À medida que a tecnologia avança, é possível fazer coisas que antes não eram nem imaginadas. Assim, há cerca de duas décadas, surgiu a Engenharia Genética, uma área nova que tornou possível fazer modificações em organismos vivos, de forma que passassem a apresentar características vantajosas. Essa modificação deu origem ao que chamamos de organismos geneticamente modificados (OGM).
Por meio da Engenharia Genética, é possível transferir determinada característica de um organismo para outro. Isso deu origem, por exemplo, à plantas que são mais resistentes à pragas, espécies com maturação mais lenta e, até mesmo, à possibilidade de produzir hormônios partindo de bactérias.
Os organismos geneticamente modificados surgiram com a promessa de melhorar o meio ambiente e a vida humana. Contudo, apesar de parecer extremamente vantajoso à primeira vista, a produção de organismos geneticamente modificados causa uma série de discussões complexas.
Pensando em desvendar os mistérios sobre esse assunto, preparamos um texto completo, incluindo as discussões, benefícios e malefícios, exemplos de organismos geneticamente modificados e ainda explicando a diferença entre eles e os transgênicos. Para saber mais, continue lendo este texto.
O que são organismos geneticamente modificados?
Os organismos geneticamente modificados (OGM) são aqueles que tiveram uma ou mais características modificadas e codificadas pelo gene ou pelos genes introduzidos. Esses organismos são manipulados geneticamente objetivando o aparecimento de características desejadas, como cor, tamanho, resistência, etc. Os OGMs têm trechos de seu genoma alterados por meio da tecnologia do RNA/DNA recombinante ou engenharia genética.
Quando um OGM é desenvolvido, são realizadas mudanças em seu material genético que não aconteceriam naturalmente. É possível fazer a recombinação genética utilizando material genético da mesma espécie ou, até mesmo, de espécies distintas.
Qual a diferença entre organismos geneticamente modificados e transgênicos?
Não é incomum encontrarmos afirmações de que organismos geneticamente modificados são a mesma coisa que organismos transgênicos. Contudo, é importante se lembrar que eles não são iguais. Todos transgênico é um OGM, mas nem todo OGM é transgênico.
Os organismos geneticamente modificados (OGM) são seres biológicos que tiveram seu material genético modificado, mas não receberam nada de uma espécie diferente. A mudança é somente na estrutura ou na função do próprio material genético do organismo. De modo diferente, quando há a inserção de material genético de uma espécie diferente em outra, esse organismo passa a ser, além de geneticamente modificado, também transgênico. Um organismo só é transgênico quando lhe é inserido material genético (DNA/RNA) exógeno.
Técnicas da engenharia genética
Por meio da engenharia genética, é possível manipular diretamente os genes de organismos. Algumas de suas técnicas são:
DNA Recombinante
A técnica de DNA recombinante permite a junção de genes provenientes de organismos distintos em uma mesma molécula de DNA. Em outras palavras, pode-se retirar genes de uma espécie e introduzir em um microrganismo que, depois, irá se multiplicar e produzir cópias desse gene e, consequentemente, seu produto. Trata-se de um processo simples baseado em dois tipos de enzimas: enzimas de restrição e a enzima DNA ligase.
Com essa técnica é possível introduzir um gene humano em uma bactéria para que produza uma determinada proteína humana.
DNA complementar
A técnica de DNA complementar tem a finalidade de facilitar a produção de proteínas de seres eucariontes em microrganismos. Como os microrganismos não têm mecanismos de maturação do RNA, quando lhes são introduzidos genes de eucariontes, eles fazem sua transcrição ininterruptamente. Em outras palavras, eles vão ler os intrões (zonas não codificantes de proteínas) e os exões (zonas codificantes de proteínas).
RCP (Reação em Cadeia Polimerase)
A técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR) possibilita novas estratégias de análises de genes no campo da tecnologia do DNA recombinante. A técnica pode ser considerada como um meio de clonagem. Está baseada na ampliação do DNA, replicando-o, e seu processo contém três fases: a fase de desnaturação, a fase Hibridização e a terceira em que é utilizada a DNA polimerase.
Bombardeamento de partículas
No método de bombardeamento, micropartículas de um metal, geralmente ouro ou tungstênio, são revestidas por fragmentos de DNA que contém genes selecionados. Por meio de um aparelho, ocorre a aceleração em altas velocidades das partículas, que bombardeiam o tecido vegetal que deverá sofrer a transformação. Depois, as partículas penetram nas células e libertam fragmentos de DNA. As células, então, assimilam os genes e parte deles passa a integrar o genoma.
Há transgênicos sendo comercializados?
Atualmente, é bastante comum vermos alimentos transgênicos sendo produzidos e comercializados. A soja, o milho, o arroz e o algodão são alguns exemplos de organismos geneticamente modificados mais fáceis de serem encontrados. Quando o produto é derivado de transgênicos, ele traz em seu rótulo um símbolo que indica a transgenia: um triângulo amarelo contendo um T maiúsculo em preto.
Leia Mais: Já ouviu falar sobre o movimento anti transgênicos? Acesse aqui para saber mais.
Riscos e benefícios dos organismos geneticamente modificados
Existe uma discussão complexa sobre a produção de organismos geneticamente modificados. Essa discussão infla ainda mais quando percebe-se que o discurso de que os produtos passariam a ser mais resistentes e com alta qualidade fez com que vários países comprassem a ideia. Além disso, a possibilidade de plantar lavouras inteiras com material genético modificado também contribui para fomentar debates envolvendo diversas questões.
Boa parte das discussões ocorrem porque não há pesquisas suficientes assegurando que o uso de OGM’s não é prejudicial para o ser humano ou para o meio ambiente. Na realidade, há diversos riscos possíveis, como contaminação; transmissão horizontal de genes; declínio de populações endêmicas; exposição de espécies a novos agentes tóxicos ou patógenos; desaparecimento de plantas menos adaptadas; surgimento de novas pragas; perda de biodiversidade; exposição do solo, rios e lagos, que poderiam ser poluídos, etc.
Não à toa, a produção e uso de transgênicos no Brasil carregam diversas controvérsias. Como seus efeitos a longo prazo não são completamente conhecidos, eles poderiam resultar em poluição genética. Além disso, também há o fato de que os alimentos se concentram nas mãos de algumas empresas multinacionais, ocasionando na perda da soberania alimentar das populações.
Porém, apesar da possibilidade de danos, os transgênicos podem trazer alguns benefícios, como: diminuição do uso de agrotóxicos, aumento da produtividade, aumento do valor nutricional de alguns alimentos e tolerância de plantas à condições ruins do meio ambiente.
Além das plantas transgênicas, também existem outros importantes organismos geneticamente modificados que apresentam benefícios, como as bactérias produtoras de insulina, que garantem a obtenção de insulina de uma maneira mais rápida e eficiente, e o Aedes aegypti transgênico, que contém um gene capaz de impedir o desenvolvimento de seus descendentes e de causar sua morte quando atingem a fase adulta.
Legislação brasileira
Segundo o artigo 3º, inciso V, da Lei Federal brasileira nº 11.105, de 24 de março de 2005, OGM é o organismo que teve seu material genético (DNA/RNA) modificado por qualquer técnica da engenharia genética. De acordo com a lei, pelo §1º do mesmo artigo, “Não se inclui na categoria de OGM o resultante de técnicas que impliquem a introdução direta, num organismo, de material hereditário, desde que não envolvam a utilização de moléculas de ADN/ARN recombinante ou OGM, inclusive fecundação in vitro, conjugação, transdução, transformação, indução poliplóide e qualquer outro processo natural”.
A Lei nº 11.105/05 é importante desde antes de sua promulgação, visto que seu objetivo é garantir a vida e a saúde humana, além de destacar a validade da precaução, ao impor restrições à engenharia genética.
Antes da Nova Lei de Biossegurança, o Estudo de Impacto Ambiental (EIA), em face da Resolução 305/02 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), era obrigatório. Depois que a Lei 11.105/05 foi implementada, passou a ficar a cargo da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) decidir se o estudo de impacto ambiental é necessário ou não.
Os organismos geneticamente modificados devem cumprir as normas de biossegurança e mecanismos de fiscalização, previstos no art. 1º da Lei n.º 11.105/05 , que fiscaliza a produção, o cultivo, a comercialização, o armazenamento, a manipulação, o consumo, a importação, a exportação, a transferência, o transporte, a pesquisa, a liberação no meio ambiente e o descarte desses organismos. Esse cuidado é necessário para evitar que a presença de organismos geneticamente modificados cause danos ao meio ambiente.
A Lei nº 11.460/07 proíbe que sejam feitos pesquisa ou cultivo de OGM´s em terras indígenas e em Unidades de Conservação. O Poder Executivo estabelece o limite para o plantio de OGM´s no entorno de UC’s em Áreas de Proteção Ambiental (APA´s).
Conclusão
Embora alguns ambientalistas afirmem que os organismos geneticamente modificados podem apresentar riscos para o meio ambiente e para a saúde humana, também existe a afirmação de que eles trazem diversos benefício. O que sabemos é que a tecnologia proporcionada pela engenharia genética representou um grande avanço para a sociedade. Nos resta esperar para saber como vão ficar os próximos capítulos da história.
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