Hoje trazemos mais uma doença de controle oficial pelo PNSA: a micoplasmose. Apesar de o tema não ser o principal alvo das questões, é importante que você estude o assunto, pois a normativa do MAPA que dispõe sobre a micoplasmose aparece nos editais de concursos para cargos de fiscal veterinário das agências estaduais de defesa agropecuária. 

Portanto, vamos estudar!

Micoplasmose Aviária

 As micoplasmoses em aves são reconhecidas como agentes causadores das seguintes enfermidades:

  • a Doença Respiratória Crônica (DRC);
  • aerossaculite por Mycoplasma gallisepticum (MG);
  • e sinovite infecciosa causada por Mycoplasma synoviae (MS).

O PNSA estabelece as diretrizes para o monitoramento de micoplasmas em determinados estabelecimentos avícolas.  As normas técnicas para o controle e certificação de núcleos e estabelecimentos avícolas para a micoplasmose aviária são regidas pela Instrução Normativa nº 44, de 23 de agosto de 2001, que também será assunto do nosso texto de hoje.

Micoplasmose Etiologia 

Mycoplasma é um gênero de bactérias da família Mycoplasmatacae pertencente à classe Mollicutes.

São os menores microrganismos conhecidos com vida livre e auto replicantes.

São incapazes de produzir parede celular, em vez disso, são ligadas por uma única membrana trilaminar composta de proteínas, glicoproteínas, lipoproteínas, fosfolipídios e esteróis. Em algumas espécies, tem-se relatado a presença de cápsulas de carboidratos.

Apresenta acentuado polimorfismo e resistência aos antibióticos. As espécies de importância à indústria avícola são: Mycoplasma gallisepticum (MG), Mycoplasma synoviae (MS) e Mycoplasma melleagridis (MM). 

Fonte de Infecção e Modo de Transmissão

O principal reservatório das micoplasmas é o próprio hospedeiro que infectam. A transmissão ocorre predominantemente através da propagação do microrganismo entre os animais (contato direto entre as aves) ou através da ingestão de alimentos e água contaminados, cama de aviário contaminado, via aerógena, fômites e ação comunicante de pessoas e outros animais.

A introdução de aves infectadas em estabelecimentos avícolas é um importante meio de disseminação da infecção, sendo necessário o acompanhamento das aves adquiridas para o controle dessa enfermidade.

A transmissão vertical através dos ovos é um dos principais fatores que tornam a infecção alvo de controle oficial. Dados da EMBRAPA apontam que, embora os percentuais de transmissão vertical pareçam extremamente baixos – em torno de 0,5% – são suficientes para a infecção lateral de praticamente todas as aves do lote já nas primeiras semanas de vida.

Sinais Clínicos da Micoplasmose Aviária

No trato respiratório, os micoplasmas patogênicos alteram a motilidade dos cílios, provocam efeitos que levam à degeneração ciliar e das células epiteliais. Quando o epitélio respiratório é colonizado por cepas virulentas, as aves apresentam inflamação dos seios infraorbitários, conjuntivite com lacrimejamento, aerossaculite, dispneia, anorexia e perdas na produção de ovos, podendo ocorrer mortalidade em até 30%.

Mycoplasma gallisepticum 

Mycoplasma gallisepticum é responsável pelas maiores perdas na avicultura nacional – provoca doença respiratória crônica, em galinhas, e sinusite infecciosa, em perus. Os sinais clínicos incluem tosse, secreção nasal, estertores traqueais, redução na produção de ovos e, ocasionalmente, os sinais clínicos que envolvem o cérebro e articulações. 

Mycoplasma synoviae 

Já os sinais clínicos mais comuns resultantes da infecção por Mycoplasma synoviae envolvem sinovite, resultando em claudicação, tumefação de articulações e de bainhas de tendão e retardo no crescimento. Com frequência, também se verifica bursite esternal em perus. A inflamação de sacos aéreos, geralmente subclínica, é outro sinal clínico. 

Mycoplasma meleagridis e Mycoplasma iowae

As infecções causadas por Mycoplasma meleagridis e Mycoplasma iowae são limitadas, principalmente, aos perus. Ambas causam doença respiratória, com predominância de inflamação dos sacos aéreos e redução da taxa de ovos chocos.

Diagnóstico

As provas laboratoriais utilizadas no monitoramento e no diagnóstico laboratorial para as micoplasmoses aviárias são:

  • aglutinação rápida em placa (SAR), com soro ou gema de ovos embrionados;
  • aglutinação lenta em soro (SAL) ou gema de ovos embrionados;
  • inibição da hemaglutinação (HI);
  • e ensaio imunoenzimático ligado à enzima (ELISA).

Controle e Prevenção da Micoplasmose

Os principais atos normativos do Programa Nacional de Sanidade Avícola (PNSA) para prevenção, controle e vigilância para micoplasmas são:

Instrução Normativa nº 44, de 23 de agosto de 2001
Aprova as Normas Técnicas para o Controle e a Certificação de Núcleos e Estabelecimentos Avícolas para a Micoplasmose Aviária
Instrução Normativa nº 56, de 4 de dezembro de 2007
Estabelece os Procedimentos para Registro, Fiscalização e Controle de Estabelecimentos Avícolas de Reprodução e Comerciais

Vamos resumir a IN 44/2001, que trata diretamente da micoplasmose, destacando os pontos mais importantes para complementar os seus estudos. 

Instrução Normativa 44/2001

A IN 44/2001 define as medidas de monitoramento da micoplasmose em estabelecimentos avícolas de controles permanentes e eventuais (exceto postura comercial, frango de corte e ratitas), que realizam o comércio ou a transferência nacional e internacional de seus produtos, destinados à reprodução e produção de aves e de ovos férteis, ficando os mesmos obrigados a realizarem o monitoramento de seus plantéis, obedecendo às diretrizes do PNSA. 

Exigências para Atendimento ao PNSA

Para atender ao PNSA, os estabelecimentos avícolas de controles permanentes e eventuais deverão: 

  • ser registrados e habilitados junto a DFA e estar sob vigilância e controle do serviço oficial;
  • possuir responsável técnico;
  • não podem utilizar: vacina contra micoplasmose aviária em estabelecimento de controle permanente; vacina com adjuvante oleoso, durante as quatro semanas que antecedem as provas laboratoriais; qualquer droga, para a qual exista evidência científica, que possa interferir nos resultados dos testes sorológicos ou dificultar o isolamento dos micoplasmas, no período de três semanas antecedentes às provas laboratoriais;
  • só poderão ser utilizados antígenos, soros controles e “kits” autorizados pelo Ministério da Agricultura e Abastecimento (MA);
  • deverão fornecer mensalmente um calendário de colheitas com cronograma de nascimento, de importação e as datas das colheitas rotineiras de material, realizadas pelo responsável técnico, visando a fiscalização e a supervisão do serviço oficial.

Certificação dos Estabelecimentos Avícolas

De acordo com a normativa, as matrizes de galinhas de corte e postura, têm de ser livres de MG e as linhagens puras de galinhas que incluem avós e bisavós têm que ser livres de MG e MS. Em se tratando de perus, em ambos os casos, devem ser livres de MG, MS e MM.

Colheita de Amostras para Monitoramento Oficial

As colheitas para o monitoramento oficial somente serão aceitas quando executadas por fiscal federal agropecuário, médico veterinário oficial ou sob a fiscalização e supervisão de um deles. 

A colheita oficial do material deverá ser aleatória e ocorrerá entre os diferentes galpões do mesmo núcleo, para os testes sorológicos, provas biológicas em aves SPF, em ovos embrionados ou em provas micoplasmológicas.

Nos estabelecimentos de linhas puras, bisavoseiros e avoseiros, essa etapa deverá ser realizada diretamente pelo fiscal federal agropecuário ou pelo médico veterinário oficial, com colheitas aleatórias em duplicata, no mínimo anual, sendo posteriormente encaminhadas à análise em laboratórios oficiais ou credenciados. 

O MA estabelecerá um sistema de sorteio aleatório das amostras e dos laboratórios oficiais e credenciados, que será acompanhado pelo fiscal federal agropecuário ou pelo médico veterinário oficial responsável pela colheita. Para aves ornamentais ou silvestres de produção, serão adotados os mesmos critérios utilizados para matrizes.

Provas Laboratoriais para Certificação

O esquema das provas laboratoriais por lote para certificação de núcleos ou estabelecimentos avícolas livres de Mycoplasma gallisepticum e Mycoplasma synoviae para galinhas e Mycoplasma gallisepticum, Mycoplasma synoviae e Mycoplasma melleagridis para perus possui diversas regras, com muitos detalhes, sendo necessária a leitura da legislação na íntegra. 

De maneira geral, consiste na colheita aleatória de 100 a 300 amostras para a realização da SAR, complementada, quando reagente, com a HI ou ELISA. Quando positivos no HI ou ELISA, em alguns casos é preconizado nova colheita de suabes de traquéia e soros de aves para confirmação por cultivo e/ou PCR.

Interpretação dos Resultados e Certificação 

  1. Em casos de positividade para MG, MS ou MM (perus), o destino será sacrifício ou abate do núcleo em aves ou ovos férteis de linhas puras, bisavós e avós importadas ou nascidas no Brasil;
  2. Em matrizes de galinhas, quando positivas para MG, ou em matrizes de perus, quando positivos para MG, MS, MM, o destino é o sacrifício ou abate com destruição dos ovos provenientes do respectivo núcleo;
  3. Em matrizes de galinhas de núcleos livres ou sob vigilância para MS, em caso de positividade para MS, poderão ser tratados com antibióticos e retestados após o período de eliminação de resíduos de antibióticos, devendo adotar reforço nas medidas de biossegurança;
  4. O estabelecimento avícola que tiver núcleo sob vigilância e acompanhamento para MS não poderá realizar o comércio internacional de seus produtos (ovos férteis e pintos oriundos ao referido núcleo). 

O certificado sanitário será emitido após a realização mínima de três testes nos estabelecimentos ou núcleos livres, ou sob vigilância. Este certificado terá sua validade condicionada à manutenção da situação sanitária do núcleo ou do estabelecimento avícola. 

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Concurso público

Muito bem, se você fez uma leitura atenta e já estudou as aulas no IFOPE, com certeza irá acertar as questões abaixo, faça o teste!

1 – (UFRGS/Médico Veterinário / Patologia Aviária/2008)

As micoplasmoses aviárias afetam galinhas e perus e são causadas pelos agentes conhecidos como Mycoplasma gallisepticum, M. synoviae e M. meleagridis. Considerando esses agentes, assinale a alternativa INCORRETA.

(A) Os micoplasmas são considerados os menores procariotes de vida livre.
(B) Os micoplasmas não apresentam membrana nuclear e possuem membrana plasmática tríplice, composta de proteínas, glicoproteínas, glicolipídeos e fosfolipídeos. 
(C) A penicilina é o antibiótico de eleição para o tratamento das micoplasmoses aviárias. 
(D) A transmissão da micoplasmose ocorre de duas formas: vertical, da mãe à progênie, e horizontal, de ave a ave.
(E) Os métodos tradicionalmente empregados para o diagnóstico das micoplasmoses aviárias são a soro-aglutinação rápida em placa (SAR) e ensaio imuno-enzimático (ELISA), como triagem, e inibição da hemoaglutinação (HI) e/ou isolamento e identificação do agente e/ou reação em cadeia da polimerase (PCR), como confirmatórios.

2 – (UFRGS/Médico Veterinário / Patologia Aviária/2008)

A Soroaglutinação Rápida em Placa (SARP) é um teste utilizado como triagem em diversas doenças. Assinale a alternativa que contém apenas enfermidades do Programa Nacional de Sanidade Avícola (PNSA) para as quais esse teste é usualmente utilizado.

(A) Mycoplasma gallisepticum; Mycoplasma Synoviae; Salmonella pullorum
(B) Mycoplasma synoviae; Doença Newcastle; Salmonella galinarum; Influenza aviária. 
(C) Influenza aviária; Reovírus; Doença Newcastle; Doença Gumboro. 
(D) Salmonella enteritidis; Bronquite Infecciosa; Mycoplasma gallisepticum; Salmonella pullorum. (E) Mycoplasma meleagridis; Doença de Gumboro; Doença de Newcastle; Influenza Aviária.

3 – (IFC/Médico Veterinário/Doença das aves e suínos/2015).

A micoplasmose tem sido considerada um dos importantes problemas sanitários de plantéis avícolas em matrizes, nos seus diversos estágios de criação, em frangos de corte e em postura comercial. Com relação a micoplasmose, considere as afirmativas abaixo e assinale a sequência correta.

I. É um doença que acomete os tratos respiratório e reprodutivo das aves, bem como as articulações.
II. Na avicultura apenas o Micoplasma galissepticum (MG) tem importância pela sua patogenecidade.
III. A transmissão vertical dá-se através do ovo e a transmissão horizontal por vetores biológicos, por aerossóis, por via mecânicas (equipamentos e roupas) em que o homem tem papel fundamental.
IV. Ela é favorecida por situações de estresse, superpopulação dentro dos galpões, alterações de temperatura ambiental e transporte.

A sequência correta é:

a) Apenas a assertiva I, II e III estão corretas. 
b) Apenas as assertivas I, III e IV estão corretas. 
c) Apenas as assertivas I e II estão corretas. 
d) Apenas as assertivas II e IV estão corretas.

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GABARITO:

1- C;
2- A;
3- B.

Autoria da redatora do Ifope:
Tereza Abujamra