O Engenheiro Agrônomo, profissional protagonista nos diferentes processos e sistemas produtivos, desempenha papel fundamental para que a nação seja capaz de produzir alimentos na quantidade, diversidade e qualidade nutricional demandas pelo povo, o que é fundamental para garantir segurança alimentar e uma população com alto padrão em nutrição e saúde.
Ou seja, mais que desenvolver pesquisas e dar suporte técnico para que o agronegócio maximize seu lucro e a balança comercial brasileira continue positiva, esse profissional tem grande papel estratégico e político.
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Agronomia e Segurança Alimentar
A alta capacidade produtiva do Brasil, resultado de um agronegócio pujante e inovador, passa uma clara mensagem para o mundo: somos capazes de produzir todas as calorias de que precisamos e, ainda, sobra-nos para exportar como excedente.
Em termos de política internacional isso significa que nosso país pode gozar de segurança alimentar, sendo capaz, por exemplo, de auto suprimento em caso de conflitos ou embargos econômicos; ou seja, dificilmente isolamentos estratégicos, como aquelas aplicados sobre o Reino Unido durante as Grandes Guerras, teriam poder dissuasório sobre as estratégias militares do Brasil.
A segurança alimentar possui duas dimensões: acesso e qualidade. A primeira envolve o direito constitucional a todos garantido de, regular e permanentemente, acessarem os alimentos nas quantidades necessárias a uma vida plena, sem o comprometimento de outras necessidades básicas, de acordo com suas preferências e culturas, em um contexto sustentável. A segunda, por sua vez, diz respeito à inocuidade dos alimentos em seus aspectos físico, químico e microbiológico.
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O Engenheiro Agrônomo, quando de sua atuação em fazendas, sistemas de armazenamento, comercialização de insumos, etc., está viabilizando o acesso.
Já quando de sua atuação como servidor público ou assistente técnico que:
- fiscaliza ou orienta sobre aplicação e uso de produtos fitossanitários;
- resíduos em produtos de origem vegetal;
- qualidade de fertilizantes e afins;
- adequação dos sistemas às normas necessárias para obtenção de determinados selos (como o selo de produto orgânico, por exemplo), etc., está viabilizando a qualidade.
Agronomia e Nutrição Humana
A academia contemporânea, quando fragmentou o conhecimento sobre os alimentos, deixou a produção vegetal e a nutrição mineral de plantas no campo da Agronomia; a importância desses produtos na nutrição humana, suas composições e qualidades, por sua vez, foram sistematizados como subárea da saúde.
No entanto, com o avanço da tecnologia e um melhor mapeamento dos problemas nutricionais que afligem a humanidade, está cada vez mais difícil separar os papéis de Engenheiros Agrônomos, Agricultores, Nutricionistas e Médicos: deficiências de nutrientes nos solos, cultivos e animais contribuem significativamente para as deficiências encontradas nos seres humanos.
Os nutrientes minerais, vitaminas, carboidratos, proteínas, lipídios e fibras dos quais dependemos (para as diversas funções mantenedoras de nossa estrutura física) são obtidos indiretamente, através do consumo de organismos que produzimos de maneira ordenada e racional.
Isso significa que maior qualidade em nossas lavouras e criações implica maior qualidade em nossas mesas.
Por exemplo, quando a adubação é bem feita, com base no princípio da prescrição, adotando-se análises (de solo e folha) confiáveis e fertilizantes de alta qualidade, o Engenheiro Agrônomo está utilizando a ciclagem de nutrientes e o fluxo de energia de maneira a favorecer a boa nutrição dos consumidores finais.
Ciência e a Nutrição Humana
Porém, a ciência sempre pode ir mais longe e, nesse caso em particular, pesquisadores agropecuários estão empenhados em desenvolver genótipos vegetais capazes de minimizar ou erradicar os principais problemas nutricionais que comprometem a saúde de diferentes comunidades no país: são os chamados alimentos biofortificados.
O caso mais notório no país é a Rede de Biofortificação, coordenada pela EMBRAPA, que desenvolveu alguns projetos de sucesso:
1). Mandioca e batata doce mais ricas em carotenóides;
2) Milho quality protein maize (QPM) rico em lisina, triptofano e pró-vitamina A;
3) Arroz, feijão, milho, trigo e feijão-caupi mais ricos em ferro e zinco.
Outras estratégias científicas que merecem destaque são:
1) Enriquecimento de fertilizantes com micronutrientes, pois cada vez mais a construção/manutenção da fertilidade e as boas práticas de microfertilização são pensadas como passo fundamental na nutrição humana;
2) Aplicações de culturas probióticas, com o objetivo de criar ambiente mais favorável às culturas e melhorar a eficiência de uso dos elementos disponíveis;
3) Pasto e ração enriquecidos, como estratégia para que os nutrientes fornecidos aos rebanhos retornam aos consumidores de produtos de origem animal.
Agronomia e Saúde
Há um crescente e irreversível interesse dos consumidores e dos pesquisadores pela estreita relação entre alimentação e saúde.
Bons alimentos reduzem os risco de desenvolvimento de doenças crônicas (diabetes, câncer e doenças cardiovasculares), melhoram significativamente o desempenho mental e físico de pessoas em diferentes faixas etárias, retardam o envelhecimento, fortalecem o sistema imunológico, aumentam em muitos anos a expectativa de vida, dentre inúmeros outros benefícios.
Quando a produção agropecuária é pensada como política pública de saúde, o acesso a alimentos de qualidade passa a ser visto como a principal estratégia de combate às doenças resultantes de deficiências nutricionais e aos quadros de comprometimento das funções motoras e cognitivas das populações mais vulneráveis.
Isso também significa redução de custo significativa para o Estado: a má nutrição resulta em gastos equivalentes a 5% do PIB mundial (3,5 trilhões de dólares por ano) para que os governos consigam tratar das mazelas resultantes da privação de alimentos de qualidade.
A Agronomia e a Ciência dos Alimentos, assim, ganharam nova dimensão, sendo pensadas como conjuntos de conhecimentos geradores de produtos que podem resultar em melhor qualidade de vida e em menores gastos das famílias com tratamentos médicos e medicamentos em geral.
Homem Como Componente do Sistema
O ser humano não está à parte da natureza, embora tendamos a pensar dessa forma, deslocando-nos do papel de componentes do nível final de diferentes cadeias tróficas agropecuárias.
Essas arrogância, porém, não soluciona o fato de que solos pobres resultam em alimentos pobres e, consequentemente, em humanos desnutridos e doentes.
Por isso, nossos Engenheiros Agrônomos, como construtores de fertilidade em solos tropicais, evitam o esgotamento das reservas minerais da camada arável, capaz de promover, se não corrigida, surtos sérios de doenças e problemas de desenvolvimento em crianças e jovens.
Afinal, carências e excessos minerais resultam em patologias, notadamente em doenças degenerativas, como fibrose cística, cerebroplasia, diabetes, osteoporose, cardiomiopatia, atrofia testicular, dentre inúmeras outras.
Por conta disso, o interesse da Agronomia está, a cada ano, mais voltado para o desenvolvimento de maneiras práticas de mensurar e aplicar, aos sistemas produtivos, a Lei da Qualidade Biológica, que diz:
A fertilização deve ter como objetivo melhorar a qualidade biológica dos alimentos, pois desequilíbrios nutricionais nas culturas implicam problemas na saúde da população.
A preocupação exclusiva com a produtividade pode acabar originando alimentos com menor conteúdo nutricional e, por isso, cada vez mais, governos e consumidores se preocuparão com os indicadores de qualidade que vão além da ausência de resíduos, da produção em contexto sustentável e socialmente justo e do preço: talvez, muito em breve, tenhamos selos, premiações e preços diferenciados para produtos de origem animal e vegetal particularmente mais nutritivos.
Autoria do redator do Ifope:
Elialdo Alves de Souza
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