Você já deve ter ouvido o termo food safety ou alimento seguro em conversas com pessoas ligadas à área de alimentos, ou ter visto esses termos em pesquisas e até mesmo na mídia. Mas, se ainda está confuso e não compreendeu sua importância, vamos te explicar tudo agora!
A definição de alimentação saudável não deve se limitar à variedade de nutrientes, balanço de calorias e restrição do consumo de conhecidos vilões da nutrição como sal, açúcar e gorduras. O atestado de alimento saudável engloba também a garantia da segurança do alimento (Food safety), ou seja, práticas adequadas de manuseio, preparo, armazenamento e distribuição que devidamente aplicadas previnem a contaminação do alimento.
Alimento seguro, segundo o Codex Alimentarius, é o alimento que não causará danos à saúde do consumidor após ingestão.
É importante não confundirmos o termo alimento seguro ou segurança de alimentos – food safety, com o termo segurança alimentar – food security, que trata da disponibilidade do alimento para a população. Essa questão já foi discutida pelo Ifope e para entender em detalhes essa diferença acesse o post Segurança de alimentos ou segurança alimentar: entenda de vez a diferença.
Alimento inseguro
Existem três classificações de possíveis contaminantes dos alimentos: os perigos químicos, físicos e biológicos.
Perigos químicos
Remetem à utilização ou presença de substâncias químicos, seja no cultivo ou no processamento do alimento.
Exemplos de perigos químicos são:
- resíduos de agrotóxicos;
- resíduos de material de limpeza das linhas de produção;
- metais pesados;
- e substâncias alergênicas.
Perigos físicos
Materiais com dimensão especificada em contato com o alimento em alguma etapa da cadeia produtiva.
Exemplos de perigos físicos são:
- pedras;
- plástico;
- metal;
- e madeira.
Perigos biológicos
Bactérias, fungos, vírus e parasitas inerentes à matéria-prima ou presentes no ambiente de processo que causam alguma patogenia.
Exemplos de perigos biológicos são Listeria monocytogenes, Clostridium botulinum e Salmonella enterica.
A presença desses contaminantes no alimento pode levar o indivíduo que o consumir a desenvolver uma Doença Transmitida por Alimentos (DTA). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) mundialmente 1 em cada 10 pessoas adoecem após consumir um alimento contaminado a cada ano, resultando em cerca em 420.000 mortes por ano.
Vale ressaltar que o food safety trata de contaminações acidentais, quando não há intenção prévia ou vantagem econômica por trás da presença do perigo no alimento. Contaminações intencionais e adulterações são abordagens do food defense e food fraud, respectivamente.
Gestão da qualidade nas indústrias
Com o objetivo de garantir a isenção de contaminantes e assegurar a integridade do alimento disponibilizado ao consumidor, que está cada vez mais informado, seletivo, e consciente de suas opções de compra, as indústrias têm incorporado controles de food safety em sua gestão da qualidade.
Vejamos de que forma.
Boas Práticas de Fabricação – BPF
As boas práticas de fabricação são o conjunto de normas higiênico-sanitárias a serem implementadas na indústria através dos Procedimentos Operacionais Padrões – POPs no que diz respeito, mas não se limitando, aos itens listados a seguir:
- Higiene das instalações, equipamentos, móveis e utensílios;
- Controle da potabilidade da água;
- Higiene e saúde dos manipuladores;
- Manejo dos resíduos;
- Manutenção preventiva e calibração dos equipamentos;
- Controle integrado de vetores e pragas urbanas;
- Seleção das matérias-primas, ingredientes e embalagens;
- Programa de recolhimento de alimentos – Recall.
Fonte: RDC nº 275, de 21 de outubro de 2002 – Anvisa
Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle – APPCC
Ferramenta criada pela empresa americana Pillsbury para garantir a segurança dos alimentos fornecidos aos astronautas em missão pela agência espacial norte-americana – NASA, e que atualmente é adotada em indústrias do todo o mundo como aliada essencial no gerenciamento de contaminantes.
O APPCC, ou do inglês HACCP, é baseado em uma série de princípios que, resumidamente, orientam à:
- análise crítica e minuciosa das etapas de processo, desde o fornecimento de insumos até a comercialização dos produtos;
- identificação dos perigos químicos, físicos e biológicos em cada etapa, considerando sua probabilidade de ocorrência versus seu nível de severidade em caso de ocorrência;
- implementação de limites e pontos de controle desses perigos em etapas críticas, caso não seja possível eliminá-los anteriormente.
- elaboração de procedimentos de monitoramento, ação corretiva e verificação dos pontos críticos implementados.
Certificações
Uma forma efetiva de incluir controles relacionados à segurança de alimentos na rotina dos processos produtivos, e de quebra aumentar a confiabilidade dos produtos perante o consumidor e o mercado, é através da certificação em uma norma food safety reconhecida pela GFSI – Global Food Safety Initiative.
A GFSI é uma iniciativa do Fórum de Bens de Consumo (CGF) que tem como objetivo melhorar a segurança dos alimentos e a eficiência dos negócios alimentares globais. Ela reconhece programas de certificação que atendem aos seus requisitos, voltados à food safety, assim como desenvolve e compartilha conhecimento em segurança de alimentos com as diversas partes interessadas ao redor do mundo.
Com a implementação de normas food safety por parte dos fabricantes, os produtos tornam-se mais confiáveis e seguros e o mercado ganha transparência e padronização. Atualmente, algumas das normas reconhecidas pela GFSI são a BRCGS, FSSC 22000 e a IFS International Featured Standards.
Falhas acontecem
Quando os controles não são aplicados adequadamente ou falhas setorizadas ocorrem, e produtos com risco ou comprovada capacidade de danos à saúde do consumidor chegam às gôndolas dos mercados, os fabricantes têm a obrigação de promover seu recolhimento da cadeia de distribuição, ou seu recall quando os consumidores já se encontram de posse do produto .
O Boletim Recall 2019 divulgado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública indica que o setor de alimentos foi o 3º colocado em número de produtos defeituosos colocados no mercado entre 2014 e 2018, com um total de 14 campanhas de recall realizadas no período.
Exemplos de recall realizados recentemente são:
- Cortes congelados de frango da marca Perdigão retirados do mercado por risco de presença de Salmonella enteritidis, campanha realizada em fevereiro de 2019.
- Salgadinhos Fandangos presunto da marca Elma Chips com certa quantidade de proteína do leite, porém sem a informação de CONTÉM LEITE no rótulo, campanha realizada em novembro de 2019.
- Cervejas de diversas marcas da Cervejaria Backer recolhidas por risco de intoxicação exógena por dietilenoglicol, campanha realizada em janeiro de 2020.
Um desafio contínuo na rotina das empresas produtoras e distribuidoras de alimentos, o food safety é um importante sistema de gestão que demanda responsabilidade e comprometimento de toda a cadeia fornecedora, e tende a ficar cada dia mais rigoroso com o aprimoramento e o desenvolvimento de novos controles visando o bem-estar e a integridade dos consumidores.
Autoria do redator do Ifope:
Tatiele Borges Pereira
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