Há pouco tempo vimos a imprensa comunicar um caso atípico de “vaca louca” no Mato Grosso em uma vaca de 17 anos. Ainda assim, esse foi um caso mais isolado, que não mudou a categoria de risco para a EEB no Brasil, que continua sendo de risco insignificante.

De toda forma, esse é um assunto importante e muito abordado em concursos veterinários. Por isso, para que você possa entender mais sobre a Encefalopatia Espongiforme Bovina, suas características e as normativas adotadas no Brasil, leia o texto abaixo que é fundamental para quem almeja um cargo público na área de veterinária.

O que é EEB e qual seu agente etiológico?

A Encefalopatia Espongiforme Bovina, ou EEB (BSE em inglês), é um quadro degenerativo crônico e transmissível do sistema nervoso central (SNC) de bovinos. Também conhecida como BSE, do inglês Bovine Spongiform Encephalopathy, a doença é provocada por um novo tipo de agente infeccioso, denominado prion, (uma partícula de proteína em versão modificada) o qual é transmitido por meio da consumo de subprodutos animais como farinha de carne e ossos de bovinos ou ovinos contaminados.

A versão normal do prion aparece em abundância superfície dos neurônios, desde os répteis aos mamíferos, e algumas pesquisas realizadas em camundongos indicam que estes têm por função o bom funcionamento do cérebro, enquanto que a versão modificada causa a “doença da vaca louca”, devido a sua acumulação, que provoca uma gradual deterioração no tecido do cérebro de bovinos. Observado ao microscópio, o cérebro do animal doente apresenta lesões características que lhe dão o aspecto de esponja, o que explica seu nome.

Os cientistas entendem que o prion bovino alterado também seja capaz de contaminar o cérebro humano, criando a variante da doença “Creutzfeldt-Jakob”. Além disso, o agente da EEB é muito resistente ao calor, portanto também aos processos convencionais de esterilização, e não induz resposta imune ou inflamatória. A doença já foi exposta em bovinos de cerca de 20 países, embora acima de 90% dos casos tenham acontecido na Grã-Bretanha.

Desse modo, temos a primeira identificação da EEB  em 1986, na Grã-Bretanha, principalmente em vacas leiteiras com mais de 3 anos. Porém, dados epidemiológicos e revisões de arquivos de preparações histológicas mostram o aparecimento de casos já em 1985 e alguns estudos sugerem que casos anteriores possam ter aparecido já na década de 70.

Os bovinos afetados por EEB, são em sua maioria dos rebanhos da Grã-Bretanha, formando um total de 180.000 casos desde 1986, distribuídos por 35.000 rebanhos, numa média 1 a 2 casos por rebanho afetado. Sendo que o pico aconteceu em 1992, quando 37.000 bovinos foram positivos para EEB.

Quais são as espécies afetadas pela EEB?

Afeta principalmente bovinos e bubalinos, no qual são causados sérios prejuízos econômicos ao produtor rural. Tem importância na saúde pública por ser uma zoonose, ou seja, pode passar dos animais para o homem.

Por esta razão, o consumo da carne animais afetados pela doença-da-vaca-louca (ou EEB) pode transmitir príons de animais infectados para seres humanos. Leite e derivados, contudo, são considerados seguros. A transmissão também pode acontecer diretamente de uma pessoa a outra por meio de transfusões de sangue, transplantes de órgãos e outros procedimentos médicos que envolvam tecidos contaminados.

Esta doença acomete predominantemente pessoas jovens, abaixo dos 30 anos. O primeiro caso mundial de possível transmissão sanguínea da nova variante da vDCJ (Variante da Doença de Creutzfeldt–Jakob) foi divulgado recentemente pelo Ministério da Saúde da Grã-Bretanha.

Como a encefalopatia espongiforme bovina é transmitida aos animais?

A EEB não se trata de uma doença contagiosa. A infecção geralmente ocorre pela ingestão de rações ou concentrados, que em sua composição contenha proteína ou gordura animal, principalmente a farinha de carne e ossos contaminada com o príon infeccioso.

Nesse contexto, é importante ressaltar a proibição de alimentar ruminantes com produtos de origem animal e da utilização de cama de aviário e dejetos suínos (visto que aves e suínos se alimentam de ração contendo proteína de origem animal e os restos de rações e partículas não digeridas nas fezes desses animais podem veicular o agente da EEB).

Essa forma de transmissão, através da alimentação, corresponde ao caso típico da doença, que costuma acometer animais entre 2 e 7 anos de idade. Já no caso atípico de EEB, o animal contrai a doença espontaneamente, com o passar da idade, sem estar relacionada à ingestão de alimentos contaminados pelo príon.

O Brasil já registrou ao menos dois casos de atípicos de vaca louca, que não apresentam risco de transmissão da doença. Além disso, a transmissão do príon através do sêmen, óvulos e leite, assim como a transmissão horizontal (de uma animal a outro) de acordo com as pesquisas científicas atuais, é improvável.

Sinais clínicos da EEB

Os animais afetados pela EEB apresentam sintomatologia clínica de sinais nervosos, caracterizadas por:

  • Apreensão;
  • Medo;
  • Ranger de dentes; 
  • Alterações no temperamento;
  • Nervosismo;
  • Alta sensibilidade ao toque, ao som e à luz;
  • Andar cambaleante;

Nos estágios terminais o animal pode apresentar-se em decúbito permanente. Há também a queda da produção de leite e diminuição do peso, porém com apetite normal.

Diagnóstico da EEB

Atualmente não há testes específicos para detecção da EEB no animal vivo. As técnicas atuais direcionam-se à avaliação das características morfológicas do tecido encefálico e da detecção da forma anormal do príon. 

Nos laboratórios credenciados pelo MAPA, as técnicas laboratoriais de rotina para o diagnóstico das EET são o exame histológico seguido da técnica de imunohistoquímica.

Desde 1976, o diagnóstico da EEB passou a ser realizado conjuntamente ao sistema de vigilância sanitária da raiva animal, fazendo parte do Plano Nacional de Combate da Raiva dos Herbívoros (PNCRH), coordenado pelo MAPA.

Desta forma, todo laboratório que realiza diagnóstico de raiva, deverá encaminhar, obrigatoriamente, amostras de material encefálico de animais investigados que tiverem idade superior a 24 meses, para bovinos, e 12 meses, para ovinos e caprinos, que resultaram em negativo para a raiva, a um dos laboratórios credenciados pelo MAPA para a realização de diagnóstico das EET.

Estas normas visam incrementar medidas de vigilância epidemiológica específicas para manter e preservar a condição de país livre da EEB.

Como prevenir a EEB?

  • Não alimentar bovinos com farinhas de carne e ossos (FCO) de ruminantes. Essa medida é reconhecida como a principal maneira de interromper o ciclo da EEB típica;
  • Não importar animais ou produtos de origem animal de países considerados de risco para EEB;
  • Não alimentar bovinos com “cama de aviário” ou resíduos da exploração de suínos, pois na ração destes animais pode conter farinha de carne e ossos;
  • Antes de alimentar os bovinos com rações, concentrados e suplementos protéicos, conferir o rótulo destes produtos. Não use, se encontrar informações, como: “Uso proibido na alimentação de ruminantes”;
  • Caso perceba que algum animal apresenta qualquer sintoma de doença nervosa, notificar à unidade da ADAPEC mais próxima.

Cadeia epidemiológica da EEB e medidas de controle

Na figura abaixo, é possível acompanhar as principais medidas de controle da EEB em cada ponto crítico que propicia a transmissão da doença (fonte da figura: MAPA, 2015).

EEB - Cadeia epidemiológica e medidas de controle

Legislação em vigência para a encefalopatia espongiforme bovina

A partir da publicação da Portaria N° 516, de 9 de dezembro de 1997 do MAPA, ocorreu a incorporação da EEB, da paraplexia enzoótica dos ovinos (scrapie) e outras doenças com sintomatologia nervosa de caráter progressivo, no sistema de vigilância da raiva dos herbívoros domésticos.

No quadro abaixo estão as principais normativas vigentes sobre o assunto.

NormaResumo
INSTRUÇÃO NORMATIVA nº 18, de 15 DE FEVEREIRO DE 2002Aprova as Normas a serem adotadas, visando incrementar a vigilância epidemiológica para detecção de Encefalopatias Espongiformes Transmissíveis – EET – em ruminantes
INSTRUÇÃO NORMATIVA MAPA Nº 5, DE 1º DE ABRIL DE 2002Aprova as normas técnicas para controle da raiva dos herbívoros e atualiza a inclusão da Encefalopatia Espongiforme Bovina – EEB, da scrapie e de outras doenças de caráter progressivo no sistema de vigilância da raiva dos herbívoros
INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 18, DE 15 DE DEZEMBRO DE 2003Proíbe o abate de bovino e bubalino importados de país onde houve ocorrência de caso autóctone da EEB ou de país considerado de risco para esta doença
INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 8, DE 25 DE MARÇO DE 2004Proibição em todo o território nacional da utilização de subprodutos de origem animal na alimentação de ruminantes
INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 49, DE 15 DE SETEMBRO DE 2008Estabelece as seguintes categorias de risco para a Encefalopatia Espongiforme Bovina – EEB:
INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 41, DE 08 DE OUTUBRO DE 2009Aprova os procedimentos a serem adotados na fiscalização de alimentos de ruminantes em estabelecimentos de criação e na destinação dos ruminantes que tiveram acesso a alimentos compostos por subprodutos de origem animal proibidos na sua alimentação.
INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 44, DE 17 DE SETEMBRO DE 2013Institui o Programa Nacional de Prevenção e Vigilância de Encefalopatia Espongiforme Bovina.
INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 13, DE 14 DE MAIO DE 2014Estabelece as normas para identificação, monitoramento e controle da movimentação de bovinos importados de países considerados de risco para encefalopatia espongiforme bovina (EEB) e aprovar os formulários constantes dos Anexos desta Instrução Normativa.

Leia também: Defesa Sanitária Animal – 7 Dicas para Concurso Público

Como o conteúdo de EEB é cobrado nas provas de concursos?

Nada como testar os conhecimentos resolvendo algumas questões de concursos não é? Bons estudos!

1 – (INSTITUTO AOCP – 2019 – PC-ES – Perito Oficial Criminal Médico Veterinário)

De acordo com o Sistema Brasileiro de Prevenção e Vigilância da Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), os pilares do Programa Nacional de Prevenção e Vigilância da Encefalopatia Espongiforme Bovina (PNEEB) são:

A) Controle de importação, Controle de exportação, Necropsia compulsória, Controle de riscos.
B) Vigilância da EEB, Controle de exportação, Controle e avaliação.
C) Controle de importação, Vigilância da EEB, Medidas de mitigação de riscos, Controle e avaliação.
D) Controle de importação, Necropsia compulsória, Controle de exportação, Controle e avaliação.
E) Medidas de mitigação de riscos, Controle de exportação, Controle e avaliação, Necropsia compulsória.

2 – (BIO-RIO – 2015 – IF-RJ – Médico veterinário)

A principal medida para o controle da Encefalopatia Espongiforme Bovina é:

A) vacinação compulsória do rebanho bovino.
B) teste para identificação precoce e descarte dos animais infectados.
C) quarentena de indivíduos suspeitos.
D) controle de trânsito de reprodutores.
E) proibição do uso de proteína animal na alimentação de ruminantes.

3 – (FEPESE – 2017 – CIDASC – Médico Veterinário)

A Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), conhecida como doença da vaca louca, é uma enfermidade degenerativa fatal e transmissível do sistema nervoso central de bovinos.

Assinale a alternativa correta em relação à EBB.

A) Possui um período médio de incubação de 5 meses.
B) O agente causador é um RNA-vírus, do gênero Lyssavirus.
C) Aves e suínos são naturalmente susceptíveis à doença da vaca louca.
D) A sintomatologia pode confirmar a existência da doença.
E) Uma das ações importantes para prevenção da Encefalopatia Espongiforme Bovina é o controle de produtos utilizados na alimentação animal.

4 – (CONSULPLAN – 2014 – MAPA – Veterinário)

A encefalopatia espongiforme bovina (EEB) foi identificada pela primeira vez na Grã-Bretanha, em 1986, porém, dados epidemiológicos e revisões de preparados histológicos mostram a possível ocorrência no ano de 1985 ou, ainda, que alguns casos possam ter ocorrido ainda na década de 70. Sobre a encefalopatia espongiforme bovina, é correto afirmar que:

A) o tempo de incubação é menor do que 2 anos.
B) pela perda nervosa provocada pela doença, há uma insensibilidade do animal frente ao toque, ao som e à luz.
C) entre os sinais clínicos, estão a diminuição de peso e da produção de leite, apesar da manutenção do apetite do animal.
D) após o aparecimento dos sinais clínicos, a doença pode evoluir para um quadro crônico num período compreendido entre 9 e 12 meses.

GABARITO

1 – C;
2 – E;
3 – E;
4 – C.

Já entendeu tudo sobre a EEB?

Agora que você já aprendeu um pouco mais sobre a encefalopatia espongiforme bovina, aproveite também para se aprofundar em outros temas importantes cobrados nos concursos veterinários e seja mais um aprovado!

Confira os cursos preparatórios do Ifope e prepare-se de forma totalmente online com a melhor equipe e os melhores conteúdos do mercado.

Concurso Veterinário - Combo Preparatório

Autoria da redatora do Ifope:
Tereza Abujamra