Nessa série de publicações do IFOPE, estamos compilando em um único texto todos os detalhes mais recorrentes em provas anteriores. Hoje vamos discorrer sobre mais um assunto muito cobrado nos concursos para veterinários: a Tuberculose.
Definição de Tuberculose
Trata-se de uma doença infectocontagiosa, altamente impactante na população, que ocasiona graves prejuízos econômicos e sociais.
Apesar de ter sido erradicada em alguns países, é uma doença de abrangência mundial.
Pode ser considerada uma zoonose quando é transmitida do animal para o ser humano ou vice-versa. (Atenção: é sempre importante lembrar que nós também transmitimos as doenças aos animais!)
Etiologia da Tuberculose
Transmitida pela bactéria da família Mycobacteriacea e do gênero Mycobacterium, existem diversas espécies causadoras da doença.
As micobacterias são bastonetes curtos aeróbicos, imóveis, não capsulados, não flagelados, que apresentam aspecto granular quando corados, medindo de 0,5 a 7,0 μm de comprimento por 0,3 μm de largura, sendo a álcool-ácido- resistência a sua propriedade mais característica.
Três espécies de hospedeiros contribuíram para a perpetuação da tuberculose: o bovino, o homem e as aves em geral.
Mycobacterium bovis
Apresenta amplo espectro de patogenicidade para as espécies domésticas e silvestres (no Brasil, é desconhecida a importância das espécies silvestres para propagação e perpetuação da doença), principalmente bovinos e bubalinos. Pode participar da etiologia da tuberculose humana (tuberculose zoonótica).
Mycobacterium tuberculosis
Trata-se da principal causa de tuberculose no ser humano.
Pode infectar bovinos, sem contudo causar doença progressiva nessa espécie. Entretanto, ocasionalmente, pode sensibilizá-los ao teste tuberculínico.
Mycobacterium avium
Trata-se do agente causador da tuberculose em várias espécies de aves e é integrante do complexo MAIS (M. avium, M. intracellulare e M. scrofulaceum).
As micobactérias do complexo MAIS causam lesões granulomatosas nos linfonodos do trato gastro-intestinal de suínos, a linfadenite granulomatosa, que leva a sérias perdas no abate desses animais.
No ser humano, a infecção pelas micobactérias do complexo MAIS tem importância para os indivíduos com deficiência imunológica.
As micobactérias do complexo MAIS não são patogênicas para os bovinos e bubalinos; entretanto, provocam reações inespecíficas à tuberculinização, dificultando o diagnóstico da tuberculose nessas espécies.
Viabilidade da bactéria
• até uma hora em suspensão no ar (ao abrigo da luz solar direta);
• até dois anos em estábulos, pastos e esterco;
• até um ano na água;
• até dez meses nos produtos de origem animal;
** Uma vez que a Mycobacterium bovis é a espécie de maior importância nas Provas De Concurso, focaremos nela!
Modo de Transmissão da Tuberculose
A principal via de transmissão das bactérias do gênero Mycobacterium é por aerossóis. No entanto, além de ser eliminada pelo ar expirado, o M. Bovis também sai pela urina, pelas fezes, pelo leite e por outros fluidos corporais, dependendo dos órgãos afetados.
Raramente vacas com tuberculose genital transmitem a doença ao feto pela via transplacentária. Pode ocorrer transmissão sexual nos casos de epididimite e metrite tuberculosa. A infecção cutânea pode ocorrer por contato com objetos contaminados. Entretanto, esses três últimos mecanismos de transmissão são pouco frequentes.
A eliminação do M. bovis tem início antes do aparecimento dos sinais clínicos.
A principal porta de entrada do M. bovis é a via respiratória: a transmissão, em aproximadamente 90% dos casos, ocorre pela inalação de aerossóis contaminados com o microorganismo. O trato digestivo também é porta de entrada da tuberculose bovina, principalmente em bezerros alimentados com leite proveniente de vacas com mastite tuberculosa e em animais que ingerem água ou forragens contaminadas.
SE LIGA! É de fundamental importância realizar o tratamento térmico adequado do leite antes de consumi-lo, pois a ingestão de leite proveniente de vaca com tuberculose pode ocasionar a doença também ao ser humano. Dê preferência sempre ao leite pasteurizado ou UHT!
Patogenia
Aproximadamente 90% das infecções pelo M. bovis em bovinos e bubalinos ocorrem pela via respiratória por meio da inalação de aerossóis contaminados com o microorganismo.
Uma vez atingido o alvéolo, o bacilo é capturado por macrófagos, sendo o seu destino determinado pelos seguintes fatores: virulência do microorganismo, carga infectante e resistência do hospedeiro.
Caso os bacilos não sejam eliminados, eles se multiplicam dentro dos macrófagos, destruindo-os. Os bacilos são então fagocitados por outros macrófagos alveolares ou por monócitos recém-chegados da corrente circulatória, atraídos pelos próprios bacilos liberados, ou por fatores quimiotáticos produzidos pelo hospedeiro.
Passadas duas a três semanas após inalação do patógeno, é cessada a multiplicação dos bacilos. Essa etapa caracteriza a terceira fase da patogenia e é caracterizada por resposta imune mediada por células e reação de hipersensibilidade retardada.
Nessa fase, em decorrência da reação de hipersensibilidade retardada, o hospedeiro destrói seus próprios tecidos por meio da necrose de caseificação para conter o crescimento intracelular das micobactérias.
Com a mediação dos linfócitos T, ocorre a migração de novas células de defesa, culminando com a formação dos granulomas. Tais granulomas são constituídos por uma parte central, por vezes com área de necrose de caseificação, circundada por células epitelióides, células gigantes, linfócitos, macrófagos e uma camada periférica de fibroblastos.
Os bacilos da lesão tuberculosa do parênquima pulmonar propagam-se ao linfonodo satélite, no qual desencadeiam a formação de novo granuloma, constituindo, assim, o complexo primário.
As lesões pulmonares têm início na junção bronquíolo-alveolar com disseminação para os alvéolos e linfonodos brônquicos, podendo regredir, persistir estabilizadas ou progredir.
A disseminação da infecção para outros órgãos pode ocorrer precocemente durante o desenvolvimento da doença, ou numa fase tardia, provavelmente em função de uma queda na imunidade do animal.
A generalização da infecção pode assumir duas formas:
1) miliar, quando ocorre de maneira abrupta e maciça, com entrada de um grande número de bacilos na circulação;
2) protraída, mais comum, que se dá por via linfática ou sanguínea, acometendo o próprio pulmão, linfonodos, fígado, baço, úbere, ossos, rins, sistema nervoso central, disseminando-se por, praticamente, todos os tecidos.
As lesões macroscópicas têm, em geral, coloração amarelada em bovinos, e ligeiramente esbranquiçadas em búfalos; apresentam-se na forma de nódulos de 1 a 3 cm de diâmetro, ou mais, que podem ser confluentes, de aspecto purulento ou caseoso, com presença de cápsula fibrosa, podendo apresentar necrose de caseificação no centro da lesão ou, ainda, calcificação nos casos mais avançados.
Embora possam estar presentes em qualquer tecido do animal, as lesões são encontradas com mais frequência em linfonodos (mediastínicos, retrofaríngeos, bronquiais, parotídeos, cervicais, inguinais superficiais e mesentéricos), em pulmão e fígado.
Sendo uma doença de evolução muito lenta, os sinais clínicos são pouco frequentes em bovinos e bubalinos. Em estágios avançados, e dependendo da localização das lesões, os bovinos podem apresentar caquexia progressiva, hiperplasia de linfonodos superficiais e/ou profundos, dispneia, tosse, mastite e infertilidade, entre outros. (fonte: Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose- PNCEBT).
Diagnóstico da Tuberculose
Exame após a morte do animal:
Histopatologia
- utilizado em regiões de alta prevalência, mas é apenas presuntivo, necessitando de confirmação através da bacteriologia;
- depende dos critérios de inspeção (de carcaça e sítios);
- depende de coleta adequada de:
- pares de linfonodos (pelo menos seis):
- Cabeça – mandibulares, parotídeos e retrofaríngeo;
- Tórax – mediastínicos e bronquiais;
- Abdômen – mesentérios;
- Carcaça – pré-escapulares, ilíacos, isquiáticos, sacral, inguinal superior.
- amostras de órgãos acometidos:
- Pulmão;
- Fígado;
- Intestinos;
- Baço;
- Rim;
- Úbere;
- Órgãos genitais.
- pares de linfonodos (pelo menos seis):
Exame com o animal vivo
Teste da tuberculinização
Visa medir a resposta imune do animal ao M. bovis.
Um derivado proteico purificado (PPD) é injetado intradermicamente no animal. Caso o animal tenha sido exposto ao agente, ele desenvolve uma resposta imune específica e promove ativação do sistema após contato com a tuberculina, provocando um aumento de volume no sítio de injeção. A magnitude do aumento de volume e rubor da região caracteriza a reação positiva.
É importante ressaltar que estes testes somente podem ser realizados por Médico Veterinário credenciado pelo Ministério da Agricultura (MAPA)
Os testes podem ser basicamente de três tipos: caudal, cervical simples ou cervical comparada.
RIISPOA e a Tuberculose
De acordo com o artigo 171 do Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal- RIISPOA, as carcaças dos animais com tuberculose devem ser condenadas quando:
I – no exame ante mortem o animal esteja febril;
II – sejam acompanhadas de caquexia;
III – apresentem lesões tuberculósicas nos músculos, nos ossos, nas articulações ou nos linfonodos que drenam a linfa destas partes;
IV – apresentem lesões caseosas concomitantes em órgãos ou serosas do tórax e do abdômen;
V – apresentem lesões miliares ou perláceas de parênquimas ou serosas;
VI – apresentem lesões múltiplas, agudas e ativamente progressivas, identificadas pela inflamação aguda nas proximidades das lesões, necrose de liquefação ou presença de tubérculos jovens;
VII – apresentem linfonodos hipertrofiados, edemaciados, com caseificação de aspecto raiado ou estrelado em mais de um local de eleição; ou
VIII – existam lesões caseosas ou calcificadas generalizadas, e sempre que houver evidência de entrada do bacilo na circulação sistêmica.
§ 1o As lesões de tuberculose são consideradas generalizadas quando, além das lesões dos aparelhos respiratório, digestório e de seus linfonodos correspondentes, forem encontrados tubérculos numerosos distribuídos em ambos os pulmões ou encontradas lesões no baço, nos rins, no útero, no ovário, nos testículos, nas cápsulas suprarrenais, no cérebro e na medula espinhal ou nas suas membranas.
§ 2o Depois de removidas e condenadas as áreas atingidas, as carcaças podem ser destinadas à esterilização pelo calor quando:
I – os órgãos apresentem lesões caseosas discretas, localizadas ou encapsuladas, limitadas a linfonodos do mesmo órgão;
II – os linfonodos da carcaça ou da cabeça apresentem lesões caseosas discretas, localizadas ou encapsuladas; e
III – existam lesões concomitantes em linfonodos e em órgãos pertencentes à mesma cavidade.
§ 3o Carcaças de animais reagentes positivos a teste de diagnóstico para tuberculose devem ser destinadas à esterilização pelo calor, desde que não se enquadrem nas condições previstas nos incisos I a VIII do caput.
§ 4o A carcaça que apresente apenas uma lesão tuberculósica discreta, localizada e completamente calcificada em um único órgão ou linfonodo pode ser liberada, depois de condenadas as áreas atingidas.
§ 5o As partes das carcaças e os órgãos que se contaminarem com material tuberculoso, por contato acidental de qualquer natureza, devem ser condenados.
Já o artigo 172, desse mesmo Regulamento, aponta os tratamentos a que os produtos devem passar caso tenham aproveitamento condicional, a critério do SIF. São eles:
I – pelo frio, em temperatura não superior a -10oC (dez graus Celsius negativos) por dez dias;
II – pelo sal, em salmoura com no mínimo 24oBe (vinte e quatro graus Baumé), em peças de no máximo 3,5cm (três e meio centímetros) de espessura, por no mínimo vinte e um dias; ou
III – pelo calor, por meio de:
a) cozimento em temperatura de 76,6oC (setenta e seis inteiros e seis décimos de graus Celsius) por no mínimo trinta minutos;
b) fusão pelo calor em temperatura mínima de 121oC (cento e vinte e um graus Celsius); ou
c) esterilização pelo calor úmido, com um valor de F0 igual ou maior que três minutos ou a redução de doze ciclos logarítmicos (12 log10) de Clostridium botulinum, seguido de resfriamento imediato.
§ 1o A aplicação de qualquer um dos tratamentos condicionais citados no caput deve garantir a inativação ou a destruição do agente envolvido.
§ 2o Podem ser utilizados processos diferentes dos propostos no caput, desde que se atinja ao final as mesmas garantias, com embasamento técnico-científico e aprovação do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal.
§ 3o Na inexistência de equipamento ou instalações específicas para aplicação do tratamento condicional determinado pelo SIF, deve ser adotado sempre um critério mais rigoroso, no próprio estabelecimento ou em outro que possua condições tecnológicas para esse fim, desde que haja efetivo controle de sua rastreabilidade e comprovação da aplicação do tratamento condicional determinado.
Leia também: Concursos – tudo que você precisa saber sobre Brucelose
Agora que você já está por dentro de tudo que cai nas provas sobre o tema TUBERCULOSE, que tal fazer algumas questões de provas antigas para consolidar seus conhecimentos?
Autoria da redatora do Ifope:
Tereza Abujamra
Parabéns, ótimo artigo!
Adorei!
http://www.gramasprimavera.com.br/grama-preco-m2