É provável que você já tenha ouvido falar em azedinha, ora-pro-nóbis, peixinho, serralha. Sabia que essas e outras espécies de plantas, estão inseridas no grupo das PANC, as Plantas Alimentícias Não Convencionais?

Talvez a mais conhecida dessas PANC listadas acima, seja a ora-pro-nóbis que ficou famosa por “carne vegetal”, devido a seus elevados teores de proteínas, sendo uma opção para a dieta vegetariana e vegana. 

Muitas pessoas não as conhecem e, ao se depararem com alguma PANC, imaginam ser uma planta espontânea (planta invasora, “erva-daninha”). Entretanto, as PANC armazenam alto teor de nutrientes e são fontes de renda para produtores, principalmente agricultores familiares. 

Mas é importante ter cautela ao degustar uma planta, porque nem todo mato é uma PANC! Existem muitas plantas que são impróprias para o consumo humano e animal. 

Por isso, é importante conhecer e saber um pouco mais antes de se aventurar na ingestão de alguma planta. Além disso, o não reconhecimento de algumas espécies pode induzir o aluno concurseiro a errar em alguma questão de prova.

Neste artigo você vai descobrir:

  • Qual a diferença entre Plantas Alimentícias Convencionais x Plantas Não Convencionais?
  • Como classificar uma planta como PANC?
  • Quais são as principais Plantas alimentícias não convencionais do Brasil?
  • Qual a importância das PANCs?
  • Onde crescem as PANCs?
  • Recomendações gerais para a produção de PANC
  • PANC: o futuro da segurança alimentar?

Plantas Alimentícias Convencionais x Plantas Não Convencionais

As plantas sempre fizeram parte da vida humana. Historicamente, o conhecimento humano e o uso de plantas foram guiados por necessidades práticas e predileções culturais.

Algumas espécies de plantas são amplamente distribuídas em todo o mundo, e podem estar sendo negligenciadas como alimento humano. Esta definição inclui plantas que são consumidas diretamente e aquelas que fornecem óleos, especiarias e condimentos usados ​​para cozinhar. 

Estima-se que sejam conhecidas no mundo cerca de 390 mil espécies de plantas (RGB 2017). Apesar da diversidade, muitas delas ainda são pouco conhecidas e sua utilização como alimento tem sido negligenciada. 

Dentre elas estima-se que existam cerca de 27 mil espécies de plantas com potencial alimentar no mundo. Quantas dessas plantas são usadas para este propósito é uma questão muito complexa. Prescott-Allen e Prescott-Allen estimam que 103 espécies de plantas são responsáveis ​​por 90% do suprimento de comida no mundo.

De acordo com Kinupp & Barros (2007) plantas alimentícias não convencionais (PANC) são as plantas que possuem uma ou mais partes comestíveis, sendo elas espontâneas ou cultivadas, nativas ou exóticas que não estão incluídas em nosso cardápio cotidiano. 

Na literatura e no meio científico acadêmico é comum outras denominações para hortaliças não convencionais. Por vezes, são identificadas também por “hortaliças negligenciadas” ou “hortaliças subutilizadas”, que seriam aquelas que largamente já foram utilizadas e caíram em desuso devido a fatores agronômicos, genéticos, econômicos, socioculturais, sendo também conhecidas como “hortaliças tradicionais”. 

Esta última definição, reforça a referência ao seu cultivo associado a povos tradicionais, o que valoriza a questão sociocultural agregada a essas espécies. As Plantas Alimentícias Não Convencionais – PANC, portanto, devem estar relacionadas com aquilo que o ambiente local, região pode proporcionar.

As PANC podem ser entendidas ainda como todas as plantas que não são convencionais em nossos cardápios ou não são produzidas em sistemas convencionais, como é o caso da agricultura industrial ou convencional (Brack 2016).

Alguns municípios brasileiros elaboram legislações para a inserção de hortaliças não convencionais na alimentação escolar. Porém, ainda não existe legislação federal brasileira que aborda, de maneira específica, as PANC. 

Como classificar uma planta como PANC?

A classificação de um vegetal como PANC varia de cultura para cultura. Por exemplo, plantas silvestres de uso regional são PANCs em outros lugares. É importante ter em mente que, quando uma PANC é produzida em grande escala e encontrada à venda em vários lugares, ela deixa de ser PANC e passa a ser, então, hortaliça convencional.

As PANC (frutos, folhas, flores, rizomas, sementes), principalmente as hortaliças não convencionais, têm atraído agricultores e consumidores interessados em diversificar e agregar valor à produção na oferta de produtos orgânicos e aquisição de alimentos saudáveis. 

As hortaliças não convencionais não se enquadram em uma cadeia produtiva propriamente dita e não são fáceis de serem encontradas em supermercados, mas podem ser cultivadas o ano todo em todo o território brasileiro, predominantemente, por agricultores familiares.

Conheça algumas das hortaliças não convencionais cultivadas no Brasil abaixo.

Plantas alimentícias não convencionais no Brasil: quais são as principais?

  • almeirão-de-árvore (Cichorium intybus);
  • araruta (Maranta arundinacea);
  • azedinha (Rumex acetosa);
  • beldroega (Portulaca oleraceae);
  • bertalha (Basella alba);
  • capuchinha (Tropaeolum majus);
  • cará-do-ar (Dioscorea bulbifera);
  • caruru (Amaranthus spp);
  • chuchu-de-vento (Cyclanthera pedata);
  • ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata);
  • peixinho (Stachys germânica);
  • taioba (Xanthosoma sagittifolium)
  • serralha (Sanchus oleraceus), dentre outras.

O conhecimento do cultivo e consumo dessas plantas foram passados de geração a geração por populações tradicionais, alcançando, assim, outros grupos e todas as classes sociais. 

Qual a importância das PANCs?

As PANC incluem as hortaliças não convencionais que facilmente eram encontradas em quintais e hortas de diversas regiões do Brasil. À medida que são conhecidos os costumes culinários interioranos do Brasil, novas espécies são acrescentadas à relação de hortaliças não convencionais. 

Porém, com o passar dos anos, essas plantas perderam um pouco o espaço para as hortaliças convencionais tais como alface, couve, almeirão, pimentão e muitas outras, devido ao apelo mercadológico e mudanças no comportamento alimentar das pessoas. 

De modo geral, o cultivo de hortaliças não convencionais tiveram reduzida expressividade em cultivos e oferta comercial. Entretanto, algumas espécies apresentam maior oportunidade de mercado, como o inhame (Dioscorea cayenensis), sendo, frequentemente, encontrado em feiras e prateleiras de supermercados. 

As hortaliças não convencionais são importantes em algumas comunidades tradicionais, sendo significativas na diversidade e riqueza da dieta das populações, bem como o resgate de culturas, com a presença dessas plantas, em pratos culinários regionais.

Praticamente todas as partes vegetais das hortaliças não convencionais são utilizadas em diversas preparações alimentares como saladas cruas e cozidas, refogados, sopas, cremes e molhos, omeletes, pastas, produtos de panificação, sucos e geleia, em preparações com carnes e como acompanhamento de arroz, feijão, angu e outros.

Em muitos países, o uso de flores comestíveis já é uma realidade como sendo ingredientes em refeições, presentes em cardápios culinários. 

O Brasil acompanha essa tendência gastronômica, ganhando espaço em cozinhas gourmet e programas culinários especializados em gastronomia, como no caso do uso da PANC capuchinha. 

Assim, nota-se a presença de mercados consumidores que produtores podem acessar na oferta e escoamento da produção de hortaliças não convencionais.

Onde crescem as PANCs?

Esse tipo de planta cresce de forma desordenada, é rústica e resiliente. Elas podem crescer em terrenos baldios, beira de estrada,  sacadas de apartamentos. Inclusive, muitos chefs de cozinha saem em busca das PANCs, como a beldroega, lírio do brejo, ora-pro-nóbis, taioba, lírio amarelo, pixirica, dente de leão para incluir no cardápio dos seus restaurantes.

Recomendações gerais para a produção de PANC

Para o cultivo das hortaliças ou plantas alimentícias não-convencionais, recomendam-se:

  • realizar práticas agrícolas conservacionistas;
  • preparar o solo com aração e gradagem, (principalmente no caso de tubérculos) ou o preparo localizado (restrito às covas e linhas de plantio);
  • enleirar;
  • formar canteiros ou camalhões (principalmente para aquelas mais sensíveis); e
  • proceder a adubação de acordo com cada espécie/cultura.

O conhecimento prévio sobre a espécie é fundamental para o sucesso do empreendimento e alcance da produtividade. O espaçamento, as exigências hídricas e climáticas, conhecer o mercado consumidor também são fatores contribuintes para o alcance de bons resultados produtivos e comerciais. 

Devem-se efetuar os tratos culturais básicos, irrigação adequada, manejo de plantas de não interesse, adubação de cobertura equilibrada com nitrogênio, potássio e matéria orgânica, tutoramento e podas quando necessário, etc.

Em geral, as hortaliças não convencionais são pouco afetadas por pragas e doenças, adequando-se facilmente a cultivos orgânicos e agroecológicos.

Vale ressaltar que, a maioria das hortaliças PANC é rústica, se adapta facilmente em qualquer local e são pouco exigentes em manejo, tornando-se boas opções para agricultura urbana, podendo ser cultivadas em hortas comunitárias ou ambientes domésticos. 

PANC: o futuro da segurança alimentar?

Este grupo de hortaliças não convencionais (PANCs) tem recebido atenção cada vez maior, principalmente como reação à expansão das monoculturas, e recebeu diferentes denominações.

Certo é que, quem experimenta PANC experimenta novos sabores, ganha novos valores nutricionais e ainda varia o cardápio do dia a dia.

As PANCs além de serem uma ótima fonte de nutrientes, são, também, uma forma de cada consumidor reduzir o impacto que sua alimentação tem no meio ambiente, já que o seu consumo é uma boa forma de contribuir para sistemas alimentares mais sustentáveis.

Para muitos, a riqueza das PANCs seria parte da solução do problema, pois, além de seus valores nutricionais e medicinais, nascem facilmente, crescem rapidamente, não exigem tecnologia avançada, pois se adaptam a solos e climas diversos, dispensando adubação e o uso de agrotóxicos. Nesse sentido, as plantas alimentícias não-convencionais podem contribuir para a garantia da segurança alimentar.

Alguns termos usados ​​para se referir às PANC são: 

  • alimentos contra a fome;
  • plantas alimentares alternativas; 
  • plantas selvagens comestíveis;
  • vegetais não convencionais ou vegetais tradicionais;
  • plantas para o futuro. 

Você conhece alguém que tenha o costume de consumir PANC em sua alimentação? As plantas não convencionais exercem importante papel na soberania alimentar de diversas culturas.

Entretanto, em função da carência de informações sobre a disponibilidade, formas de uso, partes utilizadas e usos potenciais das PANC, perde-se o alto potencial  para a saúde, a capacidade nutritiva, para a agricultura, a indústria e contribuição para o social — uma vez que muitas vezes uma planta  extremamente nutritiva pode não estar recebendo a importância que deveria no que se refere à segurança alimentar (a garantia de todas as dimensões que inibem a ocorrência da fome). 

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PANC cai em Concurso Público?

01. (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense – RJ (IFF/RJ) 2018 – Professor de Ensino Básico – Área Agroecologia)

As plantas invasoras, além de indicar a qualidade do solo, podem ser manejadas para que apareçam em momentos que tragam mais benefícios do que prejuízos. Nesse contexto, funciona como indicativo de solos ácidos, mal manejados, adensados e com provável deficiência de magnésio a presença de:

a) Tiririca (Cyperus rotundus).
b) Beldroega (Portulaca oleracea).
c) Caruru (Amaranthus spp.).
d) Cravo-bravo (Tagetes minuta).
e) Azedinha (Oxalis oxyptera).

GABARITO:

01. a

Literatura Complementar

Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Hortaliças não-convencionais: (tradicionais) / Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo. – Brasília: MAPA/ CS, 2010.  52 p. Disponível em: <https://www.abcsem.com.br/docs/cartilha_hortalicas.pdf>, acesso em 29 fev. 2020.

Cartilha de hortaliças não convencionais. Disponível em: <https://epamig.files.wordpress.com/2020/02/cartilha_hortalicas_nao_convencionais.pdf>, acesso em 29 fev. 2020.

PANC – Hortaliças não convencionais. Disponível em: <https://www.embrapa.br/hortalicas/publicacoes/panc-hortalicas-nao-convencionais>, acesso em 29 fev. 2020.

Autoria da redatora do Ifope:
Janaina Canaan Rezende