A carne suína é a fonte de proteína animal mais consumida em todo o mundo e o Brasil é o quarto maior produtor e exportador dessa proteína. Logo, a Peste Suína Clássica, enfermidade que acomete os suínos, representa um sério problema econômico para o setor da pecuária. Afetando tanto suínos domésticos quanto selvagens, a PSC não representa um risco para a saúde humana ou para outras espécies de animais.

Diante dos grandes impactos dessa doença é muito importante conhecer seus meios de transmissão, sintomas e como evitar a patologia. Assim, no texto de hoje trouxemos tudo o que você precisa saber sobre a Peste Suína Clássica. 

Não deixe de conferir! 

Peste Suína Clássica 

A Peste Suína Clássica (PSC) é uma doença altamente infecciosa que acomete suínos domésticos e selvagens.

Também conhecida como febre suína ou cólera suína, a PSC não oferece risco à saúde humana e não tem impacto na saúde pública, mas, tem grande importância econômica, por provocar restrições ao comércio internacional de suínos. 

Em animais jovens, a taxa de mortalidade é significativa, já em animais mais velhos, a enfermidade pode se manifestar de forma subclínica.

Os sintomas normalmente envolvem depressão, febre alta chegando a 41º, conjuntivite, leucopenia severa, além de hemorragias e eritemas. Nos casos de infecção crônica o animal pode apresentar problemas para se alimentar, perdendo bastante peso e dificultando sua recuperação.

A taxa de mortalidade é ainda maior em animais jovens, podendo chegar a 90%. Conquanto, em animais mais velhos a doença se manifesta discretamente inicialmente. A dificuldade de se identificar rapidamente os sintomas faz com que mais porcos sejam contaminados.

Agente etiológico da Peste Suína Clássica

A Peste Suína Clássica é ocasionada pelo vírus da família Flaviviridae, gênero Pestivirus. Trata-se de um vírus RNA envelopado que sobrevive bem em ambientes frios e pode também ser viável após a cura e a defumação da carne. 

Entretanto, é inativado em pH menor que 3 e pH maior que 11, e, por possuir um envelope glicolipoproteico, é sensível a solventes lipídicos (como, por exemplo, éter e clorofórmio), desinfetantes (cresol, hidróxido de sódio e formalina) e detergentes iônicos e não iônicos.  

O vírus ataca as células endoteliais, linfo-reticulares, macrófagos e algumas células epiteliais específicas. Em alguns casos, a infecção é pré-natal e pode resultar em má formação fetal, abortos ou natimortos.

Transmissão da Peste Suína Clássica

O agente infeccioso penetra por via oronasal e o período de incubação é de 2 a 14 dias. O vírus é encontrado em todas as secreções e excreções do animal infectado, portanto, pode ser transmitido por: 

Via direta: 

  • contato entre animais;
  • aerossóis;
  • secreções e excreções (saliva, sangue, sêmen, etc).

Via indireta: 

  • água;
  • alimentos;
  • fômites (por meio do trânsito de pessoas, equipamentos, materiais, veículos, vestuários, produtos, etc).

A infecção transplacentária é importante, pois gera leitões clinicamente sadios, mas que disseminam o vírus. Normalmente a contaminação ocorre quando existe uma densidade populacional elevada. Com muitos animais aglomerados em um ambiente a doença se propaga. A situação se torna mais recorrente quando temos porcos silvestres e domésticos ocupando esses espaços.

Fisiopatologia da Febre Suína

Inicialmente o vírus da Peste Suína Clássica se instala nas tonsilas, onde se multiplica e se distribui aos linfócitos regionais, atingindo por via hematógena ou linfática os linfócitos T e B e outras células da linhagem macrofágica. Em seguida, ocorre a infecção das células epiteliais de diversos órgãos.

O agente etiológico da PSC provoca severa leucopenia, o que leva os animais a um estado de imunodepressão. Pode haver trombose generalizada e danos ao epitélio vascular, devido à necrose do endotélio dos vasos sanguíneos e à trombocitopenia, o que causa hemorragias.

A morte apresenta-se como consequência de insuficiência circulatória generalizada, insuficiência cardíaca, lesões inflamatórias do sistema nervoso central ou processos inflamatórios bacterianos secundários, nos aparelhos digestivo e respiratório.

Sintomatologia 

A Peste Suína Clássica pode se manifestar de três formas

1. Forma aguda:

  • febre (40,5 a 42°C);
  • apatia, anorexia, letargia;
  • conjuntivite com crostas severas nas pálpebras;
  • lesões hemorrágicas na pele;
  • cianose (nas orelhas, membros, focinho e cauda);
  • paresia de membros posteriores, ataxia;
  • sintomatologia respiratória;
  • abortos.

2. Forma crônica:

A mortalidade é menos evidente, ocorrendo:

  • prostração;
  • apetite irregular, anorexia;
  • diarreia;
  • artrite;
  • lesões de pele;
  • retardo no crescimento;
  • problemas reprodutivos: repetição de cio, produção de leitegadas pequenas e fracas, com recuperação aparente e posterior recaída e morte.

3. Forma congênita: 

Na forma congênita pode haver leitões clinicamente normais, porém, com viremia persistente, sem resposta imune. Esses leitões atuam como fonte de infecção para outros suínos e não é possível detectar anticorpos no diagnóstico indireto por testes sorológicos. 

A sintomatologia da forma congênita inclui:

  • nascimento de leitões com malformações;
  • tremor congênito;
  • debilidade.

Diagnóstico da Peste Suína Clássica

Os animais apresentam alterações post-mortem características, tais como linfonodos hemorrágicos, áreas de necrose no baço, petéquias nos rins e úlceras em botão no intestino. 

À histopatologia observa-se depleção linfocitária em linfonodos e encefalomielite com manguito perivascular.

O diagnóstico para esclarecer um caso provável de doença hemorrágica deve ser confirmado por análise laboratorial. O material biológico deverá, obrigatoriamente, ser enviado ao Laboratório Federal de Defesa Agropecuária de Pedro Leopoldo – LFDA/MG, para a seguinte testagem:

  • Identificação do agente:  as amostras (amígdalas, baço, rins, porção distal do íleo, gânglios linfáticos faríngeos e mesentéricos, e sangue em EDTA no caso de animais vivos) devem ser conservadas em refrigeração e enviadas o quanto antes ao laboratório para a realização do teste de isolamento viral em cultivo celular, com detecção do vírus por imunofluorescência ou imunoperoxidase. 
  • Provas sorológicas: o soro dos animais é testado para a detecção de antígenos virais, utilizando-se os testes de ELISA ou RT-PCR. 

É importante realizar também o diagnóstico diferencial para: 

  • peste suína africana;
  • doença de Aujeszky;
  • circovirose;
  • salmonelose;
  • pasteurelose;
  • parvovirose;
  • leptospirose;
  • erisipela;
  • infecções por Streptococcus spp. e Haemophilus parasuis;
  • infecção por vírus da diarreia bovina;
  • e intoxicação por cumarínicos.

Leia ainda: Instrução Normativa Nº 79, 2018

Tratamento, prevenção e controle da PSC

Não há tratamento específico, assim, a Peste Suína Clássica deve ser prevenida e controlada. Para isso são necessárias algumas ações, como: 

  • vigilância epidemiológica;
  • barreiras sanitárias;
  • proibição do uso de restos de alimentação humana para alimentação dos suínos;
  • sacrifício dos suínos infectados e destruição das carcaças;
  • compra de matrizes e reprodutores com certificação;
  • adoção de medidas de biosseguridade na granja;
  • vacinação*.

Como já dito, o diagnóstico da PSC é feito por meio do isolamento do vírus em cultivo celular. A identificação do vírus se dá com o uso de anticorpos específicos e o resultado do teste pode demorar até 7 dias. Existem outras técnicas de diagnóstico e elas são fundamentais para o controle da patologia. O recomendado é cercar toda a área com uma tela de no mínimo 1,5 metros de altura. Para evitar que o vírus se espalhe é imprescindível que todos que tenham contato com os animais troquem de roupa e sapatos e que o acesso de veículos seja limitado. Essas recomendações tornam a maior parte das granjas suinícolas ambientes com severo controle.

A Peste Suína Clássica é uma doença com alta taxa de mortalidade e o seu controle é feito com o abatimento dos animais infectados do rebanho. Além disso, a melhor forma de prevenção da PSC é garantir o bem-estar dos animais, evitando o contato com javalis, suínos silvestres e limitar a sua movimentação. Outra possibilidade é garantir que os porcos tenham uma alimentação e suplementação adequada. A nutrição inclui compostos vitamínicos e ácidos orgânicos, melhorando a qualidade de vida dos animais.

Peste Suína Clássica - transmissão, sintomas e prevenção
Arte: Ascom/CIDASC

Peste Suína Clássica no Brasil

Atualmente as principais regiões de criação de suínos no Brasil são livres da PSC. Contudo, a doença permanece endêmica e recorrente em algumas regiões. Desde outubro de 2018 já foram confirmados 68 focos de PSC nos estados do Ceará, Piauí e Alagoas. A doença está presente na Zona Não Livre de PSC, e os focos mais recentes foram identificados em:

• 15/04/19: Lagoa do Piauí, Piauí

• 09/10/19: Traipu, Alagoas

• 05/10/20: Parnaíba, Piauí 

Em todos os casos, a enfermidade ocorreu em criatórios de suínos sem vínculo com sistemas de produção tecnificados. E, segundo nota do governo, não devem resultar em prejuízos para a indústria brasileira, já que a Zona Livre de PSC do Brasil concentra mais de 95% da indústria suinícola brasileira, e a exportação de suínos e seus produtos é proveniente da Zona Livre.

Em 2004 o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento publicou a Instrução Normativa nº6, documento que autoriza o uso da vacina contra a PSC em 11 estados da Zona Não Livre da doença. Para isso, o Departamento de Saúde Animal deve avaliar cada caso de acordo com o Plano Estratégico Brasil Livre da Peste Suína Clássica.

“Art. 2º Fica proibida a vacinação de suídeos contra a PSC em todo o Território Nacional, exceto nas zonas que venham a ser delimitadas pelo Departamento de Defesa Animal – DDA.”

Programa Nacional de Sanidade Suídea

O Programa Nacional de Sanidade Suídea (PNSS) concentra suas atividades na prevenção de doenças (peste suína clássica, peste suína africana, síndrome reprodutiva e respiratória dos suínos e doença de Aujeszky) para o reconhecimento, manutenção e ampliação de zonas livres e na certificação e monitoramento de granjas de reprodutores suídeos. 

Dessa forma, três instruções normativas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento merecem destaque: 

IN nº 6/2004 : aprova as normas para a erradicação da Peste Suína Clássica 

IN nº 27/2004: aprova o plano de contingência para a Peste Suína Clássica

IN nº 47/2004: aprova o regulamento técnico do PNSS 

Peste Suína Clássica em Concursos Públicos

Agora que você já está por dentro do assunto, que tal praticar com questões de concursos?

1. (ESAF/médico-veterinário: MAPA)

O vírus da peste suína clássica pertence à família viral:

a) Picornaviridae

b) Flaviviridae

c) Reoviridae

d) Asfarviridae

e) Togaviridae

2. (COSEAC/médico-veterinário: UFF)

A peste suína clássica, ou cólera dos porcos, ou febre do suíno, é uma doença febril altamente contagiosa que acomete porcos e javalis. A doença é causada por um vírus RNA. A principal lesão observada nesses animais consiste em uma:

a) vasculite generalizada

b) hepatite aguda

c) miosite eosinofílica

d) nefrite purulenta

e) pneumonia granulomatosa

3. (UNIUV/médico-veterinário: prefeitura de Nova Tebas)

Hemorragias múltiplas nos linfonodos, baço e rins, petéquias no córtex renal, bexiga e estômago, pneumonias, amigdalite, necrótica, conjuntivite, também pode ser observada congestão cerebral; são sinais de forma aguda de qual doença que acomete suínos?

a) Peste suína clássica

b) Encefalite suína

c) Encefalite viral suína

d) Doença de Aujeszky

e) Paratifo dos leitões

4. (FUNCAB/fiscal agropecuário: prefeitura de Aracruz)

A doença causada por vírus da família Flaviviridae, em que suínos e javalis são os reservatórios naturais e que na forma aguda da doença os animais podem apresentar febre, letargia, anorexia, cianose da pele especialmente nas extremidades, constipação intestinal, entre outros sinais, é a:

a) linfadenite caseosa

b) micoplasmose

c) salmonelose

d) erisipela suína

e) peste suína clássica

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Gabarito:

1-B

2-A

3-A

4-E

Bons estudos e até a próxima!

Autoria da redatora do Ifope:
Larissa Iyomasa