O Brasil destaca-se fortemente na exportação de produtos agrícolas como soja e café em grãos. O saldo da balança comercial do setor registrou superávit de US$ 54 bilhões, maior valor da história para o período acumulado de janeiro a julho de 2020.
Assim, para manter competitivo, os setores agrícolas precisam adaptar modelos de produção e usar mecanismos que auxiliem em altas produtividades e qualidade de produtos.
O vasto território agricultável brasileiro e a característica de clima tropical, são favoráveis para o surgimento de insetos e doenças indesejáveis nas lavouras. Por isso, o controle de pragas e doenças se faz necessário para que sejam produzidos alimentos em quantidade e qualidade que atendam aos padrões de exportações.
O controle de pragas e doenças com o uso de agrotóxicos nas lavouras é uma realidade praticada principalmente em modelos de produções em larga escala, para suprir a demanda por alimentos da população, em volumes de produções, e abastecer exigentes mercados consumidores internacionais.
Apesar de haver incentivos do Governo brasileiro no âmbito de novos registros de defensivos agrícolas de controle biológico e produção sustentável, o uso de produtos e os agentes de processos físicos e químicos são amplamente aplicados pelos agricultores em sistemas convencionais de plantio.
O engenheiro agrônomo, detentor do conhecimento teórico prático, precisa cruzar informações multidisciplinares para que os defensivos químicos sejam aplicados corretamente nas lavouras. Inúmeros fatores, tais como orientação técnica para aplicação, dose e volume de calda, horário de aplicação, dureza da água, dentre outros agentes, influenciam no modo de ação do produto para que o ingrediente ativo possa cumprir seu papel em campo.
Por isso, preparamos este material para que você reforce seus conhecimentos sobre as práticas agronômicas para o uso correto de agrotóxicos e seus impactos na qualidade de produtos agrícolas para exportação.
Agrotóxicos e afins nas produções agrícolas brasileiras
Alcançar altas produtividades agrícolas e manter produtos competitivos em mercados cada vez mais exigentes, é um desafio constante para profissionais ligados à agricultura no Brasil frente às áreas agricultáveis.
O clima tropical, permite que o Brasil tenha duas a três safras no ano, o que significa realizar manutenções de ocorrências de pragas e doenças por meio do uso de agrotóxicos e afins.
Mas você sabe o que significa agrotóxicos e afins?
Muitos leitores são capazes de compreender o real significado dessa expressão, mas vale ressaltar que a legislação brasileira, Lei Nº 7.802, de 11 de Julho de 1989, que dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras providências. em seu artigo 2º, considera agrotóxicos e afins como sendo:
a) os produtos e os agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos;
b) substâncias e produtos, empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento.
Portanto, entenda que para a legislação brasileira, tanto produtos biológicos utilizados na agricultura agroecológica e orgânica quanto os químicos, utilizados na produção convencional, são considerados agrotóxicos.
Até o momento, o Brasil soma 269 registros de novos agrotóxicos em 2020, segundo publicações no Diário Oficial da União, o que não implicam em menores perdas em comercialização, mas pode aumentar os questionamentos de compradores internacionais sobre o assunto. Porém, vale ressaltar que o Brasil é o único país que possui uma legislação segundo a qual, não se aprova nenhum registro de agrotóxico mais tóxico ou igual ao que já existe no mercado.
Em 20 de agosto de 2020, foi publicado no Diário Oficial da União, o resumo de mais 28 registros de agrotóxicos e afins. Do total, segundo o ministério, são 17 agrotóxicos químicos e 11 biológicos. Com esta publicação, até o momento, somam-se 56 produtos de baixo impacto registrados no Brasil em 2020, o maior número de registros de produtos desse perfil em um mesmo ano.
De acordo com coordenador-geral de Agrotóxicos e Afins, Bruno Breitenbach, há expectativa de que, até o final de 2020, outros produtos que utilizam, na sua formulação, agentes de controle biológicos ou bioquímicos sejam registrados, deixando o ano de 2020 o “mais verde” da história em termos de registro de produtos fitossanitários de baixo impacto.
O uso de produtos biológicos e adoção de manejos integrados de pragas e doenças (MIP&D) é uma tendência forte diante das pressões oriundas nas mudanças de hábitos dos consumidores e a existência dos processos de rastreabilidade de produtos agrícolas. Tal fato sugere uma atenção e preocupação dos agricultores ao uso adequado de agentes de processos físicos e químicos nas lavouras brasileiras e incentiva empresas a desenvolverem pesquisas e registros de produtos biológicos.
A importância da prática agronômica para o uso correto de agrotóxicos
A participação do Engenheiro Agrônomo nos sistemas produtivos agrícolas, visa garantir a produção com eficiência e segurança alimentar frente ao uso de produtos e agentes de processos físicos e químicos aplicados nas lavouras.
O uso de tecnologias de aplicação de defensivos não é apenas o fato de aplicar um herbicida, inseticida ou fungicida, mas sim, na interação de vários fatores que contribuem para o emprego adequado das técnicas científicas para a deposição assertiva do produto no alvo.
Podemos listar alguns dos principais erros na aplicação de defensivos:
- uso do produto inadequado para determinada cultura;
- equipamento desregulado;
- dose incorreta (sub e superdosagens);
- momento ou estádio de aplicação incorreto;
- aplicação com condições climáticas inadequadas;
- água usada para mistura do agrotóxico no tanque de má qualidade (excesso de partículas em suspensão, pH incompatível com produtos, entre outros);
- paradas com equipamento ligado;
- escorrimento e gotejamento;
- sobreposição de aplicação.
O Engenheiro Agrônomo, ao tomar a decisão de realizar a aplicação de controle de praga ou doença por meio do uso de agrotóxico, deverá orientar os produtores através do Receituário Agronômico, que indica se é necessário e qual o tipo de produto apropriado para determinada cultura, em qual período da safra deverá ser aplicado, em que quantidade e quaisquer outras especificações técnicas necessárias. Além disso, o profissional deverá observar alguns fatores para que a eficácia do produto seja alcançada, tais como:
- orientar corretamente o aplicador;
- observar o clima;
- detectar corretamente o alvo desejado;
- tipo de produto;
- veículo de ação do produto;
- preparação da calda;
- volume de aplicação;
- escolha das pontas de pulverização.
A adoção de Boas Práticas Agrícolas (BPA) é uma forma de promover o uso racional de agrotóxicos e evitar que resistências de pragas sejam desenvolvidas. Uma vez que, o uso excessivo, desrespeitando os intervalos de aplicações, fazem surgir organismos cada vez mais resistentes.
Dentre as BPA, podemos citar:
- controle das pragas priorizando o Manejo Integrado de Pragas, com uso de agrotóxicos registrados para cultura, com menor toxicidade, ou outras práticas apropriadas.
- armazenamento de produtos agrotóxicos e destinação de embalagens vazias, conforme determinações da legislação pertinente.
- manipulação e aplicação de produtos agrotóxicos de acordo com as recomendações técnicas do Receituário Agronômico e sempre observando as especificações no rótulo das embalagens.
- adoção das boas práticas na manipulação e aplicação dos agrotóxicos e observação ao período de carência na colheita, como medidas preventivas à contaminação das culturas por resíduos de agrotóxicos.
A orientação e o uso correto de agrotóxicos colaboram para a segurança alimentar sendo capazes, de prover a oferta de produtos sem efeitos residuais de agrotóxicos e afins. Para tanto, o Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) criado em 2001, objetiva avaliar, continuamente, os níveis de resíduos de agrotóxicos nos alimentos de origem vegetal que chegam à mesa do consumidor. Esse programa conta com a participação de 26 Unidades Federativas envolvidas na amostragem e na tomada de ações após a divulgação dos resultados. O PARA contribui para a segurança alimentar, orientando as cadeias produtivas sobre as inconformidades existentes e incentivando a adoção das BPA.
A adoção das BPA são procedimentos agronômicos que conduzem ao uso correto de agrotóxicos e implica na oferta segura de alimentos livre de resíduos em mercados consumidores nacionais e internacionais.
Autoria da redatora do Ifope:
Janaina Canaan Rezende
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