O mundo globalizado, competitivo e com grandes avanços tecnológicos, passou a demandar, a partir do final do século passado, novas formas de organização do processo produtivo. Esse cenário abriu espaço para a maior participação das mulheres no mercado de trabalho, não só pela necessidade de complementação da renda familiar, mas também pela quebra de padrões comportamentais que essas mudanças trouxeram.
Vamos entender mais sobre a participação feminina no setor de alimentos? Continue a leitura.
A realidade do mercado para as mulheres no Brasil
Analisando o mercado de trabalho brasileiro e os índices de escolaridade, percebe-se uma liderança por parte das mulheres e um crescimento da capacidade feminina em ganhar cada vez mais parcelas do mercado.
Porém, discriminações ainda existem, e as desigualdades entre homens e mulheres ainda é grande.
Isso é evidenciado quando analisamos fatores como processo de promoção mais lento, maior taxa de desemprego e desníveis salariais, quando comparados aos homens ocupantes do mesmo cargo. Outros aspectos como a penalização da maternidade ainda é um fator discriminante.
É claro que essa realidade não condiz com todas as empresas e, no Brasil, o setor de Alimentos e Bebidas é um dos que mais contratam mulheres.
De acordo com o SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), a indústria de Alimentos é uma das mais possui participação de mulheres empregadas. A mesma instituição nos traz dados de um aumento da participação das mulheres na maioria nos cursos técnicos de nível médio, apontando que as mulheres buscam mais qualificação e estão dispostas a estudar mais para se aperfeiçoarem e ter estabilidade, quando comparadas aos homens.
E o melhor… Na maioria das vezes, são cursos ligados à atividade industrial, que formam para profissões tipicamente ocupadas por homens.
Os números da Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná) mostram que o público feminino também é maior na graduação a distância, 56%.
A partir disso, observamos um aumento significativo de mulheres que se interessam em desenvolver competências como conhecimentos em engenharia e tecnologias, raciocínio analítico e capacidade de percepção de problemas.
Essas são habilidades que estão ganhando cada vez mais importância no atual contexto das organizações e que são básicas para se ingressar no setor industrial, que está sempre buscando inovação e desenvolvimento.
E o que as mulheres possuem de diferencial e que pode agregar, ainda mais, no crescimento de uma empresa?
Habilidades femininas exigidas pelo mercado
Como vimos, a evolução do ambiente de trabalho e o alcance de um mercado, cada vez mais flexível, vem exigindo nos profissionais, habilidades como a criatividade, empatia para lidar com o cliente, docilidade e “jogo de cintura”.
E é aí que as mulheres ganham gradativamente mais espaço, visto que essas características são consideradas, por muitos, mais femininas.
Outros atributos ditos femininos no qual as organizações estão buscando valores e significados, normalmente são a flexibilidade, atenção intuitiva, boa comunicação, persuasão, afetividade, resiliência e adaptabilidade.
Quando falamos em chão de fábrica, análises de produtos, coordenação de equipes e atendimento ao cliente, todas essas características são bem vistas e valorizadas.
Mesmo em ambientes como o cervejeiro, universo ainda muito masculinizado no Brasil, encontramos mulheres assumindo posições de mestres cervejeiras e cargos de liderança.
A participação de mulheres neste processo é fundamental, pois se um dos objetivos é possuir uma diversidade de consumidores ao final da cadeia, isso é facilitado ao se possuir uma equipe diversa na contribuição de ideias.
Mulheres que se destacam
A tendência à maior saudabilidade da população, também é um fator que impulsiona a participação feminina no mercado de alimentos.
Segundo a Forbes, empresas lideradas por mulheres têm se destacado nesse nicho de mercado em todo o mundo.
Como exemplo, temos a Daily Harvest, empresa americana criada em 2016 e comandada por Rachel Drori, a qual desenvolveu uma linha de produtos congelados e de consumo instantâneo, com alto teor nutritivo.
Outro exemplo é a Lifeway Foods, empresa produtora de Kefir, também norte americana e herdada por Julie Smolyansky na posição de CEO desde 2002; sua posição vem ajudado ativamente no crescimento e expansão da companhia para novas categorias, como suplementos e probióticos.
No Brasil, Daniela Cachich – VP de marketing da PepsiCo Foods foi eleita pela Forbes como uma das 20 mulheres em destaque do Brasil, no ano de 2020. Ainda, a ABIA (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos) elegeu Grazielle Parenti, diretora global de Relações Institucionais da BRF, como presidente do Conselho Diretor da ABIA, sendo a primeira mulher a ocupar o cargo.
Alguma dúvida de que as mulheres chegarão ainda mais longe?
A expansão das indústrias e do setor alimentício, em geral, têm que passar pela expansão de diversos elos de diversidade.
Desse modo, a inclusão feminina e a presença de mulheres em cargos e funções cada vez mais diversificados, em todas as áreas do setor de alimentos, mostra que elas vêm delimitando o seu espaço também nos ambientes ditos mais masculinizados, como o de produção.
Infelizmente, o preconceito ainda existe e, para algumas mulheres, há um sentimento de que você precisa sempre estar provando ser capaz.
E isso tem que mudar!
Se você atua no setor industrial, comercial, de consultoria, ou em outra área do segmento alimentício, entenda que o lugar da mulher é onde ela quiser. Você pode atuar no controle de produção, análise de insumos, desenvolvimento de novos produtos ou controle de qualidade. Basta você se qualificar!
As mulheres são as mais engajadoras para promover mudanças radicais, então invista em você e em seu crescimento profissional!
Para concluir
Na avaliação do gerente de Estudos e Prospectiva da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Márcio Guerra, a tendência é que a diferença salarial se reduza ao longo do tempo, uma vez que as mulheres, além da escolarização, estão buscando ativamente uma melhor qualificação. Elas, em momentos de expansão econômica recentes, vem conquistando mais espaços no mercado de trabalho, sobretudo nas ocupações em que se pagam melhores salários e faltam trabalhadores qualificados.
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Ainda há um longo caminho para seguir, no entanto, hoje, o chão de fábrica não é mais aquele ambiente exclusivamente ocupado por homens. O crescimento das mulheres no setor industrial, também em cargos de liderança, já é realidade.
Isso se deve, principalmente, a uma maior qualificação feminina atrelada ao objetivo de maior estabilidade profissional. Esse fato, também é um indicativo de que as mulheres tendem a ter menor rotatividade em uma empresa, e buscam evoluir dentro da organização.
Precisamos conscientizar as empresas e a sociedade sobre a importância da igualdade no mundo corporativo. O que tem que ser analisado e explorado pelas empresas deve sempre ser a capacidade de entrega do profissional e a sua identificação com a organização. O gênero nunca pode ser fator determinante no momento da contratação e, jamais, deve estar atrelado ao desempenho.
Convido você a refletir sobre esse tema e ajudarmos juntos, no seu dia a dia, como profissional, a mudarmos essa realidade.
Até a próxima!
Autoria do redator do Ifope:
Mariana Pereira Santos
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