A leptospirose, apesar de ser uma doença muito rara nos homens, é bastante conhecida pela população no geral. Porém, você sabia que essa doença ataca outros animais além de humanos? Gatos, cães, animais selvagens, equinos, suínos e bovinos, por exemplo, podem ser infectados e contrair a doença. E hoje vamos falar especificamente sobre um tipo de leptospirose: a leptospirose bovina. Continue lendo para saber mais!

O que é a leptospirose bovina?

A leptospirose bovina é uma doença infecciosa causada por bactérias do gênero Leptospira. Trata-se de uma zoonose, ou seja, uma doença que é transmitida do animal para o homem, e vice-versa. No caso da transmissão para o ser humano, a leptospirose pode causar sintomas graves, como febre, febre hemorrágica, dor de cabeça, icterícia, alterações hepática, renal e gastrointestinal e, até mesmo, óbito em pouco tempo.

Em relação à leptospirose bovina, a preocupação e o interesse se voltam, em grande medida, para o lado econômico. Os bovinos são um grande reservatório da doença, capazes de espalhá-la de forma crônica. Muitas vezes, a leptospirose bovina é assintomática, e os bovinos eliminam a bactéria durante um longo período, contaminando, assim, estábulos e pastagens.

Qual o agente etiológico da leptospirose bovina?

De maneira mais técnica, a leptospirose é causada por bactérias espiroquetas, da Ordem Spirochaetales, Família Spirochaetaceae e Gênero Leptospira. Existem duas espécies de Leptospira, sendo uma patogênica, a Leptospira interrogans, e outra apatogênica, a Leptospira biflexa. A Leptospira interrogans, ainda, tem outras subespécies chamadas de sorovares. Dentre essas, as mais importantes em bovinos são: Leptospira pomona, Leptospira hicterohemorragiae e Leptospira grippotyphosa.

Leptospira interrogans

Como se dá a distribuição geográfica da doença?

A leptospirose bovina está presente em países que possuem criações extensivas, como Estados Unidos, Canadá e Austrália, e regiões como América do Sul, Ásia Menor e Sudeste Asiático.

No Brasil, por exemplo, a leptospirose é endêmica, estando presente no rebanho bovino em quase todos os estados do país. Embora os bovinos de ambos os sexos sejam acometidos, as perdas mais significativas são de fêmeas, devido a consequências como abortos e mastites (produção de leite).

Como é a patogenia da leptospirose?

A bactéria Leptospira penetra no organismo do bovino por meio da pele ou da mucosa oral. Depois de penetrar, os micro-organismos fazem bacteremia, ou seja, as bactérias entram na corrente sanguínea do animal infectado e são carregadas até o fígado, onde se multiplicam e fazem uma nova bacteremia. 

As bactérias podem se reproduzir no sangue, o que leva a um quadro de septicemia, com hemólise e hemoglobinúria. Caso o animal sobreviva à fase, ele pode evoluir para a fase renal.

A maioria das sorovariantes causa lesão capilar, sendo que, durante a fase septicêmica, são comuns hemorragias petequiais. Também pode ocorrer no rim a lesão vascular, levando a um quadro de nefrose hemoglobinúrica. 

De modo diferente do homem e de outros animais, o quadro de insuficiência renal é muito mais raro no bovino; já o abortamento é uma sequela comum da invasão inicial sistêmica, podendo provocar, ou não, degeneração placentária.

Além disso, muitas vezes, a leptospirose evolui de forma inaparente, mas ela também pode apresentar anemia, icterícia, abortamento, hematúria e óbito. A anemia e icterícia são sinais da forma hemolítica aguda da doença. A urina passa a ter uma coloração vermelho-clara ou vinho do porto, e os rins apresentam lesões na forma de infarto, o que causa manchas no córtex.

Leia Mais: Leptospirose: o que é, contágio, sintomas e tratamento

Qual a cadeia epidemiológica?

A cadeia epidemiológica é um conjunto de informações que demonstram o processo de propagação de determinada doença em animais. Confira as principais informações da cadeia epidemiológica da leptospirose:

  • Fonte de infecção: doentes, portadores e reservatórios (roedores) – geralmente animais domésticos que foram expostos a animais silvestres e bovinos positivos ou que vieram de regiões endêmicas.
  • Vias de eliminação: urina e restos placentários.
  • Vias de transmissão: água, alimentos, fômites e leite contaminado.
  • Porta de entrada: pele e mucosas.
  • Suscetível: homem, animais domésticos, silvestres e sinantrópicos.

Que fatores auxiliam na propagação da doença?

Sabemos que a leptospirose tem uma alta prevalência em rebanhos bovinos, e seus efeitos, como abortamento, infertilidade e óbito, causam grandes perdas econômicas para os criadores de gado. Mas como a doença chega até os animais, ou mesmo ao ser humano?

Alguns fatores predisponentes da leptospirose bovina são:

  • presença de roedores,
  • áreas inundadas,
  • proximidade de córregos;
  • troca entre espécies.

Como se dá a transmissão da leptospirose?

A transmissão da leptospirose ocorre entre os animais e é feita através do contato com urina, sangue, secreções, sêmen, fontes de água, solo ou alimentos infectados. 

Tanto nos centros urbanos, como rurais, os principais transmissores da doença são os ratos. Contudo, podemos afirmar que, em propriedades rurais, os próprios animais infectados são os principais transmissores, pois contaminam estábulos e pastos com urina e corrimentos infectados.

A urina é considerada a via de transmissão mais importante. A via venérea é um vetor por meio do trato genital de touros e do trato genital de vacas durante o período de oito dias após o abortamento. Também há a via transplacentária (embora não seja comum) e a via mamária, além, até mesmo, do hábito de limpeza da genitália, escroto, tetas e outras partes entre os animais, que também podem ser vias de transmissão.

No caso da transmissão da leptospirose para o homem, esta ocorre pela urina ou órgãos que infectam o humano pelo contato direto com a pele, mucosa oral e conjuntival, por meio de água contaminada e de outras fontes, sendo que, veterinários, fazendeiros, trabalhadores rurais e de frigorífico, por exemplo, correm maior perigo de contaminação.

Quais os sintomas?  

A forma aguda pode ocorrer durante a fase inicial da doença, que seria a fase de bacteremia. Embora seja de difícil visualização, ocorrem febre alta (40,5 a 41,5o C), anorexia, icterícia, hemoglobinúria, aborto em animais prenhes e mastite atípica, que diminui a produção do leite (podendo aparentar sangue e amarelamento) e faz com que a mama fique edematosa e flácida à palpação. Contudo, esses sintomas são comuns em diversas outras doenças. Também pode haver anemia, que leva à taquicardia e dispnéia – sendo esta uma fase com alta taxa de mortalidade, especialmente em bezerros.

Já na forma subaguda, também é diminuída a produção do leite e a ruminação; a febre é moderada, entre 39 a 40,5 °C, e há uma leve icterícia. As formas agudas e subagudas ocorrem mais frequentemente em vacas em lactação e animais mais jovens.

Na forma crônica, as alterações se concentram na esfera reprodutiva, com abortos, mais frequentes do quinto ao sexto mês de gestação, e retenção de placenta, que culmina em natimortos e deficiências reprodutivas. 

Em relação aos bezerros que passam pelo quadro agudo, estes ainda podem apresentar rigidez dos membros posteriores. Quando a temperatura abaixa, os animais infectados voltam ao normal, contudo, seu crescimento é retardado em relação aos animais que não foram infectados.

Como é o diagnóstico de leptospirose?

Para fazer o diagnóstico de leptospirose é necessário um profissional com conhecimento técnico. Este vai aplicar o exame clínico, fazer uma anamnese, analisar o histórico de vacinação do animal e realizar a avaliação laboratorial com testes voltados para o diagnóstico de leptospirose.

Como dissemos acima, os sintomas que os bovinos apresentam são bastante comuns em outras doenças. Desse modo, o diagnóstico é extremamente importante para que a leptospirose bovina não seja confundida com outras doenças e inicie-se o tratamento.

Como o tratamento é feito?

O tratamento mais indicado é a antibioticoterapia com estreptomicina, que deve ser administrado pela via intramuscular, em dose única, por profissionais. Contudo, quadros agudos podem necessitar de transfusão e fluidoterapia para manter a função renal. 

A partir do quinto mês de vida do animal, a vacina já pode ser aplicada, sendo repetida a cada seis meses.

Lembrando que o tratamento deve ser definido por um médico veterinário, já que existem vários níveis da doença.

Quais as medidas de prevenção para a leptospirose bovina? (profilaxia)

Para fazer a prevenção e controle da leptospirose é importante seguir algumas medidas, como:

  • realizar exames clínico e laboratorial para fazer diagnóstico;
  • tratar animais que testam positivo nos exames;
  • isolar animais doentes;
  • vacinar os animais e garantir que a vacinação esteja em dia;
  • fazer o monitoramento por meio de provas sorológicas;
  • em caso de aborto, enterrar o feto e restos placentários;
  • controlar a população de roedores;
  • evitar águas paradas e inundações; 
  • evitar que os animais bebam água de fontes que possam estar contaminadas;
  • armazenar o lixo e entulho de forma adequada;
  • manter o ambiente de criação limpo;
  • limpar, lavar e desinfectar fômites;
  • conservar os alimentos adequadamente, não permitindo o acesso de outros animais;
  • fazer a limpeza e desinfecção de bebedouros e comedouros; 
  • durante surtos, tratar os animais sadios preventivamente, evitando agrupamentos e pastos alagados;
  • ferver o leite antes de fornecê-lo; 
  • proteger os profissionais expostos na lida com os animais com equipamentos de proteção individual.

Como o tema da leptospirose bovina aparece em concursos veterinários?

Você que é médico veterinário e deseja prestar concurso para a área, precisa estar atento aos temas mais recorrentes nas provas! E a leptospirose bovina é um deles! Sabendo disso, confira duas questões de concursos anteriores para entender como o tema aparece.

FUNDEP (Gestão de Concursos) – 2017 – Prefeitura de Bela Vista de Minas – MG – Veterinário

A infecção por Leptospira sp. é altamente prevalente no Brasil, causando leptospirose bovina. Com relação a essa doença, é incorreto afirmar:

A) A infecção costuma ocorrer através da mucosa.

B) Quando a vaca se infecta durante a gestação, quase sempre há aborto, natimortalidade ou nascimento de bezerros fracos.

C) As lesões fetais e placentárias nos casos de aborto por Leptospira sp. são as principais fontes para o diagnóstico patológico.

D) Dependendo da sorovariedade com a qual o bovino está infectado, podem ocorrer abortos esporádicos ou surtos de aborto com maior frequência.

Prova: FUNDEP (Gestão de Concursos) – 2016 – Prefeitura de Uberaba – MG – Especialista de Saúde I – Veterinário

Em relação à leptospirose bovina, é CORRETO afirmar:

A) É uma zoonose causada por espiroquetas da espécie Leptospira interrogans, sendo o serovar icterohaemorrhagiae o mais comum em bovinos.

B) Dentre os sintomas comuns da doença, têm-se frequentemente febre, hemoglobinúria, mastite e icterícia.

C) A infecção pode causar bacteremia, com ou sem pirexia.

D) O único método específico de tratamento e controle é a vacinação.

Respostas C e C

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