Há dois anos, depois de um doutoramento árduo, seguido de um período de baixa nas contratações de Universidades e IFs, decidi voltar-me, novamente, para um desejo da época da graduação: o caminho do agrônomo concurseiro, notadamente para os cargos de auditor fiscal federal agropecuário (MAPA) ou de perito (MPU).
Nesse meio-tempo, intercalado por um pós-doutorado, pela ansiedade da espera por esses editais e por alguns concursos para “ganhar experiência de prova”, fiz escolhas erradas, deixei o “momento certo” passar algumas vezes, lidei com reprovações e “estudei incorretamente” por alguns meses; também, acumulei um pouco de sabedoria e algumas aprovações – na última, IPHAN (2018), fiquei em 3° lugar.
Nesse texto, compartilho dicas e conselhos com vocês, nascidos de minhas dores e desafios, que gostaria de ter lido ou ouvido quando adentrei no caminho do agrônomo concurseiro. Confiram abaixo!
Estabeleça uma rede de apoio
Comunique claramente a seus pais, amigos, familiares e cônjuge o seu plano no caminho do agrônomo concurseiro, estabelecendo a compreensão, o apoio e o tempo que você demandará para que seus objetivos sejam alcançados da maneira menos dolorosa possível.
Faça-os compreender que esse não é um projeto apenas seu, pois todos ganharão, no futuro, com sua experiência e estabilidade.
Porém, caso seja possível, restrinja essa comunicação àqueles que realmente são presentes e agregam à sua vida: não se explique; não negue a sua realidade de concurseiro, mas também não exponha a todos os seus planos.
Agrônomo, escolha uma área e seja fiel à sua escolha
Fiscalização fitossanitária, assistência técnica, atuação em comunidades, técnico de campo, auditoria ambiental…
São muitas as áreas de concurso para Agrônomo, todas muito boas… e de perfis completamente diferentes!
Escolha a área com a qual sinta afinidade, procure os órgãos que demandam essas atividades, analise o cenário para futuros certames (em médio e longo prazo) e, com base nos editais anteriores, componha o conteúdo programático da sua preparação.
Não caia na tentação de mudar de área toda vez que um edital “mais quente” aparecer nas notícias dos jornais especializados, pois, quem se prepara pra tudo, na verdade, não se prepara para nada.
Pense em termos de área, não de cargo
Atente-se, por exemplo, que estudar para o concurso de auditor fiscal federal agropecuário (MAPA) é, simultaneamente, preparar-se para os concursos estaduais dos órgãos de defesa sanitária (ADAPEC, ADAGRO, ADAB, ADAPAR, etc.).
Assim, tenha um “cargo norteador”, mas mantenha a “mente aberta”; pense em termos de área (não de cargo) e, assim, caso algo atrase em demasia o edital de sua preferência, você terá a possibilidade de entrar no serviço público e aguardar a “prova dos seus sonhos” enquanto trabalha e ganha experiência.
Porém, analise muito bem os concursos alternativos que você decidir fazer, pois, não vale a pena estudar, mesmo que seja na área de sua escolha, para certames com conteúdo programático que divirja em mais de 30% do edital do seu cargo norteador.
Escolha e produza muito bem o seu material
Sabe aquele livro de Fitopatologia I de 700 páginas da sua graduação? Caso você o utilize, será mais um atraso do que um fator positivo em sua aprovação.
Procure materiais “enxutos”, que contenham as informações importantes, mas, ao mesmo tempo, sejam diretos, específicos e voltados para concursos.
Basicamente, há três opções:
1). Assista aulas (online ou presencial), leia apostilas e, na sequência, produza seu próprio material;
2). Compre um pacote pronto, direcionado à área de sua escolha, que contenha vídeo-aulas e apostilas em .pdf;
3). Combine, sistematicamente, as duas opções anteriores.
No primeiro caso, você estabelecerá uma relação intimista com seu material, e seus rabiscos, anotações e notas de rodapé serão os melhores gatilhos para lembrar rapidamente das informações durante as provas.
No segundo caso, você ganhará muito tempo, pois, ao invés de buscar matérias confiáveis e com o nível adequado de dificuldade, você irá direto para a etapa de estudo e memorização.
No terceiro caso, você combina todos os benefícios anteriores.
Ressalva-se, ainda, que a compra de pacotes de estudos deve ser feita em uma empresa confiável, da área de educação, mas especializada ou com forte tradição em concursos, como é o caso do IFOPE Educacional.
Agrônomo, aprenda a aprender
Por mais que estudar seja o passo mais fundamental para a aprovação, 50% de seu desempenho depende da estratégia de estudo.
Vivemos em uma sociedade que enaltece o saber e, não raro, as famílias exercem muita pressão para que os seus membros façam adesão a um projeto de estudo; porém, a maioria esquece que aprendizado é técnica e não uma benção para QIs especiais ou um processo “osmótico” a partir de leituras passivas e sequenciais.
Consuma o trabalho de produtores de conteúdo que tratam de técnicas de estudo, memorização e aprendizado: livros, posts, matérias, vídeos e palestras.
Mas, principalmente, aplique e veja o que funciona para você, pois todos os resultados estão condicionados ao temperamento, gostos e necessidades de cada um no caminho do agrônomo concurseiro.
Eu recomendaria os seguinte tópicos para começar:
- Técnicas de estudo ativo;
- Uso de flashcards;
- Técnicas de elaboração de resumos;
- Mapas mentais (digitais e manuais);
- Aprender dando aulas a si mesmo;
- Técnica Pomodoro.
Tenha cuidado com “coachs” baratos e técnicas milagrosas de “aprovação em três meses”; prefira sempre aquilo que tem precedente e embasamento científico.
Aprenda a estudar legislação
Direito Administrativo, Direito Constitucional, Fiscalização Agropecuária, Ética Pública e Auditoria Ambiental são exemplos de disciplinas que demandam amplo conhecimento da legislação.
Aprenda a estudar leis, pois, não raro, elas serão mais de 50% de seu edital.
Você pode utilizar aulas, resumos e textos corridos para suavizar o tédio nesse tipo de estudo, mas nada substitui a leitura de “lei seca”, pois muitas bancas, como a FCC e a CESPE, cobram a literalidade dos artigos.
Com o tempo, porém, isso deixará de ser um problema e você apreciará questões e matérias focadas na legislação, pois elas dão muito menos margem a divagações do que temas como “misturas de fertilizantes” ou “benefícios ambientais da agricultura orgânica”.
Em todo caso, aplica-se à legislação as mesmas técnicas citadas no tópico anterior.
Lembre-se sempre de baixar as versões mais atualizadas das normas, em .docx ou .pdf, nos sites do MAPA e da Câmara Federal.
Cuide-se
O caminho do agrônomo concurseiro, não raro, envolve planejamentos que englobam dois anos ou mais; por isso, é fundamental cuidar bem de si mesmo pois, com a sua saúde (física, emocional e espiritual) no ótimo, o seu rendimento será muito maior.
Exercício físico, meditação, yoga, orações, visitas frequentes a médicos, terapia, grupo de apoio…
Procure as atividades que combinam com seu temperamento, tempo livre e orçamento.
Por mais que concurseiros, em regra, sejam carentes de recursos financeiros, parques, templos e praças são de acesso público, postos de saúde, hospitais e universidades oferecem atendimento psicológico, odontológico e médico gratuito.
Atente-se à solidão
Uma dor emocional frequente no universo dos concursos é a solidão, uma vez que o isolamento, em prol da concentração, pode gerar o sentimento típico de “não estar vivendo” ou “não fazer parte da sociedade”.
Para lidar com isso:
- prefira estudar em grupo, pelos menos algumas disciplinas, seja presencial, seja remotamente (por chamada de vídeo);
- frequente bibliotecas, universidades, cabines de estudo e cursinhos;
- participe de comunidades, páginas e grupos do WhatsApp que reúnam outros candidatos interessados em sua área de estudo;
- não esqueça de agendar momentos semanais com sua família e amigos;
- paquere e namore, nem que seja virtualmente.
Cuidado com Língua Portuguesa e Redação
Aqueles que, como eu, têm o hábito da leitura e uma trajetória acadêmica baseada mais em elogios do que críticas à sua escrita, serão surpreendidos por uma verdade desoladora: para concurso, isso não é suficiente.
Não subestime as provas de Língua Portuguesa e Redação, pois o formato e a cobrança nos concursos diverge muito daquilo que nos é exigido em outros contextos.
Português será, sem dúvida, a disciplina que você mais estudará: primeiro, porque perceberá que o seu conhecimento atual não é suficiente para uma boa pontuação; segundo, porque estará presente em TODOS os certames que fizer.
Concilie disciplina e motivação
A disciplina é o fator fundamental, o músculo emocional que precisará ser desenvolvido para que você seja aprovado e, para isso, além da convivência diária com o sentimento de “estudar, mesmo sem querer”, é importante aprender sobre construção de hábitos saudáveis e funcionamento do comportamento humano.
A motivação é a “cereja do bolo”, a habilidade de instigar-se na execução de seu plano diário de estudo, obtendo prazer e satisfação em seu aprendizado, confiante que esse esforço será altamente recompensado em breve.
Para manter-se motivado, recomendo vídeos e textos que relatam histórias de superação de aprovados e personalidades, como lideranças sociais e políticas.
Por fim, espero que você tenha percebido que estudar para concurso é, antes de qualquer coisa, uma empreitada de autoconhecimento e autodesenvolvimento que transformará permanentemente a sua relação com o conhecimento, o aprendizado e consigo.
Autoria do redator do Ifope:
Elialdo Alves de Souza
Muito relevante. Parabéns pelo conteúdo.