A brucelose bovina é uma infecção altamente contagiosa, além de ser um tipo de zoonose, ou seja, é transmitida de animais para homens, e vice-versa. A brucelose é considerada de importância para a saúde pública, especialmente por afetar negativamente a produção de carne e leite no país.

Pensando em explicar e esclarecer as dúvidas sobre essa doença, preparamos este texto! Entenda o que é brucelose bovina, qual o diagnóstico e tratamento, quais os sintomas da brucelose, como evitá-la e como a doença se apresenta em humanos. E, caso você seja da área da medicina veterinária e deseje prestar concursos veterinários, atenção, pois o tema costuma aparecer nas provas. Fique atento e saiba mais!

O que é brucelose bovina?

A brucelose é um tipo de infecção causada por bactérias pertencentes ao gênero Brucella. Existem seis espécies desse grupo, mas é a Brucella abortus que atinge os bovinos de forma direta. 

Embora receba o nome de brucelose bovina, já que afeta principalmente o gado, a doença também pode causar problemas para os seres humanos, já que, como falamos logo no início, se trata de uma zoonose. Geralmente, os mais afetados são aqueles que estão em contato direto com animais infectados. Mas, além desse grupo, a brucelose também pode ser contraída por meio da ingestão de leite cru ou produtos derivados ou que não passaram por tratamento ou por meio do consumo de carne crua com restos de tecidos de animais infectados.

Em relação ao gado leiteiro, estudos apontam que a brucelose bovina pode causar de 20 a 25% de perda na produção do leite e 15% na produção de bezerros. Tudo isso afeta o produtor de forma financeira, mas também gera prejuízos como comprometimento da credibilidade, barreiras comerciais e penalidades fiscais.

Como a transmissão ocorre?

A brucelose bovina é transmitida pelo contato de um animal infectado com um animal sadio. A principal forma de contaminação é por via oral. Como o gado tem como hábito lamber uns aos outros, a transmissão pode ocorrer no momento em que um animal sadio lambe a genital de uma fêmea doente. Além disso, outra forma de transmissão é através da ingestão de alimentos que estejam contaminados com fezes ou urina de animais infectados e de restos de placentas, já que é eliminada uma grande quantidade de bactéria durante abortos e partos de fêmeas infectadas.

Em relação ao contágio pela monta natural, existem poucas possibilidades, já que a vagina tem barreiras que dificultam a infecção. Por outro lado, a inseminação artificial na qual se utiliza sêmen infectado apresenta grandes chances de contaminação. Entretanto, o contágio por inseminação artificial é mais raro, já que são realizados diversos testes no touro doador do sêmen.

Quais os sintomas da brucelose bovina?

Como o próprio nome da bactéria sugere, a brucelose bovina é uma das causas de aborto, que pode vir associado de retenção da placenta e infertilidade temporária ou permanente. Dessa forma, o principal sintoma da brucelose bovina são os abortos que ocorrem a partir do sexto mês de gestação, natimortos e nascimentos bezerros fracos.

Nos machos, a doença gera orquite, que é a inflamação nos testículos, podendo diminuir a qualidade dos espermatozóides ou causar infertilidade.

Outros sintomas da brucelose bovina incluem:

  • repetição de cio e descargas uterinas associadas a uma grande eliminação de bactérias;
  • corrimento vaginal;
  • queda na produção de leite;
  • redução na fertilidade;
  • inflamação das articulações.

Normalmente, depois de passar pelo primeiro aborto, o animal contaminado diminui as perdas de gestação. Contudo, o animal infectado continua a eliminar a bactéria e a ser um transmissor da doença.

Como fazer o diagnóstico e tratamento?

Além de identificar a doença por meio dos sintomas, o diagnóstico da brucelose bovina pode ser feito por meio da análise de membranas para detectar o agente, e o tratamento ocorre com antibióticos. Os métodos de diagnóstico mais recomendados são o Teste de Soroaglutinação com Antígeno Acidificado Tamponado (AAT) e o 2-Mercaptoetanol (2-ME). Ambos os testes utilizam amostras de soro sanguíneo e necessitam ser realizados por médicos veterinários habilitados.

Como os testes ocorrem e como proceder conforme os resultados?

O teste AAT é feito individualmente por um médico veterinário habilitado e trata-se de um teste individual. Ele indica com exatidão apenas os animais que são negativos, ou seja, que foram não reagentes no teste. 

Os animais positivos, que apresentarem reação, devem ter suas amostras encaminhadas para o teste confirmatório, 2-ME, em laboratório credenciado. Caso o resultado do 2-ME seja positivo, os médicos veterinários podem optar pelo sacrifício já neste momento ou pedirem um teste de confirmação que, se positivo, indica sacrifício do animal.

Também existe a possibilidade de um resultado inconclusivo, sendo que, neste caso, o animal deve passar novamente pelo teste do 2-ME. Caso o resultado seja positivo ou novamente inconclusivo, o animal é sacrificado.

Além dos testes supracitados, também existem outros testes, como o Teste do Anel do Leite (TAL) e Fixação do Complemento (FC), mas menos utilizados e mais indicados em determinadas situações.

Como evitar a brucelose bovina?

Para fazer o controle e prevenir a brucelose bovina, o mais adequado é reduzir os focos da doença. Para tanto, deve-se:

  • Fazer exames anuais no rebanho;
  • Sacrificar animais infectados;
  • Vacinar fêmeas de 3 e 8 meses;
  • Isolar e fazer exames em vacas que tenham abortado;
  • Apenas retornar para o rebanho vacas que tenham testado negativo;
  • Adquirir animais de propriedades que não apresentem a doença de forma comprovada;
  • Enterrar o material proveniente de aborto e que não foi enviado para teste em laboratório;
  • Desinfectar com cal ou creolina todo o material que entrou em contato com o feto, membranas fetais e líquidos.

Programa de controle da brucelose bovina

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) instituiu o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal (PNCEBT) com o objetivo de reduzir a incidência e prevalência desses tipos de doenças em rebanhos bovinos e bubalinos. Além disso, o PNCEBT também objetiva certificar propriedades livres ou monitoradas para brucelose e tuberculose. O programa foi responsável por introduzir medidas como a vacinação contra a brucelose em todo o país e definir estratégias para a certificação de propriedades livres ou monitoradas. Lembrando que é obrigatório realizar a vacinação em bezerras que possuam entre 3 e 8 meses de vida, enquanto a certificação de propriedade livre de brucelose ou tuberculose é aderida voluntariamente, devendo ser formalmente solicitada.

Vacina de brucelose

No Brasil, são utilizadas duas vacinas conta a brucelose bovina, sendo elas a B19 e a RB51. Seu objetivo é reduzir a prevalência da doença com custo baixo. A vacinação é obrigatória, conforme PORTARIA SEDRAF/INDEA 008/2014, e conta com campanhas semestrais: de 1° de janeiro a 30 de junho e 1° de julho a 31 de dezembro.

Entenda como cada uma das vacinas funciona:

  • B19: é obrigatória para todas as fêmeas com idade de 3 a 8 meses. Aplica-se apenas uma dose que protege entre 75 e 80%. Caso a fêmea seja vacinada com mais de 8 meses, pode ser que ela produza anticorpos aglutinantes que interferem no diagnóstico, ou seja, podem fazer com que um animal não infectado apresente resultado positivo no teste.
  • RB51: é permitida para fêmeas com mais de 8 meses de vida que nunca foram vacinadas com a B19, já que não induz a formação dos anticorpos aglutinantes.

A vacinação deve ser feita por médicos veterinários que sejam cadastrados no órgão fiscalizador do estado ou por pessoas com treinamento, já que o aplicador corre risco de contaminação.

Após a vacinação, o produtor deve apresentar uma via de atestado ao órgão fiscalizador de seu estado para fazer a validação.

De que forma ocorre a contaminação humana?

Seres humanos podem contrair a brucelose através do contato com mucosas ou secreções liberadas por animais infectados, do consumo de leite cru ou de outros produtos lácteos que não passaram por tratamento térmico adequado ou da ingestão de carne crua com restos de tecido linfático de animais doentes.

Os grupos mais suscetíveis à doença são médicos veterinários e tratadores do gado, que entram em contato com os animais e lidam com a vacina; pesquisadores e técnicos de laboratórios, enquanto desenvolvem a vacina; e aqueles que lidam com carne ou leite que podem estar contaminados.

Os sintomas da brucelose bovina em humanos incluem febre, mal estar, calafrios, fraqueza, sudorese noturna e dores musculares e articulares, entre outros. Os quadros mais graves de brucelose bovina no ser humano são causados pela Brucella melitensis, mas a doença causada pela Brucella abortus, da qual falamos ao longo do texto, muitas vezes é confundida com gripe ou com outras doenças comuns, o que acaba dificultando seu diagnóstico. Contudo, em determinados casos, ela pode evoluir para tromboflebite, espondilite e artrite periférica.

Como a brucelose bovina cai em concursos veterinários?

O tema da brucelose bovina é de interesse geral, mas, especialmente, de médicos veterinários e profissionais da pecuária. Por isso, se você faz parte desse grupo e se deseja realizar um concurso público na área, aproveite para ler também: 5 dicas sobre brucelose bovina para concursos veterinários e tudo que você precisa saber sobre o tema em concursos

Confira, dois exemplos de questões que caíram em concursos passados:

Q769977 – PATOLOGIA CLÍNICA VETERINÁRIA – Prefeitura de Nepomuceno – MG 2013 – Médico Veterinário (Banca: CONSULPLAN)

1) Sobre brucelose e tuberculose bovinas, marque V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas.

( ) A brucelose bovina pode resultar na diminuição da fertilidade dos animais, além de gerar redução na produtividade leiteira.

( ) O tratamento da brucelose é uma prática aconselhável desde que realizado um antibiograma para a escolha do antimicrobiano apropriado.

( ) Com relação às vacinas disponíveis para a prevenção da brucelose, a RB51 é produzida a partir de uma linhagem mutante que induz boa proteção contra o aborto e não resulta em resposta sorológica detectável nos testes utilizados pelos programas convencionais de vigilância para brucelose.

( ) A virulência do Mycobacterium bovis, agente causador da tuberculose bovina, relaciona-se com a sua capacidade de sobreviver e multiplicar-se dentro dos macrófagos do hospedeiro.

( ) O teste da tuberculina é baseado na reação de hipersensibilidade do tipo retardado à tuberculoproteína microbacteriana e a reatividade em bovinos já é detectável a partir de poucas horas após a ocorrência da infecção nos animais.

( ) O controle da tuberculose é feito por meio de vacinas com cepas atenuadas.

A sequência está correta em

A.V, F, V, V, F, F

B.V, V, F, V, F, F

C.F, V, F, V, V,V

D.V, F, F, V, F, F

E.V, F, V, F, F, F

Q362940 – FGV – 2014 – SUSAM – Médico – Veterinário 

Com relação a vacina B19 contra brucelose bovina, assinale a afirmativa incorreta.

a) A B19 é atenuada para fêmeas.

b) A B19, administrada em animais machos, pode causar orquite.

c) A B19 não infecta o homem.

d) A B19, dependendo da idade de vacinação, induz à formação de anticorpos específicos e pode interferir no diagnóstico sorológico da brucelose.

e) A B19 provoca uma boa resposta imunológica humoral e celular.

Respostas: A e C

Conclusão

Tanto este texto, como os outros dois indicados, vão ajudá-lo a dar os primeiros passos rumo ao conhecimento exigido na aprovação. Mas, se você quiser se aprofundar e encarar a concorrência com pontos à frente, não deixe de conferir nosso combo preparatório para concursos veterinários clicando aqui ou na imagem abaixo.