As mudanças climáticas são sempre alvo de debates e de preocupações para aqueles que trabalham com o meio ambiente. Sem dúvidas, as consequências das mudanças climáticas representam um dos maiores desafios da sociedade atual, uma vez que seus impactos afetam o dia a dia de todas as pessoas, provocando desde mudanças na produção de alimentos até problemas de saúde. 

O que são mudanças climáticas e como elas surgiram? 

Mudanças climáticas são alterações provocadas nos padrões climáticos a longo prazo. Elas se baseiam nas alternâncias meteorológicas, ou seja, nas condições do tempo observadas por um período. Suas causas envolvem processos naturais e ações antrópicas – ações provocadas pelo homem. 

Fato é que as mudanças climáticas não acontecem de uma hora para outra, mas vão ocorrendo ao longo do tempo. A história evolutiva do planeta Terra está diretamente relacionada às alterações que ocorrem no clima, alterações essas que podem ser observadas desde a sua formação. Para ficar mais claro, basta lembrar que nos últimos 400 mil anos houve quatro ciclos diferentes, os glaciais (as famosas eras do gelo) e interglaciais.

Apesar de as mudanças climáticas serem comuns, apenas nos últimos 150 anos, o planeta teve sua temperatura aumentada de maneira considerável. Vários estudos indicam que a Terra apresentou um padrão de aquecimento de cerca de 0,2°C por década. Para se ter uma ideia, estudos conduzidos pela NASA e pela Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA) mostram que a temperatura registrada na Terra em 2018 foi a quarta mais alta nos últimos 140 anos. Além disso, 2016 foi considerado o ano mais quente da história do planeta.

Quais as principais mudanças climáticas?

A existência de mudanças que afetam o clima do planeta é consenso na comunidade científica, uma vez que existem evidências expressivas de que elas estão ocorrendo. Para pessoas de fora dessa comunidade, porém, identificá-las pode ser mais difícil, uma vez que elas podem parecer sutis se não debruçarmos um olhar mais atento aos fatos. 

Por isso, preparamos uma lista para mostrar quais as principais mudanças climáticas, dentre as mais perceptíveis, que vêm ocorrendo nos últimos anos. Confira:

As subidas aceleradas da temperatura do planeta 

As temperaturas médias anuais registradas pelos centros de monitoramento não param de subir. Já é possível perceber um aquecimento da Terra em 1,1 graus Celsius em relação ao período antes da Revolução Industrial. Esse aumento pode não parecer muita coisa, mas, na verdade, se trata de um valor alto e que subiu muito rapidamente. 

Dados do site americano Climate Central mostram que não houve um mês mais frio que o normal na Terra desde 1935. Justamente por isso, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), painel do clima das Nações Unidas, já se refere ao aquecimento do sistema climático como “inequívoco” desde 2007.

Um outro aspecto importante no que tange às mudanças climáticas relacionadas à temperatura é o aumento da ocorrência de ondas de calor. Hoje, estima-se que 30% da população mundial está exposta a combinações potencialmente letais de calor e umidade. Como exemplos dessas ondas podemos citar o verão de 2003 no sul da Europa, no qual 30 mil pessoas morreram devido às condições do clima, e os 3.400 mortos sob temperaturas de 48°C, em 2015, na Índia e no Paquistão.

O degelo do Ártico

Desde o início das observações com satélites, é possível perceber que o Ártico tem perdido cada vez mais gelo marinho no verão e ganhado cada vez menos gelo marinho no inverno. Esse problema tem se estendido desde as montanhas do Alasca até as geleiras da Groenlândia.

O regime de aquecimento global terrestre começou a dar sinais a partir do esfacelamento da plataforma Wordie, em 1989, ao norte, seguida de Larsen A e da Prince Gustav, mais ao sul. Esse fenômeno foi previsto pelo cientista americano John Mercer, que em seu estudo feito em 1978 afirmou que haveria o rompimento das plataformas de gelo da Península Antártica, se iniciando a partir da região norte e gradativamente avançando para o sul. 

Muitas pessoas, pesquisadoras ou não, já questionaram se esses efeitos não são consequências das oscilações de temperatura que tendem a ocorrer naturalmente, como a chamada Oscilação Multidecadal do Atlântico. Esse ponto, porém, foi refutado a partir do momento em que a dimensão do derretimento tomou proporções gigantescas. Dessa forma, somente uma tendência de longo prazo de aquecimento global auxiliada pela fuligem produzida pelos combustíveis fósseis do hemisfério Norte industrializado poderiam explicar o que vem ocorrendo. 

Essa fuligem é uma das principais causas, uma vez que ela escurece o gelo e facilita seu derretimento, explicando porque tantas massas de gelo sujeitas a influências diferentes começaram a derreter todas ao mesmo tempo.

Alterações não podem ser explicadas apenas por fenômenos naturais 

É incontestável que variações nas manchas solares e na órbita da Terra, além das erupções vulcânicas, afetam consideravelmente o clima. A questão é que essas variações naturais, sozinhas, não explicam o aquecimento observado no último século. Os modelos criados pelos cientistas, que relacionam as mudanças ocorridas com as alterações de temperatura, somente apresentam uma consistência de dados quando a interferência humana é incluída na conta.

Na década de 1970, os primeiros modelos climáticos feitos a partir de projeções criadas com uso de computadores previram que, se o CO2 emitido por atividades humanas estivesse aprisionando calor na baixa atmosfera (a troposfera), nós veríamos um aquecimento na troposfera e um resfriamento na alta atmosfera (a estratosfera). Se esse aquecimento fosse causado pelo Sol, por sua vez, as duas camadas esquentariam de maneira mais ou menos uniforme, já que a radiação refletida pela superfície do planeta subiria gradualmente para o espaço. 

Corroborando os achados desse modelo climático, os satélites vêm detectando exatamente o padrão previsto: o de uma troposfera desproporcionalmente mais quente, e estratosfera mais fria quando comparada a ela. 

As mudanças climáticas e a agropecuária

A atividade agropecuária pode ser considerada uma atividade relativamente dependente das consequências das mudanças climáticas. Isso acontece porque alterações no clima podem afetar a produção agrícola de diversas maneiras, seja devido a eventos extremos, a queda ou aumento na temperatura, ou a severidade de pragas e doenças.

Além disso, vale ressaltar que a agropecuária é uma das grandes produtoras de gases de efeito estufa, como o CO2. Pode-se dizer, então, que existe uma necessidade urgente de se aprender a lidar com os efeitos colaterais sobre o meio ambiente, garantindo a qualidade de vida, o desenvolvimento social e a segurança alimentar de maneira sustentável

Dentre os principais problemas que devem ser contornados, podemos citar:

Problemas fitossanitários

De acordo com estudos produzidos nos últimos anos, as mudanças climáticas podem ter efeitos diretos e indiretos, tanto sobre o agente infeccioso, quanto sobre as plantas hospedeiras e a interação de ambos. Como esse é um dos fatores definidores para a produção agrícola, pode-se dizer que a alteração do cenário de doenças e seu manejo causará ainda mais impactos na produtividade agrícola.

Dentre os efeitos diretos está a mudança na distribuição geográfica. O zoneamento agroclimático da planta hospedeira será alterado; da mesma forma, os patógenos e outros microrganismos relacionados com o processo de doença serão afetados. Assim, em determinadas regiões, novas doenças poderão surgir e outras perderão importância econômica se a planta hospedeira migrar para novas áreas.

A distribuição temporal também pode ser afetada. Em geral, os patógenos, especialmente os que infectam folhas, apresentam flutuações quanto à ocorrência e à severidade durante o ano, que são atribuídas às variações das condições meteorológicas.

Dessa maneira, o aumento da umidade, por exemplo, durante a estação de crescimento pode favorecer o aumento da produção de esporos. Por outro lado, doenças como os oídios são favorecidas por condições de baixa umidade. 

Doenças que requerem insetos ou outros vetores também poderão apresentar uma nova distribuição geográfica ou temporal. Aumentos na temperatura ou incidência de secas poderão levar vetores, como insetos, para regiões onde ainda não atuavam, estendendo a área de ocorrência de doença ou migrando as áreas endêmicas para novas regiões.

Possível necessidade de migração de cultivos

Como as mudanças climáticas provocam alterações na composição do solo e na incidência de luz solar, no regime de chuvas e nas temperaturas, áreas que hoje são as maiores produtoras de grãos podem não estar mais aptas ao plantio antes do final do século, ou seja, ocorrerá migração dessas culturas para regiões nas quais hoje não são cultivadas. Todo esse processo pode custar muito dinheiro à agricultura, além de causar problemas relacionados ao abastecimento e ao preço dos alimentos disponíveis para o consumidor final. 

Um exemplo significativo é a possibilidade de a região Nordeste sofrer perdas importantes na produção de milho, arroz, feijão e algodão; enquanto a sobrevivência do café será pouco favorável na região Sudeste. A região Sul pode vir a se tornar mais propícia ao plantio do café, mandioca e cana-de-açúcar, devido ao aumento da temperatura e à redução do risco de geadas.

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Ocorrência de eventos extremos

Como já dissemos anteriormente, as mudanças climáticas são passíveis de agravar ou provocar o surgimento de eventos externos que podem ter alto impacto sobre a produção agropecuária.

Ondas de calor, por exemplo, provocam a prevalência diária de temperaturas acima de 32°C, sendo responsáveis pela queda da produção agrícola, uma vez que interferem nas fases do ciclo fenológico das culturas e no desenvolvimento de órgãos vitais das plantas. 

Já os veranicos, por sua vez, conhecidos como períodos de estiagem, acompanhados por calor, forte insolação e baixa umidade relativa em plena estação chuvosa ou em pleno inverno, podem resultar em maior necessidade de irrigação. O cultivo da soja pode se tornar cada vez mais difícil na região Sul, e alguns estados do Nordeste podem perder significativamente sua área agricultável.

Como o tema de mudanças climáticas é abordado em provas e concursos?

Bem, agora que você já sabe um pouco mais sobre o que são mudanças climáticas e quais as consequências das mudanças climáticas sobre a atividade agropecuária e sobre o planeta como um todo, confira esta questão de um concurso público abordando o tema:

Concurso Engenheiro Agrônomo 2019 – Universidade Federal do Paraná (NC/FUNPAR/UFPR)

Uma das questões ambientais contemporâneas mais controversas diz respeito aos impactos das mudanças climáticas sobre os recursos naturais, a economia e as sociedades em todo o mundo. São desconhecidas, ainda, as magnitudes desses impactos, que podem ser projetados pela elaboração de cenários baseados em aumentos na concentração do CO2 atmosférico, no comportamento futuro da economia e nos padrões demográficos. Levando-se em conta tais cenários e seus efeitos sobre os sistemas agrícolas, assinale a alternativa correta.

  1. A concentração do CO2 atmosférico, hoje em torno de 400 ppm (partes por milhão), ainda está abaixo da saturação para a maioria das plantas cultivadas, motivo pelo qual supõe-se que aumentos nessa concentração podem ter efeitos fertilizadores benéficos, aumentando a produtividade de culturas agrícolas e contrabalançando eventuais adversidades provenientes da economia mundial.
  2. Cenários climáticos futuros, que envolvam aumentos de temperaturas em respostas a aumentos de CO2, farão com que as culturas que possuem metabolismo do tipo C3, como a soja, bem como as do tipo C4, como o milho, tenham aumentos na suas produtividades.
  3. Aumentos na concentração do CO2 atmosférico induzem a maiores produtividades para plantas do tipo C3, uma vez que elas aumentam as taxas fotossintéticas em reação a aumentos nas temperaturas, elevando a formação de biomassa.
  4. A dinâmica climática dada por elevação nas temperaturas e maior variabilidade nas precipitações poderá promover aumentos na evapotranspiração, com aumento da deficiência hídrica, podendo levar à uma migração de culturas tropicais para áreas mais ao sul e para maiores altitudes, e deslocamento do café e da cana para áreas de latitudes mais elevadas.