A calagem é um dos assuntos que mais que caem em concursos agrônomos na categoria solos, junto com adubação, fertilidade e conservação. Por ser um assunto relativamente simples, muitas das provas acabam pegando os candidatos em minuciosidades. Por isso, é essencial entender o assunto sob diferentes pontos de vista e estar confiante de seus conhecimentos na área.
Ah, antes de ler esse artigo, recomendamos que você entenda melhor sobre análise do solo, pois é somente a partir dela que você irá conseguir determinar bem os aspectos da calagem a ser realizada. Então, continue com a gente, pois nesse conteúdo você vai encontrar: o que significa calagem, para que ela serve, como conduzir uma, como ela aparece em concursos de agronomia e muito mais!
O que significa calagem?
A própria etimologia da palavra já explica: calagem significa misturar cal na terra. A cal é um produto em forma de pó fino, que só pode ser obtido industrialmente a partir da calcinação ou queima completa do calcário. Assim, a cal virgem (ou cal viva) é normalmente composta de óxido de cálcio (CaO) e óxido de magnésio (MgO).
A cal é considerada um composto de caráter básico, porque, quando misturada com água, forma uma base: o hidróxido de cálcio, Ca(OH)2, também conhecido como cal hidratada. Agora que você já entende sobre a calagem e a cal e como esse composto se comporta, você pode compreender melhor para que serve a calagem.
Para que serve a calagem?
A Cal, quando entra em contato com ácidos na presença de água, inicia uma reação de neutralização. Assim, a calagem serve para controlar a acidez no solo. Um solo ácido é aquele com pH abaixo de 5,5. Confira abaixo a reação química que ocorre no processo de calagem:
Fonte: Fundação MT
- Observação: é importante ressaltar que solos alcalinos também não são ideais para o cultivo. O recomendado é que o pH do solo fique sempre entre 6 e 7.
Mas, porque um solo ácido é ruim? A acidez significa a presença excessiva de íons H+ e Al+3, que acabam dificultando a absorção de nutrientes pelas plantas, fazendo com que o crescimento e produtividade sejam prejudicados. Para entender melhor, confira esse gráfico que apresenta a relação entre a disponibilidade de nutrientes no solo e o pH:
Fonte: Malavolta (1980)
Isso acontece, pois os íons H+ e Al+3 conseguem se ligar mais facilmente aos nutrientes do que a absorção deles pelas plantas, diminuindo a disponibilidade de nutrientes.
Solos podem ser ácidos por diversos motivos. Dentre eles estão:
- Uma questão natural e particular daquele solo pela falta de bases trocáveis na região;
- Intensificação dos processos de intemperização, que aumentam as taxas de hidrogênio e alumínio no solo;
- Exploração agrícola que gera exportação e pela lixiviação de nutrientes do solo (bases trocáveis);
- Intensificação do ciclo da matéria orgânica do solo;
- E aplicação de fertilizantes que tenham efeito acidificante.
No geral, você poderá se deparar com duas situações principais: solos naturalmente ácidos que precisam ser preparados para o cultivo agrícola e solos já muito explorados em produção agrícola que precisam de manutenção e recuperação para continuarem sendo produtivos. Então, confira um dos principais efeitos da calagem no solo:
- Aumento da disponibilidade de nutrientes essenciais;
- Melhora a absorção de água e nutrientes pelas plantas;
- Diminui os efeitos ruins do manganês e alumínio;
- Diminui a compactação do solo;
- Promove a proliferação da microbiota saudável e matéria orgânica no solo.
Agora que você entendeu bem para que serve a calagem e até mesmo seus efeitos no solo, você precisa entender como conduzir o processo de calagem em uma lavoura.
Como conduzir uma calagem no solo?
Existem diversas etapas que devem fazer parte do processo de calagem e uma delas é a análise do solo, que já mencionamos por aqui. É bom lembrar que esse processo deve acontecer pelo menos 3 meses antes do plantio. Isso porque é necessário esperar que a reação chegue ao subsolo para garantir o bom desenvolvimento das raízes, por exemplo.
- Amostragem do solo: o primeiro passo é fazer a coleta das amostras do solo, que sempre deve ser feita em zigue-zague, coletando o mesmo volume, à mesma profundidade.
- Encaminhamento: após fazer a homogeneização das amostras, você precisa as encaminhar para o laboratório, embaladas corretamente para evitar contaminação com outros compostos. Todas devem ser identificadas com data, responsável e local de coleta.
- Análise e decisão da estratégia: com a análise do solo pronta e em mãos, você deverá decidir o tipo de calcário a ser usado, se terá mais ou menos magnésio e qual será o Poder Relativo de Neutralização Total (PRNT).
- Escolha do fornecedor: escolher onde comprar o produto é também muito importante, pois adiciona valor no projeto no transporte, por exemplo. Por isso, sempre considere o valor do transporte no planejamento.
- Realização: agora, você deve aplicar o calcário e incorporar até, no mínimo, 20 cm de profundidade no solo. Existem duas formas de fazer isso: manualmente, que é a calagem feita a lanço; e por aração e gradagem, que conta com a ajuda de máquinas e é mais rápida, efetiva e mais usada atualmente.
O PRNT normalmente também é um indicador da qualidade daquele calcário, quanto maior o PRNT, melhor a qualidade e a reação de neutralização também ocorrerá melhor e mais rápido.
Tipos de calcário para calagem
O calcário pode ser classificado de 3 formas, de acordo com a porcentagem de cálcio e magnésio presente nele, veja:
- Calcítico: acima de 40% de cálcio e até 5% de magnésio
- Magnesiano: no mínimo 30% de cálcio e magnésio até 12%
- Dolomítico: cálcio no mínimo em 25% e magnésio acima de 12%
Vamos entender agora os tipos de cal por nome comercial:
- Cal virgem: é a que mencionamos no início desse artigo, que só pode ser extraído de forma industrial. A absorção é instantânea e a reação deste composto com o solo gera calor, por isso, é necessário que o solo não esteja plantado ainda.
- Cal hidratada: é a cal do tópico anterior com adição de água. A absorção também é instantânea neste caso.
- Calcário calcinado: ocorre pela calcinação parcial do calcário, apresenta um PRNT menor do que a cal virgem, mas é mais barata, pelo custo de produção ser menor.
- Escória de siderurgia: é um subproduto de indústria que utiliza ferro e aço. O cálcio e o magnésio se apresentam em silicato e é necessário tomar cuidado com a qualidade para não acontecer contaminação por metal pesado.
- Carbonato de cálcio: obtido de forma natural, ele vem da moagem de margas, corais e sambaquis. O uso de calcário nesse formato é menos usual, até mesmo por ser pouco ético em questões ambientais e, principalmente, marinhos.
Como a calagem aparece em concursos de agronomia?
Vamos conferir agora duas questões que exemplificam como o tema da calagem cai nos concursos de agronomia. Veja:
INEP (2010) ENADE – Agronomia
“O uso do calcário é boa opção para corrigir, em pastagens, as deficiências de cálcio e magnésio. Porém, a cal não corrige a superfície em tempo razoável para evitar que o pecuarista corra riscos de perda de produtividade das suas pastagens em razão dos veranicos, uma vez que as raízes das plantas, principalmente as leguminosas forrageiras, só crescem até onde o calcário foi incorporado. Em solos onde foi aplicado calcário e com acidez superficial corrigida, ao se aplicar gesso, após a sua dissolução, o sulfato movimenta-se para camadas inferiores, acompanhado por cátions (Figura 1 ).
A respeito de corretivos de solo em pastagens e com base nas figuras 1 e 2, avalie as afirmativas a seguir.
I. A aplicação do gesso supre o solo com cálcio até as camadas mais profundas, ao se dissolver na água da chuva ou irrigação, infiltrando-se no solo, favorecendo o aprofundamento das raízes e permitindo que as plantas superem o veranico, quando em condições de sequeiro.
II. Além da água, os nutrientes também são absorvidos com maior eficiência, após a aplicação do gesso.
III. Com a movimentação de cátions para a subsuperfície, após a aplicação do gesso, os teores de cálcio e de magnésio diminuem e a toxidez de alumínio aumenta, prejudicando o ambiente radicular.
IV. Quando o gesso é aplicado com critério, nas doses recomendadas para cada solo, não se tem observado movimentação de potássio e magnésio no perfil do solo em níveis que possam trazer problemas oriundos desses nutrientes.
É correto apenas o que se afirma em
a) I e III.
b) I e IV.
c) II e III.
d) I, II e IV.
e) II, III e IV.
Gabarito: letra D.
VUNESP – 2013 – MPE-ES – Agente Técnico – Engenharia Agronômica
Em relação à calagem, assinale a alternativa correta:
- Segundo a legislação brasileira, os calcários são classificados quanto à concentração de óxido de magnésio (MgO), quanto ao poder relativo de neutralização total (PRNT) e quanto a sua granulometria.
- Na determinação do valor de necessidade de calagem no sistema plantio direto, deve-se levar em consideração a cultura mais tolerante às condições de acidez do solo que faz parte do sistema de rotação.
- Devido à alta solubilidade, o calcário pode ser utilizado em qualquer época do ano, desde que haja umidade no solo para permitir sua reação, distribuindo-o na superfície do solo, para que possa percolar lentamente para as camadas mais profundas do solo.
- Ainda que o calcário apresente um PRNT menor, para o agricultor, a aquisição de um calcário mais barato, mesmo que o tempo de neutralização da acidez seja mais lento, gera economia, uma vez que são utilizadas grandes quantidades desse insumo.
- A calagem contribui, entre outros fatores, para a elevação da eficiência dos fertilizantes e para o aumento da disponibilidade de nutrientes existentes no solo, elevando a produtividade e a rentabilidade da atividade agrícola.
Gabarito: letra E.
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