A presença de plantas daninhas na lavoura é um fato preocupante para os agricultores, no entanto, o que tem causando maiores problemas e dificultado o manejo é a ocorrência da resistência das plantas aos produtos químicos utilizados para o seu controle. 

Neste artigo, vamos abordar sobre a resistência das plantas daninhas aos herbicidas, as causas e os fatores que interferem nesse processo, e também, daremos algumas dicas de manejo. 

A resistência de plantas

O primeiro relato de plantas daninhas resistentes aos herbicidas foi no final da década de 60, com a aplicação intensiva de herbicidas do grupo químico das triazinas. A partir de então, o número de casos registrados pelo HRAC (Herbicide Action Committee) tem aumentado rapidamente no decorrer dos anos. 

Já publicamos aqui no blog um artigo sobre os impactos das plantas daninhas  na agricultura, mas vale lembrar a sua definição para que possamos entender melhor sobre o assunto. 

Plantas daninhas

As plantas daninhas são organismos biológicos, que interferem economicamente na atividade humana. É toda e qualquer planta indesejável que se desenvolve no local, constituindo um sério problema para a agricultura.

Elas evoluem em resposta às mudanças do ambiente e se desenvolvem em condições semelhantes às plantas cultivadas de interesse econômico. Essa evolução e pressão de seleção são processos em que as plantas daninhas apresentam uma ampla variabilidade genética, ou seja, são capazes de se adaptar e sobreviver numa diversidade de condições ambientais.

Nos últimos anos, o controle dessas espécies tem sido realizado basicamente pelo uso de herbicidas. 

Herbicidas

Os herbicidas são produtos químicos utilizados para o controle de plantas daninhas e apresentam um local específico de atuação dentro da planta com o objetivo de dificultar um processo ou uma função essencial. 

Com a adaptação das plantas daninhas, muitas vezes esse local de atuação do herbicida é alterado, isto é, a molécula do produto não tem mais capacidade de exercer sua função fitotóxica e matar a planta.  

Sendo assim, devido a utilização intensiva desses produtos nos últimos anos e a ampla variabilidade genética das daninhas, provocou-se uma pressão de seleção dos herbicidas, resultando em plantas resistentes a eles. 

Definição de resistência 

A resistência de uma planta daninha nada mais é, do que a habilidade de sobreviver e reproduzir em condições adversas. Nesse caso, a planta tem a capacidade de seguir o seu ciclo, mesmo após a exposição a uma dose de herbicida, que normalmente seria letal a espécie. 

Como uma planta se torna resistente? 

A característica de resistência de uma planta é adquirida por mutação genética ou pressão de seleção.

A pressão de seleção é um processo causado pela ação humana e é a principal responsável pela manifestação da resistência nas plantas, isso ocorre devido ao uso contínuo de um produto com o mesmo mecanismo de ação. 

“O mecanismo de ação é a primeira lesão bioquímica ou biofísica, que resulta na morte da planta ou ação final do produto, ou seja, é o local da planta em que o herbicida age, mata ou controla, podendo ser uma proteína, enzima ou carotenóide específico.”

Já a mutação genética, ocorre ao acaso, por ações da natureza, antes ou depois da aplicação de um herbicida. Durante o processo de divisão celular a planta sofre mutação e a sequência genética é modificada, por exemplo, se a sequência era ABCD, e após a mutação passou a ser ACDB, o herbicida que atuava diretamente no B não terá mais efeito sobre a planta.

Se um herbicida for altamente eficiente, quando aplicado em uma área com plantas suscetíveis e resistentes, o controle das plantas suscetíveis seria de 100% e apenas as plantas resistentes teriam a capacidade de sobreviver e se reproduzir, consequentemente, aumentaria o banco de sementes de plantas resistentes na área e as suscetíveis deixariam de existir.

Dessa forma, quando a rotação de produtos com mecanismos de ação distintos não é realizada, há maior tendência de desenvolvimento de biótipos de plantas daninhas resistentes na área e a dificuldade de controle é muito maior. 

Fatores que afetem a evolução da resistência 

Os principais fatores que afetam a evolução da resistência em plantas daninhas são separados em três grupos: genéticos, bioecológicos e agronômicos.

Genéticos

Os fatores genéticos são inerentes aos indivíduos de uma mesma população de plantas, ou seja, cada planta tem suas características genéticas. Eles dependem:

  • da frequência inicial da resistência;
  • da dominância e do número de alelos resistentes;
  • do tipo de fecundação;
  • e da adaptação ecológica de cada indivíduo.

Bioecológicos

Os fatores bioecológicos estão relacionados à interação entre as características da planta daninha e a ação do ecossistema sobre ele.

Diz respeito:

  • a espécie;
  • a taxa de reprodução;
  • a longevidade do banco de sementes;
  • a densidade da espécie;
  • e a suscetibilidade da planta ao herbicida.

Agronômicos

Já os fatores agronômicos são resultantes da seleção provocada pelo manejo agrícola, através:

  • da característica do herbicida utilizado;
  • do grupo químico;
  • do residual no ambiente;
  • da dose e a eficiência de controle;
  • da utilização exclusiva do controle químico;
  • do uso repetitivo do mesmo produto ou mesmo mecanismo de ação durante vários anos;
  • da frequência de aplicação;
  • e do sistema de cultivo.

Dentre eles, os fatores genéticos e bioecológicos são mais difíceis de manipular, porém tem grande importância na avaliação da resistência. 

Os fatores agronômicos são os mais importantes e de fácil manipulação pelo homem, através da implementação de estratégias de manejo. 

Estratégias de manejo 

Quando a ocorrência de plantas daninhas na lavoura possui densidade suficiente para limitar a produção das culturas agrícolas, há necessidade de modificar e adaptar algumas práticas de manejo.

Para se ter eficiência, o manejo de plantas daninhas deve ser considerado a longo prazo, adotando um sistema integrado de controle que envolve métodos culturais, mecânicos, físicos e químicos. 

Algumas práticas são recomendadas para evitar a ocorrência da resistência de plantas daninhas, dentre elas podemos citar:

  • rotação de culturas: permite a utilização de herbicidas diferentes na área, sendo aplicados em momentos distintos ao longo do ciclo de cada cultura;
  • aplicação de dose recomenda na bula do produto;
  • controle das plantas daninhas durante todo o período de crescimento: evitando assim a frutificação e disseminação de sementes;
  • remoção das plantas resistentes que ficaram na área;
  • realização de controle preventivo: através da limpeza de equipamentos e maquinários antes de sair das áreas infestadas e adentrar em outra;
  • utilização de sementes certificadas;
  • uso de métodos de controle alternativo;
  • rotação de herbicidas, entre outras. 

Planta Tolerante X Resistente X Suscetível

A tolerância das plantas daninhas aos herbicidas é diferenciada da resistência, pelo fato de que, a tolerância é uma característica inata da espécie em sobreviver a doses recomendadas de herbicidas, que seriam letais ao restante da população de plantas na área.

A tolerância é uma característica genética que já existe na planta antes mesmo da aplicação de qualquer tipo de produto, é uma característica natural hereditária da espécie. Ao contrário da resistência, que é adquirida com o tempo através da mutação ou pressão de seleção. 

 Uma planta daninha suscetível é aquela, que tem sua população reduzida consideravelmente e se torna incapaz de completar seu ciclo após a aplicação de uma dose recomendada de herbicida. 

A planta daninha tolerante, por possuir essa característica genética, mesmo apresentando algum dano ou limitação pela aplicação do herbicida, é capaz de se recuperar e finalizar o seu ciclo.

E as plantas daninhas resistentes são aquelas capazes de sobreviver, mesmo com a aplicação de doses elevadas do produto. 

Tipos de resistência 

A resistência da planta daninha aos herbicidas pode ser classificada como:

  • Resistência Cruzada: ocorre quando a planta é resistente a dois ou mais herbicidas, com o mesmo mecanismo de ação. 
  • Resistência Múltipla: ocorre quando a planta daninha adquire resistência a um ou mais mecanismo de ação. 

Consequências da resistência

Dentre as principais consequências da resistência de plantas daninhas aos herbicidas, podemos citar:

  • a restrição da utilização de herbicidas;
  • perda de área de plantio;
  • mudanças no sistema de produção;
  • perdas de rendimento e produtividade das culturas;
  • necessidade de reaplicação de herbicidas na área;
  • aumento da dose dos produtos utilizados;
  • impacto ambiental;
  • aumento dos custos de produção;
  • lucratividade menor;
  • desvalorização na comercialização do produto final. 

Exemplos de plantas daninhas resistentes

 Buva: Conyza spp.
Capim amargoso: Digitaria insularis
Caruru: Amaranthus palmeri
Azevém: Lolium multiflorum

Últimas notícias!

No último mês a Embrapa Soja, juntamente com a COCARI (Cooperativa Agropecuária e Industrial) relataram a ocorrência de resistência de mais uma planta daninha ao glifosato. 

A planta daninha identificada é conhecida como leiteiro ou amendoim-bravo, cujo nome científico é Euphorbia heterophylla. A resistência foi observada em algumas lavouras na região do Vale do Ivaí no Estado do Paraná. 

Mas apesar de ser restrito a apenas uma área, o fato preocupa os pesquisadores, técnicos e produtores, devido ao grande impacto econômico que poderá ocasionar, pois, esta planta daninha infesta principalmente as lavouras de soja no Brasil e o custo de produção com plantas resistentes a esse herbicida pode ser muito maior. 

Para obter mais informações a respeito dessa descoberta, você pode acessar o site da Embrapa e conferir a matéria completa

Resistência de plantas daninhas a herbicidas

Considerações finais 

Vale ressaltar, que para evitar o problema de resistência nas lavouras brasileiras é necessário adotar as diferentes estratégias antirresistência. É de extrema importância diversificar os herbicidas utilizados com diferentes mecanismos de ação, e adotar métodos de controle integrado, bem como a rotação de culturas. 

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Autoria da redatora do Ifope:
Karina Rosalen