veterinário oficial, que deve identificar falhas na indústria e tomar as ações fiscais necessárias.

Que fatores causam sofrimento durante o pré-abate?

1- Transporte inadequado

Como tratamos acima, o transporte correto é essencial para manter o bem estar animal, além de fazer parte das normas para garantir o abate humanitário. Portanto, durante todo o processo de transporte, que inclui embarque, transporte e desembarque, é importante evitar fatores estressantes. Pois, um transporte inadequado pode causar grande estresse, como também, hematomas e fraturas.

2- Desrespeito com o período de descanso

O momento de transporte causa muito desgaste físico e emocional para os animais, além de desidratá-los. Por esse motivo, é importante que, depois de desembarcá-los, os animais tenham o tempo de descanso em um ambiente calmo e com acesso a água. Esse tempo de descanso deve ser estritamente respeitado.

3- Contato com estranhos

Acostumados a encontrar determinadas pessoas e com os animais com os quais convivem, quando os animais chegam aos frigoríficos e se deparam com um grupo de estranhos, o nível de estresse aumenta.

4- Agressividade

Uma maneira de observar se houve maus tratos durante o manejo de pré-abate é constatar hematomas, fraturas e contusões, por exemplo. Tais situações são exemplo de agressividade, que provoca estresse ao animal e afeta seu bem-estar, causando dor e sofrimento.

5- Mão de obra despreparada

Outro fator que aumenta, e muito, tanto o estresse psicológico, quanto físico, é o manejo inadequado de profissionais que não estão plenamente preparados. Isso afeta bastante o bem-estar animal durante todo o processo que envolve o abate. Como consequência, pode haver machucados, cansaço e aumento de temperatura. Por isso, é importante que essa etapa seja executada por profissionais capacitados, que saibam conheçam o comportamento dos animais e saibam tornar o momento menos sofrido e estressante.

6- Instalações inadequadas

Áreas de descanso mal preparadas, sem acesso à água ou desprotegidas do clima, pisos sem função antiderrapante, má iluminação, falta de ventilação, desconforto térmico e bordas cortantes ou fora do lugar são alguns exemplos que podem ocorrer nas instalações e que causam estresse, dor e sofrimento aos animais.

7- Equipamentos inadequados ou em falta

Utilizar equipamentos inadequados ou não utilizar equipamentos essenciais não garantem o abate humanitário. Portanto, os equipamentos devem ser adequados e aprovados por legislação conforme cada espécie, além de haver material reserva, caso algum equipamento falhe.

Aproveite para ler também: Bem estar no abate de bovinos: 3 dicas para garantir esse direito

Quais as diretrizes do abate humanitário?

As diretrizes nacionais de bem-estar animal foram baseadas nas recomendações da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). Tais recomendações tratam da necessidade de evitar o sofrimento dos animais durante o pré-abate e o abate e, conforme o material didático “Abate Humanitário de Bovinos”, envolvem os seguintes pontos:

  • Os animais devem ser transportados apenas se estiverem em boas condições físicas;
  • Os manejadores devem compreender o comportamento dos animais;
  • Animais machucados ou sem condições de moverem-se devem ser abatidos de forma humanitária imediatamente;
  • Os animais não devem ser forçados a andar além da sua capacidade natural, procurando-se evitar quedas e escorregões;
  • Não é permitido o uso de objetos que possam causar dor ou injúrias aos animais;
  • O uso de bastões elétricos só deve ser permitido em casos extremos e quando o animal tiver clareza do caminho a seguir;
  • Animais conscientes não podem ser arrastados ou forçados a moverem-se caso não estejam em boas condições físicas;
  • No transporte, os veículos deverão estar em bom estado de conservação e com adequação da densidade;
  • A contenção dos animais não deve provocar pressão e barulhos excessivos;
  • O ambiente da área de descanso deve ser iluminado e apresentar piso bem drenado, respeitando o comportamento natural dos animais;
  • No momento da espera no frigorífico, deve-se supri-los com suas necessidades básicas como fornecimento de água, espaço, condições favoráveis de conforto térmico;
  • O abate deverá ser realizado de forma humanitária, com equipamentos adequados para cada espécie;
  • O equipamento de emergência deve estar disponível, em caso de falha do primeiro método de insensibilização.

Além das diretrizes brasileiras, também existem exigências internacionais. O Regulamento EC 1099/2009, por exemplo, trata do abate na União Europeia (UE). Ele estabelece regras mínimas para proteger os animais durante o manejo e amplia as medidas para os países que fornecem carne, como é o caso do Brasil. Conforme o material didático Abate Humanitário de Bovinos, dentre os requisitos estabelecidos pelo regulamento, destacam-se:

  • Obrigatoriedade de todo o estabelecimento de abate ter o responsável pelo bem-estar dos animais. Esse profissional, além de fiscalizar, deve possuir autoridade direta, a fim de identificar as prioridades na rotina e determinar ações que supram as necessidades de bem-estar animal;
  • Qualificação da mão de obra, exigindo treinamentos em bem-estar animal, seus registros e seus respectivos treinamentos de reciclagem;
  • Manutenção dos equipamentos e registros contínuos de monitoramento.

Por que é importante priorizar o abate humanitário?

Sabendo que os animais são seres conscientes, com capacidade de expressar tanto felicidade, como sofrimento, é necessário fazer o máximo para promover o bem-estar animal. Esse tipo de atitude está cada vez mais presente e tem se tornado essencial nos dias atuais. 

Também é importante destacar que existem diversas medidas tomadas pelo governo brasileiro para evitar sofrimento desnecessário aos animais, como a Instrução Normativa 3, que trata sobre os métodos de insensibilização; a Normativa 56, falando sobre sistemas de produção e transporte de animais; e a Circular 12, que estabelece planilhas oficiais padronizadas acerca da verificação de bem-estar animal em frigoríficos.

Por fim, o abate humanitário traz benefícios ao consumidor, pois, visando reduzir os problemas que o manejo incorreto traz, o consumidor consegue ter um produto de qualidade, que foi produzido de forma correta e respeitando o animal.

Como o assunto de abate humanitário aparece em concursos?

Confira duas questões de concursos anteriores nos quais o assunto de abate humanitário aparece:

Q228266 – INEP – 2013 – ENADE – Zootecnia

O manejo pré-abate está diretamente ligado ao bem-estar animal, sendo que em diversos países vigora a adoção das técnicas de abate humanitário. Essas técnicas são definidas como o conjunto de procedimentos que garantem o bem-estar dos animais durante o embarque na propriedade rural e o manejo no frigorífico. Cumpre ressaltar que o abate humanitário não é só sinônimo de qualidade sanitária, mas também de qualidade ética, além de fazer parte da preocupação dos consumidores. Disponível em: . Acesso em: 4 set. 2013 (adaptado). Acerca do abate humanitário, avalie as afirmações que se seguem.

I. O transporte é uma das etapas importantes do abate humanitário e, se realizado de forma inadequada, poderá ocasionar grande estresse aos animais, o que pode comprometer a qualidade da carcaça.

II. Caso os procedimentos de abate provoquem estresse nos animais, há possibilidade de que sejam produzidas carnes de pior qualidade, devido à redução nas concentrações de glicogênio no músculo, que impede a produção de lactato e a queda do pH.

III. O uso de currais de espera nos frigoríficos deve ser evitado, pois os animais são entregues após serem submetidos ao jejum nas propriedades rurais.

IV. A insensibilização é uma etapa imprescindível ao abate humanitário e é responsável por deixar o animal inconsciente até o final da sangria.

V. A produção de carne escura, firme e seca (DFD) pode ocorrer quando os animais são submetidos ao estresse e não possui relação com o tempo de prateleira.

É correto apenas o que se afirma em

a) I, II e III.

b) I, II e IV.

c) I, III e V.

d) II, IV e V.

e) III, IV e V.

Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: SEGEP-MA Prova: FCC – 2018 – SEGEP-MA – Fiscal Estadual Agropecuário – Médico Veterinário

De acordo com a Instrução Normativa MAPA, no 3, de 17 de janeiro de 2000, os métodos de insensibilização para o abate humanitário dos animais classificam-se em:

a) método elétrico: pneumático atordoador; tanger com choque elétrico; uso da choupa; sangria (veia jugular e carótida), sem estados de atordoamento ou insensibilização.

b) monitoramento da posição dos eletrodos no caso de insensibilização elétrica; intervalos de tempo entre a contenção e o fim da insensibilização e entre a insensibilização e a sangria; seção das artérias carótidas e/ou do tronco bicarótico.

c) método de insensibilização através de pequeno golpe no crânio: efetuado com eficácia, de modo a resultar num estado de consciência imediata; sangria; do cérebro, para identificar o efeito da ação mecânica.

d) método mecânico percussivo penetrativo ou não penetrativo; elétrico ou eletronarcose; exposição à atmosfera controlada com dióxido de carbono ou com mistura de dióxido de carbono e gases do ar, para levar a estados de atordoamento ou insensibilização.

e) operação de sangria: os animais não devem ser tratados com crueldade; os animais não podem ser estressados desnecessariamente; a sangria deve ser a mais rápida e completa possível; as contusões na carcaça devem ser mínimas; o método de sangria deve ser higiênico, econômico e seguro para os operadores.

Respostas: B e D

Se você pertence à área de medicina veterinária ou da indústria de alimentos, não deixe de conferir nossos cursos preparatórios: Combo Concursos Veterinários com Pós-graduação em Defesa Sanitária e Inspeção de POA e Higiene e Tecnologia de Produtos de Origem Animal