Você já ouviu falar sobre irradiação de alimentos e sabe para que serve essa tecnologia? Não podemos negar que, na hora de fazer as compras, a aparência dos produtos (como frutas, verduras e legumes, por exemplo) ajuda a determinar, em grande parte, o que iremos comprar. Afinal, ninguém quer levar para casa um produto de aspecto não saudável, não é mesmo? É nesse ponto que entra a técnica da irradiação. Mas, afinal, qual o objetivo da irradiação de alimentos?

Neste texto, iremos abordar o que é, qual o objetivo da irradiação de alimentos, como funciona um irradiador de alimentos e quais as vantagens e desvantagens da técnica. Continue lendo para saber mais!

O que é irradiação de alimentos? Para que serve?

A irradiação de alimentos é uma tecnologia antiga e bastante estudada em função das vantagens que apresenta. As autoridades de vigilância sanitária e de segurança alimentar de 37 países já aprovaram o uso da irradiação em diferentes tipos de alimentos. O Brasil é um deles, embora essa técnica seja pouco conhecida e utilizada por aqui.

Segundo a legislação brasileira em vigor acerca desse assunto – a RDC n° 21 de 26 de janeiro de 2001, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) – a irradiação de alimentos refere-se ao: “processo físico de tratamento que consiste em submeter o alimento, já embalado ou a granel, a doses controladas de radiação ionizante, com a finalidade sanitária, fitossanitária e/ou tecnológica”.

Sendo assim, o principal objetivo da irradiação é inibir a maturação de alguns alimentos por meio de alterações no processo fisiológico dos tecidos presentes. Além disso, pela alteração de sua estrutura molecular, a irradiação impede a multiplicação de micro-organismos que causam a deterioração do alimento, o que permite o prolongamento da validade do produto.

Esse método funciona com o intuito de conservação e redução na taxa de desperdícios. Os efeitos causados irão depender do tipo de alimento que recebe o tratamento e da dose de irradiação que é aplicada. Dentre esses efeitos, podemos citar:

  • Inibição de brotamentos;
  • Retardo na maturação; 
  • Redução da carga microbiana; 
  • Eliminação de micro-organismos patogênicos; 
  • Esterilização;
  • Desinfecção de grãos, cereais, frutas e especiarias.

Veja um demonstrativo de como a irradiação pode ser eficaz no prolongamento da vida útil de alimentos por meio dos exemplos abaixo: 

  • Alho: pode passar de 4 meses para até 10 meses;
  • Arroz: pode passar de 1 ano para até 3 anos;
  • Banana: pode passar de 15 dias para até 45 dias; 
  • Batata: pode passar de 1 mês para até 6 meses;
  • Cebola: pode passar de 2 meses para até 6 meses; 
  • Farinha: pode passar de 6 meses para até 2 anos;
  • Frango refrigerado: pode passar de 7 dias para até 30 dias; 
  • Legumes e Verduras: podem passar de 5 dias para até 18 dias;
  • Milho: pode passar de 1 ano para até 3 anos;
  • Morango: pode passar de 3 dias para até 21 dias;
  • Papaia e Manga: podem passar de 7 dias para até 21 dias;
  • Trigo: pode passar de 1 ano para até 3 anos.

Para que seja respeitado o poder de escolha do consumidor, seguindo a orientação da RDC apresentada acima, na rotulagem de alimentos irradiados deverá constar a seguinte informação: “ALIMENTO TRATADO POR PROCESSO DE IRRADIAÇÃO”. E quando um produto irradiado for utilizado como ingrediente em outro alimento, como os condimentos, por exemplo, isso também deverá ser informado na lista de ingredientes, entre parênteses, após a especificação do ingrediente em questão.

A irradiação de alimentos faz mal para a saúde?

Em 1981, um comitê formado pela Food and Agriculture Organization (FAO) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que alimentos irradiados com até 10,0 kGy (kilogray – unidade de medida para quantidade de radiação absorvida) são incondicionalmente seguros. Isso porque nenhum resíduo de radioatividade permanece no alimento processado.

Como funciona um irradiador de alimentos?

Na irradiação de alimentos, operadores devidamente treinados devem controlar e monitorar todo o processo. Nessa técnica, o alimento não entra em contato direto com o elemento radioativo. Na verdade, ele é exposto a uma fonte de radiação ionizante, normalmente beta ou gama, por um tempo controlado.

As fontes de radiação mais utilizadas são o cobalto 60 e o césio 137. Os tipos de radiações ionizantes aplicadas são os raios X, os raios gama e também feixes de elétrons acelerados. Suas energias são suficientemente altas para desalojar os elétrons dos átomos e das moléculas, convertendo-os em partículas carregadas eletricamente. Essas partículas são chamadas de íons e atuam diretamente nos constituintes das células do alimento e dos organismos contaminantes. A radiação ionizante também atua indiretamente no alimento, por meio da ação dos radicais livres formados durante o processo. 

Como já dito acima, esse procedimento de irradiação não torna o alimento radioativo, isto é, o produto irradiado não se torna prejudicial à saúde, já que a energia envolvida não é suficiente para alterar os núcleos atômicos do produto irradiado. Dessa mesma forma, o processo de irradiação também não altera a textura nem o sabor dos alimentos.

Como são feitas as classificações na irradiação de alimentos?

A dosagem de radiação está ligada à quantidade de energia absorvida durante a exposição e normalmente é expressa em kilogray (kGy). Assim, podemos classificar a irradiação de alimentos em:

Radurização

A radurização é quando o alimento é exposto à baixas doses de radiação (até 1 kGy). Esse modelo é capaz de eliminar insetos, ovos e larvas, podendo prolongar em anos a vida útil de grãos e farináceos processados em embalagens plásticas, utilizadas no varejo.

Além disso, a radurização inibe a ação de enzimas responsáveis por alguns processos fisiológicos, estendendo em vários meses o tempo de conservação de bulbos e tubérculos (como cebola, alho e batata) e aumentando o tempo de conservação de frutas (como banana, mamão, manga, goiaba e melão) por retardo do amadurecimento.

Radiciação ou Radiopasteurização

Essa técnica consiste na exposição do alimento a quantidades intermediárias de radiação (entre 1 e 10 kGy). A radiciação promove a redução da carga microbiana de fungos e bactérias, melhorando a qualidade higiênico-sanitária do alimento e promovendo, por consequência, a extensão da vida útil em algumas semanas. Normalmente, é utilizada em produtos como peixes, carnes, amendoim e alimentos crus prontos para o consumo.

Radapertização

A radapertização é o tratamento do alimento com doses elevadas de radiação (iguais ou superiores a 10 kGy). Esse processo é capaz de eliminar totalmente os micro-organismos que decompõem os alimentos, produzindo efeitos muito parecidos com os da esterilização. É útil na descontaminação de especiarias e condimentos (como a pimenta do reino, por exemplo), no tratamento de rações para animais e na esterilização de rações especiais para militares e pacientes imunodeprimidos.

Quais são as vantagens e desvantagens da irradiação em alimentos?

A irradiação de alimentos apresenta algumas vantagens e desvantagens, como:

Vantagens

  • Inibição de brotamentos e retardo na maturação: A irradiação aumenta a vida útil de frutas e vegetais frescos. Isso é feito pela inativação ou destruição de enzimas responsáveis pelo processo de maturação e das estruturas de emissão de brotos, o que facilita o processo de distribuição desses produtos;
  • Eliminação de micro-organismos patogênicos: O processo também elimina bactérias potencialmente prejudiciais à saúde (como, por exemplo, a Salmonella sp. e a Campylobacter sp. – presentes principalmente em carnes), vírus, parasitas (como nematóides e protozoários) e fungos produtores de microtoxinas;
  • Redução da carga microbiana geral: A irradiação elimina certos micro-organismos, sendo útil para substituir tratamentos químicos que poderiam deixar resíduos nos alimentos;
  • Desinfestação: Destrói ovos e larvas de insetos (como o caruncho) presentes em grãos, cereais, frutas e especiarias, sem trazer prejuízo para os alimentos;
  • Redução de recontaminações: A radiação ionizante tem alto poder de penetração, tornando possível tratar grande quantidade e variedades de alimentos sem nenhuma manipulação durante o processo;
  • Esterilização a frio: A irradiação de alimentos não aumenta a temperatura do alimento e nem da embalagem, sendo assim, permite o tratamento de produtos resfriados, congelados ou em embalagens termossensíveis;
  • Tempo de preparo: A irradiação provoca a diminuição do tempo de cozimento de alguns alimentos, principalmente os desidratados.

Desvantagens

  • Não é para qualquer alimento: A irradiação não pode ser utilizada em todos os tipos de alimentos. Em produtos com alto teor de gordura, por exemplo, ocorre o aparecimento de um sabor extremamente desagradável devido à rancificação;
  • Perdas nutricionais: Com a irradiação, ocorre a perda de alguns nutrientes, como vitaminas. Entretanto, essa perda é similar à causada por outros métodos de conservação, como a pasteurização e o congelamento. De fato, todas as formas de processamento de alimentos diminuem a disponibilidade de alguns nutrientes;
  • Custo: Os equipamentos usados na irradiação são caros e demandam infraestrutura específica;
  • Problemas ambientais: Na radiação ionizante, é necessário fazer a destinação adequada dos equipamentos e dos rejeitos radioativos decorrentes do processo;
  • Resistência do consumidor: Geralmente, a primeira reação do consumidor em relação ao processo de irradiação de alimentos é de desconfiança, principalmente devido à desinformação e aos preconceitos associados indevidamente à tecnologia nuclear.

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Faz sentido usar a irradiação de alimentos no Brasil?

Comparada a outros tratamentos, a tecnologia de irradiação no Brasil ainda é pouco usada e pouco divulgada. Contudo, seu uso é seguro e eficaz e apresenta-se como uma opção muito promissora para reduzir o desperdício e melhorar a saúde pública, pois aumenta a vida de prateleira dos produtos e ajuda no controle de surtos de doenças causadas por alimentos contaminados.

A irradiação de alimentos também favorece a expansão do comércio internacional ao viabilizar a exportação de mais produtos agropecuários, já que apresentam maior durabilidade durante o transporte. 

Dessa maneira, para que esta tecnologia possa ser aplicada em maior escala no nosso país, será necessário realizar campanhas de informação ao consumidor, de forma a enfatizar que:

  • O alimento tratado por irradiação não fica radioativo, portanto seu consumo é seguro;
  • Em comparação ao alimento similar não irradiado, ele apresenta uma melhor qualidade sanitária;
  • Suas características organolépticas são preservadas;
  • E, devido à tecnologia, permanece adequado para o consumo por um período mais longo.

Nesse sentido, o uso da irradiação na indústria também pode e deve ser estimulado, já que apresenta mais vantagens do que desvantagens no processamento de alimentos.

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Autoria da redatora do Ifope:
Larissa Iyomasa